Politica

Dezenas de apoiadores fazem vigília em frente ao apartamento de Lula

Uma manifestação de apoio ao ex-presidente foi convocada para a próxima terça-feira

Agência France-Presse
postado em 05/03/2016 10:52
Uma manifestação de apoio ao ex-presidente foi convocada para a próxima terça-feira

São Paulo, Brasil - Obrigado a depor pelo escândalo de corrupção na Petrobras, o ex-presidente Lula, símbolo da esquerda brasileira, pediu aos seus partidários que o apoiem nas ruas, enquanto a oposição ganha força para acelerar a destituição de sua afilhada política, a presidente Dilma Rousseff. Procuradores brasileiros suspeitam que Lula aceitou favores milionários de empresas da construção acusadas de um desfalque na Petrobras, e a pedido deles a polícia fez buscas na manhã de sexta-feira nas casas e escritórios do ex-presidente, de seus sócios e familiares, e o obrigou a depor ante a polícia.

O carismático Lula, que aos 70 anos se encara como eventual candidato à presidência pelo Partido dos Trabalhadores para as eleições de 2018, se declarou ultrajado, e em inflamados discursos afirmou na sexta-feira que "se quiserem me derrotar terão que me enfrentar nas ruas deste país". "A partir de segunda-feira estou disposto a viajar por todo o país. Se alguém pensa que vai me calar com perseguições e denúncias, eu sobrevivi à fome, e quem sobrevive à fome não desiste nunca", disse Lula, que durante a infância foi engraxate, passando a atuar como torneiro mecânico e sindicalista, antes de alcançar a presidência.

Cerca de 500 partidários de Lula estavam neste sábado na frente de seu prédio e gritavam slogans de apoio, constataram jornalistas da AFP. O portal G1 da Globo informa que a presidente Dilma Rousseff irá visitá-lo durante a tarde, embora pessoas próximas a Lula e a presidência não confirmem esta informação.

Uma manifestação de apoio ao ex-presidente foi convocada para a próxima terça-feira, enquanto a oposição prepara há semanas um novo protesto no dia 13 de março para pressionar pela saída de Dilma do governo. Na sexta-feira, dezenas de manifestantes pró e anti-Lula se enfrentaram diante da casa do ex-presidente e na sede da polícia onde ele depôs.

Ímpeto para o impeachment
Os problemas judiciais de Lula enfraquecem ainda mais a presidente Dilma, que conta com apenas 11% de popularidade e está cercada por várias fronts. Ao escândalo na Petrobras que levou à prisão de importantes figuras de seu partido, se soma um processo de destituição contra elas por maquiar as contas públicas, uma crise política que bloqueia sua agenda no Congresso e o Tribunal Superior Eleitoral investiga se o financiamento de sua campanha à reeleição foi ilegal.

Além disso, o Brasil atravessa uma severa recessão econômica que se antecipa como a pior em um século, a inflação alcança os dois dígitos e o desemprego cresce há meses. "A declaração forçosa de Lula dará mais força aos pedidos de impeachment, e a oposição ganha um novo ímpeto para tentar forçar a saída de Rousseff", opinou o analista político André César. O senador opositor Aécio Neves, do PSDB, que perdeu a eleição para Dilma em 2014 por uma pequena margem, anunciou que o Congresso interromperá a partir de segunda-feira as votações até que a comissão de impeachment seja instaurada.



Manobra questionada
Ainda não há acusações formais contra Lula. Os procuradores dizem que há indícios de enriquecimento ilícito e tráfico de influência no âmbito da Operação Lava Jato, que tenta desvendar o esquema de corrupção na Petrobras, mas esclarecem que esta fase é investigativa. A transferência forçada do ex-presidente à Polícia Federal em São Paulo para depor sem intimação prévia foi questionada por juristas e inclusive por um ministro do Supremo Tribunal Federal. "Não se pode obrigar alguém a prestar depoimento quando não está obrigado a fazê-lo. É o caso de Lula, que já prestou depoimento espontaneamente no âmbito deste caso", disse à AFP Thiago Bottino, especialista em direito penal da Fundação Getúlio Vargas (FGV).

O juiz Sergio Moro, a cargo da investigação da fraude da Petrobras que custou à estatal 2 bilhões de dólares, afirma que tomou a decisão de surpreender Lula ao amanhecer em sua casa para evitar tumultos entre manifestantes governistas e da oposição. Michel Mollahem, professor de direito da FGV, estima que esta pressa pode terminar beneficiando o ex-presidente, que assumiu a presidência em 2003 e deixou o poder oito anos depois com 80% de aprovação.

As ações policiais "podem afetá-lo negativamente ou criar uma narrativa heroica de Lula, tudo depende da habilidade dos investigadores de comprovar as suspeitas com provas", disse Mohallem. "O discurso de Lula foi muito forte, tirou o que é de mais autêntico dele, houve uma reação grande ao seu favor nas redes sociais, e talvez tenha reforçado o discurso de mártir, de vítima que vem usando", acrescentou.

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