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Polícia Federal mira a empreiteira Odebrecht na 26ª fase da Lava-Jato

Investigadores dizem que empreiteira usava sistema de computador para guardar pagamentos de propina e outro aplicativo para comunicação por meio de codinomes. Trezentos e oitenta policiais estão nas ruas de Brasília e mais oito estados

Jacqueline Saraiva, Eduardo Militão
postado em 22/03/2016 06:54
A empreiteira Odebrecht, suspeita de pagamentos de propina e contabilidade paralela, é o alvo da 26; fase da Operação Lava-Jato, deflagrada nesta terça-feira (22/3) pela Polícia Federal (PF). Cerca de 380 policiais cumprem 110 mandados judiciais em oito estados e no Distrito Federal. A ação, intitulada ;Xepa; é um desdobramento da Acarajé, a 23; etapa, que atingiu o publicitário João Santana, ex-marqueteiro das campanhas eleitorais da presidente Dilma Rousseff e do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, e a mulher e sócia dele, Mônica Moura.

De acordo com os investigadores, um sistema de computador próprio armazenava os pagamentos de suborno na Odebrecht; outro programa era usado para comunicação entre funcionários, sempre por codinomes. O presidente afastado do grupo, Marcelo Odebrecht, comandava o esquema, segundo a Lava-Jato.

[SAIBAMAIS]Em Brasília, a PF está no hotel Golden Tulip, onde moram vários políticos. O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva está hospedado lá, mas não é alvo das ações. O local fica próximo ao Palácio da Alvorada. Os agentes e delegados estão em São Paulo, Rio de Janeiro, Santa Catarina, Rio Grande do Sul, Bahia, Piauí, Minas Gerais, Pernambuco, além da capital federal. São 67 mandados de busca e apreensão, 28 mandados de condução coercitiva, quatro mandados de prisão preventiva e 11 mandados de prisão temporária, por cinco dias. As ordens judiciais foram feitas pelo juiz da 13; Vara Federal de Curitiba, Sérgio Fernando Moro.

A Odebrecht disse ao Correio que a PF cumpriu mandado de prisão, condução coercitiva e buscas em escritórios e em residências ;de integrantes; do grupo. ;A empresa tem prestado todo o auxílio nas investigações em curso, colaborando com os esclarecimentos necessários.;

Contabilidade paralela
Segundo a investigação, foi descoberto um esquema de ;contabilidade paralela; no âmbito do Grupo Odebrecht para pagar propinas a terceiros, vários deles com vínculos diretos ou indiretos com o poder público ;em todas as esferas;. De acordo com a apuração da PF, o material indicou a realização de entregas de recursos em espécie a terceiros indicados por ;altos executivos do grupo; nas mais variadas áreas de atuação do conglomerado empresarial.

O Ministério Público Federal no Paraná sustenta que o presidente afastado do grupo, Marcelo Bahia Odebrecht, preso e condenado a 19 anos de cadeia, ;não apenas tinha conhecimento e anuía com os pagamentos ilícitos, mas também comandava diretamente o pagamento de algumas vantagens indevidas;. Um dos exemplos foram os pagamentos a João Santana e Mônica Moura, de acordo com os procuradores da força-tarefa. Havia 14 executivos que solicitavam pagamentos de propina a um setor específico da empresa.

O chamado ;Setor de Operações Estruturadas; administrava todos os subornos, de acordo com os procuradores, utilizando-se aplicativos de computador. ;Foi instalado dentro da estrutura do Grupo Odebrecht um setor profissionalmente organizado que era utilizado para pagamentos que incluíam vantagens indevidas a servidores públicos em razão de contratos firmados pela Odebrecht, chamado ;setor de operações estruturadas;;, diz a força-tarefa do MPF.

De acordo com a Polícia Federal, há indicativos segundo os quais a Odebrecht se utilizou de operadores financeiros ligados ao mercado paralelo de câmbio para a oferecer os recursos das propinas. A comunicação entre os funcionários da empreiteira e doleiros era feita em um outro programa. ;Todos se comunicavam por meio de codinomes;, diz o MPF.

Os pagamentos de suborno se estenderam até novembro de 2015, quando a operação Lava-Jato já atuava ostensivamente. As provas são trocas de mensagens de correio eletrônico dos investigados.

Crimes
Os investigados que são alvo das ações de hoje devem responder à Justiça por crimes de corrupção, evasão de divisas, organização criminosa, lavagem de ativos, entre outros. Os que serão conduzidos coercitivamente serão ouvidos nas respectivas cidades, enquanto os presos serão trazidos nesta data para a Superintendência da Polícia Federal em Curitiba.

Investigadores da Lava-Jato disseram ao Correio que a operação de hoje está relacionada a duas funcionárias da Odebrecht presas em duas etapas da Operação Acarajé. Maria Lúcia Tavares, detida na ;Acarajé; prestou depoimento indicando provas para os delegados e procuradores. Depois disso, os policiais prenderam Ângela Ferreira Palmeira, que trabalha há quase 40 anos no grupo. As duas ações colaboraram com a megaoperação de hoje.



Para eles, há evidências de uma nova frente de apuração em relação a outras obras da Odebrecht. Isso porque os 14 executivos que demandavam pagamentos de propina para o ;Setor de Operações Estruturadas; eram de várias áreas de empresa. ;Essas evidências abrem toda uma nova linha de apuração de pagamento de propinas em função de variadas obras públicas;.

Os motivos das prisões preventivas são novos indícios de pagamentos de propinas ;vultosas; e que eram ;disseminadas e sistematizadas como modelo de negócio;. Outra razão para pedir a detenção dos investigados são indicativos de obstrução às investigações, como destruição de arquivos e transferência de funcionários envolvidos no esquema para o exterior, mudanças bancadas pela empreiteira.

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