Politica

Tensão nas ruas "eleva temperatura" a níveis insuportáveis para cidadãos

É cada vez mais complicado tentar defender um ponto de vista, seja contra, seja a favor do governo

Leonardo Cavalcanti
postado em 18/03/2016 08:14
É cada vez mais complicado tentar defender um ponto de vista, seja contra, seja a favor do governo
E daqui a 50 anos, qual será a história? Cada um dos atuais atores, seja do governo ou da oposição, será julgado por pesquisadores em um tempo mais ou menos distante. Lá, em 2066, os nossos personagens, caso condenados, deverão arder no fogo acadêmico. Por aqui e hoje, entretanto, o que resta é a escalada da violência para o cidadão comum, que está nas ruas em defesa ou contra o impeachment.

Ao longo do dia de ontem, Brasília viveu sob intensa tensão, com as forças de segurança atentas aos enfrentamentos entre militantes governistas e oposicionistas. Desde as decisões de Dilma Rousseff de colocar Luiz Inácio Lula da Silva na Esplanada e do juiz Sérgio Moro de levantar o sigilo das interceptações do petista, a temperatura sobe a níveis insuportáveis nas redes sociais e nas praças.

[SAIBAMAIS]Não, não há riscos de militarização. Em conversa com o Correio, um general do Exército disse que a crise é política, e por ela deve ser resolvida. Assim, há uma expectativa clara de que os conflitos abertos na rua se resolvam o mais rápido. ;Nada será pior para o Brasil do que uma ;venezuelização;, independentemente da queda ou não da presidente;, afirmou um interlocutor mais sereno do Planalto.

Reações
A questão aqui é esperar dos atuais personagens da política ; aqueles que irão para os livros de história ; a percepção do atual momento. E nada contribui para isso a declaração de Lula exposta nos grampos divulgadas pela Justiça, por mais que não fosse pública ou estimulasse um levante: ;Se o coxinha aparecer, vão (sic) levar tanta porrada...; É menos engraçada e mais lamentável. Da mesma forma, há relatos de ameaças a pessoas que simplesmente decidiram usar camisas vermelhas para trabalhar.



Impeachment
Um dos termômetros para o tamanho da crise é o Congresso, por mais que parlamentares insistam em degradar a imagem da Casa. Ontem, em mais uma rodada do impeachment, os deputados fizeram jogo de cena e gritaram, mas, por fim, fecharam acordo enviesado para formar a comissão especial. Na prática, Eduardo Cunha ganhou ao escolher os nomes do presidente e do relator. Ao Planalto, desgastado, nada restou, a não ser aceitar, na esperança de ter algum trânsito a partir de agora. Segue o baile.

Ainda a babá
Ainda há tempo para falar sobre a emblemática fotografia do repórter João Valadares, do Correio. No último domingo, em meio às manifestações, um casal vestido de verde e amarelo caminhava para os protestos, em Ipanema. Ao lado, uma babá vestida de branco empurrava um carrinho com as crianças dos dois manifestantes. A foto rodou o mundo e acabou abrindo mais uma controvérsia insana.

Aos fatos. A fotografia de Valadares deve ser vista como uma fotografia. É um retrato recortado da realidade? Sim, mas é a realidade, onde uma pequena e ínfima parte da população brasileira se orgulha em ostentar trabalhadores uniformizados em casa. Ponto. O resto é jornalismo. Depois que a foto viralizou nas redes, apareceram grupos contra e a favor da publicação, como se fosse uma luta ideológica.

Até um deputado pernambucano do baixo clero do Congresso resolveu atacar o repórter em rede social. Por mais incômodo que a fotografia possa ter causado, ela é um trabalho jornalístico. Mas acabou abrindo um debate sobre a falta de pobres nas manifestações contra o governo Dilma. E aqui, dois pontos importantes em tal debate, para além da guerra entre as torcidas governistas e oposição.

Primeiro, é falso que a insatisfação ao governo Dilma vem apenas de uma elite. Pesquisas e andanças mostram a irritação com a economia, a política e os escândalos de corrupção em todas as classes sociais. Assim, passamos para o segundo ponto. Por que a oposição não consegue trazer maior diversidade social para as ruas? A pergunta deve ser feita aos próprios organizadores. Só eles podem responder.

Tags

Os comentários não representam a opinião do jornal e são de responsabilidade do autor. As mensagens estão sujeitas a moderação prévia antes da publicação