Politica

Para Lewandowski, ex-tabelião acusado de homicídio deve reassumir cartório

Maurício Borges Sampaio, presidente do Clube Atlético Goianiense já foi preso duas vezes acusado de homicídio, desvio de dinheiro e improbidade administrativa; para presidente do STF, ele deve voltar ao 1º Tabelionato de Protestos e Registro de Títulos e Documentos de Goiânia, apesar de determinação em contrário do CNJ

Eduardo Militão
postado em 20/01/2016 11:13

Sampaio, presidente do Atlético-GO, é acusado de mandar matar radialista

Às vésperas de entrar em férias, o presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), Ricardo Lewandowski, tomou uma decisão polêmica. No plantão da Corte, decidiu que um ex-tabelião que já foi preso duas vezes ; e é acusado de homicídio, desvio de dinheiro e improbidade administrativa ; deveria voltar ao cartório que ocupava, mesmo após três ordens do Conselho Nacional de Justiça (CNJ) determinarem sua saída do cargo além de duas decisões do próprio STF. A Constituição de 1988 determina que somente concursados podem dirigir os tabelionatos, o que não é o caso do presidente do Clube Atlético Goianiense, Maurício Borges Sampaio.

Leia mais notícias em Política

Na decisão, Lewandowski referendou uma ordem judicial de 2009, concedida por um juiz que considerou que o CNJ puniu por ;ter tomado decisões que beneficiaram em valores expressivos um único cartório; (veja linha do tempo), no caso o de Sampaio. Com a decisão de Lewandowski, o cartola deve retornar este mês para o 1; Tabelionato de Protestos e Registro de Títulos e Documentos de Goiânia, do qual está afastado há pelo menos três anos.

A assessoria do STF disse ao Correio ontem que a decisão do presidente da Corte foi ;tomada apenas com informações constantes dos autos;. No processo citado, há uma decisão do relator, Teori Zavascki, contrário ao retorno de Sampaio ao cartório e um parecer do procurador-geral da República, Rodrigo Janot, na mesma direção. Ambas as manifestações não foram mencionadas por Lewandowski na decisão. Em outro processo semelhante, o então ministro do Supremo Ayres Britto negou pedido ao ex-tabelião.

Depois de vários ;nãos; do CNJ, do próprio STF e do Ministério Público, Sampaio recorreu ao Supremo no recesso, em 4 de janeiro. Anexou um atestado médico e disse que seus problemas de saúde estavam se agravando. A decisão de Lewandowski saiu 10 dias depois, em 14 de janeiro. Nesta semana, o ministro entrou em férias e só retorna em 1; de fevereiro. O atual titular do cartório, Naurican Lacerda ; que ingressou no cargo por concurso público ;, recorreu e seu pedido deve ser analisado pela presidente interina do STF, Cármen Lúcia, ou a partir do mês que vem pelo relator do caso, Teori.

Segundo Lewandowski, o CNJ não poderia afastar Maurício Sampaio do cartório por ser um órgão administrativo e haver uma determinação judicial pela permanência do tabelião no cargo. A decisão transitou em julgado ; ou seja, não cabiam mais recursos ; e foi proferida pelo ex-juiz Ari de Queiroz. Ele foi afastado do cargo em 2013 e retomou suas funções em 2014 com uma liminar de Lewandowski. Em 2015, o CNJ o puniu com aposentadoria compulsória por beneficiar Sampaio. Na decisão de agora, o presidente do STF diz que o Conselho Nacional de Justiça não pode ;intervir em processos de natureza jurisdicional;. ;O CNJ, órgão de natureza meramente administrativa, (...) deveria ter observado os efeitos da decisão judicial transitada em julgado;, afirmou o ministro.

A advogada de Sampaio, Flávia Quinan, comemorou a decisão e negou ter usado a estratégia de pedir uma decisão a um magistrado que não conhece o caso. ;Demorou, mas se fez justiça;, disse ela ao Correio, que não quis comentar os processos criminais de seu cliente. Sampaio não retornou recados deixados em seu telefone. O titular do cartório, Naurican Lacerda, recorreu ao Supremo. ;Causa estranheza a decisão liminar do ministro;, avaliou. ;Certamente o presidente do STF não sabia que há decisão determinando o afastamento do ex-interino e que o cartório já havia sido provido por um titular concursado.;


Cronologia //

Maurício Sampaio é polêmico ex-tabelião e cartola goiano envolvido em casos de homicídio, peculato, afastamento e ameaças de morte

1982
; O 1; Tabelionato de Notas e Protestos e Registros e Títulos de Goiânia passa a ser dirigido interinamente por Maurício Sampaio, filho do tabelião

1988
; A Constituição determina que os tabeliães interinos devem deixar os cartórios e ceder espaço aos concursados

2008

; O CNJ determina que o 1; Tabelionato e demais cartórios ocupados por não concursados estão vagos e devem ser dirigidos por quem foi aprovado em concurso. Com base nisso, o TJ de Goiás baixa um decreto

2009

; O juiz Ari de Queiroz cassa o decreto do TJ e determina que Maurício Sampaio mantenha seu cartório

2010

; O CNJ mantém a ordem para que o 1; Tabelionato seja ocupado por um concursado

2012
; O CNJ confirma a decisão de 2008

Julho de 2012
; O radialista esportivo Valério Luiz é assassinado. Ele fazia críticas à direção do Clube Atlético Goianiense, integrada por Sampaio

2 de fevereiro de 2013

; Sampaio é preso suspeito de mandar matar Valério Luiz. Acaba solto 26 dias depois

1; de março de 2013
; Sampaio é preso de novo, mas acaba solto dias depois

Maio de 2013

; O CNJ determina a saída de Sampaio após uma fiscalização que encontrou prejuízos causados pelo cartório de R$ 7 milhões aos consumidores. O tabelionato passa a ser dirigido por um interventor, Irismar Dantas de Souza

6 de junho de 2013

; Sampaio recorre ao Supremo Tribunal Federal com um mandado de segurança

26 de setembro de 2013
; O relator do caso no STF, Teori Zavascki, nega a liminar e a volta de Sampaio ao cartório

8 de outubro de 2013
; CNJ afasta o juiz Ari de Queiroz, suspeito de beneficiar indevidamente o cartório de Sampaio

2 de maio de 2014
; O interventor do cartório, Irismar Dantas, registra boletim de ocorrência na polícia acusando Sampaio de ameaçá-lo de morte

Maio de 2014

; Após concurso público, o tabelião Naurican Lacerda assume o cartório

3 de junho de 2014
; Sampaio é denunciado pelo Ministério Público por peculato por causar prejuízos de R$ 7 milhões aos consumidores com taxas excessivas durante a sua gestão no cartório. Os promotores pedem sua prisão, que é negada

13 de junho de 2014
; O procurador-geral da República, Rodrigo Janot, é contra o mandado de segurança e a volta de Sampaio ao cartório

8 de agosto de 2014
; Justiça manda caso de Sampaio para júri popular pela morte do radialista. Decisão é confirmada em 2015.

20 de agosto de 2014

; Justiça bloqueia bens de Sampaio e de familiares em ação de improbidade administrativa. Promotoria diz que, só com contratos de trabalho fraudados, o ex-tabelião desviou R$ 2,1 milhões

24 de março de 2015

; O CNJ pune o juiz Ari de Queiroz com a aposentadoria obrigatória por ;tomar decisões que beneficiaram em valores expressivos um único cartório;, o de Sampaio.

4 de janeiro de 2016
; Alegando problemas de saúde, Sampaio pede ao ministro do STF Ricardo Lewandowski uma liminar no plantão

14 de janeiro de 2016
; Ricardo Lewandowski concede a liminar e determina a volta de Sampaio para o cartório

Tags

Os comentários não representam a opinião do jornal e são de responsabilidade do autor. As mensagens estão sujeitas a moderação prévia antes da publicação