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Em Operação Acarajé, PF mira em ex-chefe de gabinete de Gabrielli

Um relatório subscrito pelo delegado federal Filipe Hile Pace, que conduz o inquérito da Acarajé, revela laços estreitos de Trípodi e do operador de propinas Zwi Skornicki

Agência Estado
postado em 24/02/2016 09:27
A Operação Acarajé, da Polícia Federal, mira em Armando Trípodi - emblemático personagem da Lava Jato citado no capítulo que envolveu o então presidente nacional do PSDB, senador Sérgio Guerra (morto em 2014) em suposta chantagem de R$ 10 milhões para engavetar a Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Petrobras, em 2009.

Esse dinheiro, segundo revelou o delator Paulo Roberto Costa, ex-diretor de Abastecimento da estatal petrolífera, teria sido usado para abastecer a campanha tucana de 2010.



Trípodi teria dado sinal verde para Paulo Roberto levantar recursos desviados da estatal e fazer o repasse a Guerra. Na época, ele exercia a função de chefe de gabinete do presidente da Petrobras, José Sergio Gabrielli. Na segunda-feira passada, dia 22, a PF deflagrou a Acarajé e a Petrobras demitiu Trípodi da função de gerente executivo de Responsabilidade Social.

Um relatório subscrito pelo delegado federal Filipe Hile Pace, que conduz o inquérito da Acarajé, revela laços estreitos de Trípodi e do operador de propinas Zwi Skornicki.

O alvo maior da nova fase da Lava Jato é o publicitário João Santana, marqueteiro das campanhas presidenciais de Lula em 2006 e de Dilma, em 2010 e 2014. Santana e sua mulher, Monica Regina Moura, foram presos.

Zwi Skornicki também está preso. Ele teria realizado pagamentos milionários ao casal Santana a pedido da empreiteira Odebrecht por serviços prestados ao PT, segundo os investigadores.

Trípodi foi alvo de buscas da Acarajé. O documento da PF aponta "indícios do oferecimento e efetivo pagamento de vantagem indevida (por parte de Zwi Skornicki) em favor de Armando Trípodi". O relatório assinala expressamente que o ex-chefe de gabinete de Gabrielli recebeu propina "consubstanciada no pagamento da execução de serviços na residência do funcionário público por empresa especializada, sem aparente causa lícita e justificável".

Os investigadores da Acarajé descobriram anotações pelas quais "constata-se que o custo total dos serviços - que envolviam a instalação de aparelhos audiovisuais, de iluminação e de automação -, com o preço dos equipamentos, totalizaria R$ 90 mil

"Chama a atenção a anotação de que a nota fiscal da execução do projeto deveria ser emitida em nome do ;Sr. Armando;, isto é, em nome de Armando Trípodi, muito embora Zwi Skornicki tivesse arcado com parte das despesas sem justificativa lícita e razoável."

O relatório relembra a primeira citação a Trípodi, na delação premiada de Paulo Roberto Costa. Em agosto de 2014, o ex-diretor de Abastecimento da Petrobras relatou que, em 2009, foi procurado pelo então presidente do PSDB, senador Sérgio Guerra, que teria exigido R$ 10 milhões para abafar a Comissão Parlamentar de Inquérito que havia sido instalada para apurar irregularidades nas obras da Refinaria Abreu e Lima, em Pernambuco.

A obra era um dos sete alvos suspeitos na Petrobrás que justificaram a abertura da comissão, em julho daquele ano. Foi a primeira vez que um nome do PSDB apareceu no escândalo de corrupção na Petrobras.

Sérgio Guerra teria sugerido a Paulo Roberto que "tivesse uma conversa" com Armando Trípodi. O delator afirmou que o tucano relatou a ele que o dinheiro abasteceria as campanhas do PSDB em 2010. Naquele ano, o presidente do partido foi o coordenador oficial da campanha presidencial do candidato José Serra. Integrantes da campanha informaram que o ex-senador não fez parte do comitê financeiro.

"Não se pode deixar de destacar que a própria Petrobras, em auditoria interna, apontou o nome de Armando Trípodi como um dos funcionários com indícios de cometimento de irregularidades no âmbito da estatal", assinalou o delegado Filipe Hille Pace.

A defesa de Trípodi não foi localizada para falar sobre a Operação Acarajé. Quando seu nome foi citado no episódio sobre o suposto repasse de R$ 10 milhões para a campanha do PSDB, ele divulgou nota na qual repudiou "com indignação e veemência quaisquer insinuações ou afirmações caluniosas que procurem vincular meu nome a práticas criminosas".

"Esclareço, em definitivo, que jamais tive qualquer contato com o senador Sérgio Guerra. Esclareço também que nunca tratei com o ex-Diretor (Paulo Roberto) de qualquer assunto que não fosse relativo à Gestão da Companhia", ressaltou, na época.

Também naquela ocasião, o PSDB divulgou nota defendendo que o caso fosse investigado. "O PSDB defende que todas as denúncias sejam investigadas com o mesmo rigor, independente da filiação partidária dos envolvidos e dos cargos que ocupam", dizia o texto.

A defesa de Zwi Skornicki informou que só vai se manifestar nos autos da Acarajé e que considera desnecessária a prisão. Segundo a defesa, Skornicki é investigado há mais de um ano e sempre ficou no Brasil à disposição das autoridades para prestar todos os esclarecimentos.

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