Depois de uma conversa com o ministro da Justiça, Eugênio Aragão, o diretor-geral da Polícia Federal, Leandro Daiello Coimbra, deve permanecer no cargo. Ao menos por enquanto. O encontro ocorreu no ministério em meio a rumores de que o dirigente da corporação que executa a maior operação de combate à corrupção no país, a Lava-Jato, seria trocado. Para delegados da PF, uma clara iniciativa de o governo interferir nos rumos do caso por causa das consequências políticas negativas para o PT, a presidente Dilma Rousseff e o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
Ainda pela manhã, o ministério divulgou uma nota afirmando que ;não há nenhuma decisão; sobre a substituição de Daiello. ;O Ministério da Justiça informa que o diretor-geral da Polícia Federal, Leandro Daiello, continua gozando de plena confiança por parte do ministro da Justiça. Não há nenhuma decisão sobre sua substituição.;
Daiello já pediu para deixar o cargo algumas vezes, uma delas depois da saída de José Eduardo Cardozo do Ministério da Justiça, mas Dilma pediu para ele ficar. Fontes ouvidas pelo Correio disseram que a troca de Daiello traria um problema para Aragão: a incapacidade de se encontrar alguém que conseguisse a ;proeza; de controlar a Operação Lava-Jato, como querem setores do PT que pediram a cabeça de Cardozo pelo fato de ele não fazer ingerências para vetar o que consideravam ;abusos; da apuração. Administrar uma corporação grande ; com dezenas de operações importantes, para além da Lava-Jato, Zelotes e Acrônimo ; e ainda cuidar de fronteiras e lidar com conflitos indígenas também são desafios para lá de generosos que devem ser manejados por alguém disposto a integrar um governo em crise, avaliam.
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As explicações do Ministério da Justiça não convenceram os policiais. Ontem mesmo, a Associação dos Delegados da Polícia Federal (ADPF) divulgou comunicado em que defendeu a permanência do diretor e ameaçou ir à Justiça caso ele seja substituído. Os policiais passaram o fim de semana contrariados com duas entrevistas concedidas por Aragão, na qual afirmou que afastará da Lava-Jato as equipes em que houver apenas suspeita de violação de sigilo funcional ; ;cheiro de vazamento;. O ministro ainda criticou as colaborações premiadas feitas com réus presos, chamando-as de ;extorsão;, o que causou críticas até mesmo do Ministério Público, sua casa de origem, por meio de nota da Associação Nacional dos Procuradores da República (ANPR).
De acordo com a ADPF, a entidade decidiu ;manifestar total repúdio às graves declarações feitas recentemente pelo ministro da Justiça;. Segundo a associação, as afirmações de Aragão significam que ele ;afastará, sem provas, delegados e policiais de investigações criminais;. ;A entidade não descarta a possibilidade; de ir à Justiça e abrir ações administrativas para combater ;qualquer arbitrariedade; que venha a ser feita pelo novo ministro.
Em outra frente, a ameaça de troca de Daiello motivada pelo descontentamento com os rumos da Lava-Jato ;demonstra a fragilidade da instituição;, segundo os delegados, que pedem a aprovação da PEC 412, para garantir autonomia ao órgão. Eles também defendem a criação de um prazo de mandato para o diretor-geral. ;As manifestações públicas recentes demonstram que a população não deseja uma Polícia Federal controlada pelo governo, e, sim, uma PF de Estado, firme e atuante contra a corrupção e o crime organizado.; A entidade ainda prometeu vigilância contra ;qualquer possibilidade de ameaça a interferência nas investigações;.
Saída
De acordo com fontes ouvidas pelo Correio, Daiello não pretende ficar até o final do mandato de Dilma Rousseff. Ele está no cargo há mais tempo, considerando-se apenas os diretores que vieram da própria PF. No entanto, não existe prazo para que saia, apesar de o próprio delegado já ter pedido para sair várias vezes.
Segundo um policial envolvido em uma operação importante, é impossível o governo ; ainda que deseje ; ter o controle da PF ou da Lava-Jato. Por isso, a troca de Daiello só traria prejuízos. O diretor não é uma unanimidade entre os agentes e delegados, avalia um outro investigador. No entanto, neste momento, ele é o nome mais confiável porque todos já sabem seu jeito de atuar.