Eduardo Militão
postado em 12/03/2016 10:08
[FOTO1]CURITIBA ; O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva conseguiu evitar, pela terceira vez consecutiva, prestar um depoimento a autoridades das maiores operações de combate à corrupção do país. Essa medida se repete desde o final de janeiro, quando aumentou a crise política ao seu redor, e ele deixou de comparecer a oitivas. Na quinta-feira, Lula escreveu uma ;declaração, como substitutiva; de seu depoimento marcado para a próxima segunda-feira, perante o juiz da Lava-Jato, Sérgio Moro. O documento foi apresentado ontem a Moro pela defesa do pecuarista José Carlos Bumlai. Com base nisso, os advogados do pecuarista desistiram do depoimento, o que foi autorizado pelo magistrado ainda hoje. Na declaração, Lula diz que Bumlai é um homem ;honesto; e seu amigo há 14 anos, com quem nunca tratou de ;assuntos políticos;. Disse ignorar os interesses dele em sondas, processo a que responde na 13; Vara Federal de Curitiba.
Desde o final do ano passado, Lula já foi chamado a prestar seis esclarecimentos espontâneos à Justiça, à Polícia Federal e ao Ministério Público. Nos três primeiros, ele aceitou e fez as declarações, embora de maneira reservada. Depois, pediu para não comparecer a depoimento da Zelotes na 10; Vara Federal de Brasília, foi ao Conselho Nacional do Ministério Público e à Justiça de São Paulo para não depor perante a Promotoria de São Paulo sobre o tríplex no Guarujá. O ex-presidente foi arrolado como testemunha de defesa pelo próprio pecuarista José Carlos Bumlai.
Segundo Arnaldo Malheiros, chefe da banca que defende Bumlai, a iniciativa de desistir do depoimento foi de Bumlai, mas isso agradou ao ex-presidente. ;Evidentemente que gostaram muito da ideia;, afirmou ao Correio.
Malheiros disse que o depoimento do petista, agora, mais atrapalha do que ajuda, porque muita coisa mudou entre a ideia inicial da defesa e o cenário atual. Ele cita a condução coercitiva de Lula, o pedido de prisão feito pela Promotoria em São Paulo e a ;bandeira vermelha na porta;, hasteada por militantes do PT quando o ex-presidente está em algum órgão judicial. No entanto, ele rejeita a tese de que a iniciativa foi para ;preservar; o ex-presidente. ;Eu não estava pensando nele, mas ninguém quer prejudicar ninguém;, disse.
Moro ressalvou que as declarações do ex-presidente ;não terão valor probatório para este processo, uma vez que não submetidas ao crivo do contraditório;.
Na declaração, Lula diz que Bumlai é ;um homem de bem, honesto e pai de família exemplar;. O ex-presidente diz que conhece o pecuarista desde 2002 e o tem ;na mais alta conta;.
Lula ainda afirmou que ignora a acusação de Bumlai intermediou negócio do Banco Schahin para operar navio-sonda da Petrobras, em troca de pagamento de dívida do PT, que foi assinado em nome do pecuarista.
O ex-presidente ignora se o amigo usava seu prestígio em negócios. ;Nunca tive notícia de que o sr. Bumlai pudesse ter se valido de sua relação pessoal comigo para obter qualquer vantagem ou benefício;, disse Lula na declaração. Segundo o petista, ele e Bumlai nunca falaram de assuntos políticos e de interesses do amigo no governo nos 14 anos em que se conhecem.