Naira Trindade
postado em 02/03/2016 07:07
A delação premiada de 11 executivos da segunda maior empreiteira do país, a Andrade Gutierrez, ameaça arrastar a campanha eleitoral de 2010 da presidente Dilma Rousseff para o olho do furacão da Operação Lava-Jato. Investigadores se debruçam sobre a suspeita de pagamento ilícito de prestação de serviços em pleno período eleitoral por meio de contrato fictício. Sob a mira da investigação, está a agência de comunicação Pepper, que trabalhou para campanha da presidente Dilma em 2010, prestando serviço relacionado à comunicação. Segundo o jornal Folha de S.Paulo, para dar aspecto de regularidade ao pagamento da contabilidade, a Andrade produziu um contrato fictício de mais de R$ 5 milhões com a agência Pepper.[SAIBAMAIS]De acordo com trecho da delação premiada, a empresa teria simulado um contrato com uma agência de comunicação para repassar R$ 6 milhões à campanha presidencial. Entre os executivos da empresa que prestam depoimento pelo acordo de colaboração estão Otávio Azevedo, ex-presidente do grupo, e Flávio Barra, ex-presidente da construtora, ambos alvos da Operação Lava-Jato. As delações ainda precisam ser homologadas pela Justiça.
Em 2010, a campanha da presidente Dilma Rousseff declarou ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE) ter feito 16 pagamentos que somam R$ 6,5 milhões entre janeiro e dezembro em serviços prestados pela Pepper. Também na prestação de contas, o comitê financeiro informou, à época, ter recebido três doações da Andrade Gutierrez, entre agosto e outubro, que somaram R$ 5,1 milhões. A triangulação de repasse de valores é considerada por ministros do TSE uma manobra para se fazer caixa dois.
As informações levantadas pelos executivos dizem respeito à campanha cujo mandato já está encerrado. Judicialmente, não há um temor caso se confirme o crime eleitoral ; o mandato referente à eleição sob suspeita já se encerrou. No entanto, há dentro do Palácio do Planalto o medo de que a denúncia sirva de combustível para esquentar ainda mais os ânimos da oposição, já fortalecida em relação ao enfraquecimento do governo. ;O problema é a contaminação do debate político, a oposição que vai fazer barulho, vai criar zona de instabilidade no Congresso e contaminar ministro do TSE;, diz um assessor ligado ao governo.
Estratégia de defesa
Oficialmente, o Palácio do Planalto não comenta o caso, que ainda está em investigação. Interlocutores palacianos afirmam, porém, que a estratégia será desassociar o caso das quatro ações que tramitam no TSE em relação à campanha de 2014. A Presidência teme que sejam constatadas irregularidades. A alegação é de que as contas de 2010 não tiveram o mesmo rigor das de 2014, que já sofriam influência da devassa promovida pela Operação Lava-Jato.
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