Eduardo Militão
postado em 11/03/2016 21:36
CURITIBA ; O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva conseguiu evitar, pela terceira vez consecutiva, prestar um depoimento a autoridades das maiores operações de combate à corrupção do país. Essa medida se repete desde o final de janeiro, quando aumentou a crise política ao seu redor, e ele deixou de comparecer a oitivas. Na quinta-feira (10/3), Lula escreveu uma ;declaração, como substitutiva; de seu depoimento marcado para a próxima segunda-feira, perante o juiz da Lava-Jato, Sérgio Moro. O documento foi escrito apresentado nesta sexta-feira (11/3) ao juiz da Lava-Jato no Paraná, Sérgio Moro, pela defesa do pecuarista José Carlos Bumlai. Com base nisso, os advogados do pecuarista desistiram do depoimento, o que foi autorizado pelo magistrado ainda hoje. Na declaração, Lula diz que Bumlai um homem ;honesto;, seu amigo há 14 anos com com quem nunca tratou de ;assuntos políticos; e disse ignorar os interesses dele em sondas, processo a que responde na 13; Vara Federal de Curitiba.Desde o final do ano passado, Lula já foi chamado a prestar seis esclarecimentos espontâneos à Justiça, à Polícia Federal e ao Ministério Público. Nos três primeiros, ele aceitou e fez as declarações, embora de maneira reservada. No Procuradoria da República em Brasília, tratou de suposto tráfico de influência internacional em favor da empreiteira Odebrecht; na PF, em dezembro, o tema eram desvios na Petrobras apurados pela Lava-Jato; foi novamente na polícia, no início de janeiro, para falar sobre a suposta venda de medidas provisórias na Operação Zelotes. Depois, pediu para não comparecer a depoimento da Zelotes na 10; Vara Federal de Brasília, foi ao Conselho Nacional do Ministério Público (CNMP) e à Justiça de São Paulo para não depor perante a Promotoria de São Paulo sobre o triplex no Guarujá.
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Só de maneiro forçada, em 4 de março, é que Lula voltou a falar. Foi levado para depor na PF em São Paulo, durante a 24; fase da Lava-Jato, apelidada de ;Aletheia;. Agora, produziu um documento para subsidiar a defesa de Bumlai a pedir o cancelamento de sua oitiva, agendada semanas atrás. O Instituto Lula disse ao Correio que não comentaria o caso.
;Ofício;
No dia de sua condução coercitiva, Lula disse na sede do PT em São Paulo que a medida era desnecessária, pois Moro poderia apenas lhe mandar um ;ofício; que ele compareceria sem problemas. Investigadores da Lava-Jato duvidaram. Um deles afirmou ao jornal que, se fosse marcado, o ex-presidente ou não apareceria ou aconteceriam tumultos. Outro disse ao Correio que, mais importante que tomar a oitiva de Lula, o objetivo da condução era isolar o petista de outras pessoas também investigadas em inquérito por suspeita de corrupção.
O ex-presidente foi arrolado como testemunha de defesa pelo próprio pecuarista José Carlos Bumlai. O depoimento estava marcado para as 9h30 de segunda-feira (14/3) em São Paulo, por videoconferência, para o juiz Sérgio Moro.
Em declaração assinada por Lula e apresentada pela defesa de Bumali hoje, disse que o documento era feito ;a fim de que seja utilizada no referido processo e onde mais se fizer necessária à sua ilustre defesa;.
Em petição apresentada hoje a Sérgio Moro, os advogados do pecuarista, Daniella Meggiolaro e Conrado Almeida Prado, do escritório de Arnaldo Malheiros, anexam a declaração de Lula e também depoimento que ele prestou à Polícia Federal em dezembro do ano passado sobre inquérito no Supremo Tribunal Federal que apura como um esquema de desvios da Petrobras beneficiou políticos e siglas partidárias. A cópia do documento exibida pelos defensores inclui marca d;água indicado ter sido fornecida ao ex-presidente Lula.
Segundo Arnaldo Malheiros, chefe da banca que defende Bumlai, a iniciativa de desistir do depoimento foi de Bumlai, mas isso agradou ao ex-presidente. ;Evidentemente que gostaram muito da ideia;, afirmou ao Correio na tarde de hoje. O advogado disse que foi a defesa de Lula quem ofereceu a idéia de juntar uma declaração e melhorar a argumentação para evitar o depoimento.
Malheiros disse que o depoimento do petista, hoje, mais atrapalha do que ajuda, porque muita coisa mudou entre a idéia inicial da defesa e o cenário atual. Ele cita a condução coercitiva de Lula, o pedido de prisão feito pela Promotoria em São Paulo e a ;bandeira vermelha na porta; hasteada por militantes do PT quando o ex-presidente está em algum órgão judicial. No entanto, ele rejeita a tese de que a iniciativa foi para ;preservar; o ex-presidente. ;Eu não estava pensando nele, mas ninguém quer prejudicar ninguém;, disse.
Em resposta ao pedido do escritório de Malheiros, o juiz Sérgio Moro cancelou a oitiva de Lula. Mas ressalvou que as declarações do ex-presidente ;não terão valor probatório para este processso, uma vez que não submetidas ao crivo do contraditório; ;Homem de bem;
Navios-sonda
Na declaração, Lula diz que Bumlai é ;um homem de bem, honesto e pai de família exemplar;. O ex-presidente diz que conhece o pecuarista desde 2002 e o tem ;na mais alta conta;.
Lula ainda afirmou que ignora a acusação contra o amigo, a de que intermediou negócio do Banco Schahin para operar navio-sonda da Petrobras, em troca de pagamento de dívida do PT, que foi assinado em nome do pecuarista. O ex-presidente diz que ;jamais; teve conhecimento do ;interesse; de Bumlai ;em negócios relativos a sondas e prospecção de petróleo, seja através do grupo Schahin, seja de outros;. Lula negou ter dito a alguém que esse assunto causaria problemas ao pecuarista ou ter pedido para ele ser protegido de eventuais problemas.
O ex-presidente ignora se o amigo usasse seu prestígio em seus negócios. ;Nunca tive notícia de que o sr. Bumlai pudesse ter se valido de sua relação pessoal comigo para obter qualquer vantagem ou benefício em qualquer tipo de negócio, com contraparte pública ou privada;, disse Lula na declaração.
Segundo o petista, ele e Bumlai nunca falaram de assuntos políticos e de interesses do amigo no governo nos 14 anos em que se conhecem. ;Posso assegurar com toda a certeza que, durante todo esse período de convivência, jamais tratamos de assuntos políticos, muito menos de eventuais interesses do sr. Bumlai junto ao (sic) governo, órgãos estatais ou empresas públicas.;