Naira Trindade
postado em 29/03/2016 06:23
A saída de Henrique Eduardo Alves da base aliada às vésperas da reunião que selará o rompimento oficial do partido forçou o governo, com o apoio do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, a traçar rapidamente a estratégia de combate à guerra política que se inicia. Para atrair o maior número possível de aliados e conquistar votos contrários ao processo de impeachment na Câmara, o governo abrirá as negociações sobre quem vai ficar com os ministérios entregues pelo ex-aliado.A presidente Dilma Rousseff deixará a critério dos ministros peemedebistas a entrega ou não dos cargos no primeiro escalão. ;Eles têm influência na Câmara, sobre os outros deputados, e poderão decidir se se licenciam do partido para apoiar o governo e ficar nas pastas;, esclareceu um interlocutor palaciano próximo a petista. A expectativa do Palácio do Planalto é que quem ficar nas pastas terá de trabalhar para angariar votos contrários ao processo no Congresso.
À frente das articulações que tentavam conter a legenda, o ex-presidente Lula chegou a dizer, em entrevista a jornais estrangeiros, ontem, em São Paulo, que trabalharia com ;parte; do PMDB. ;Pelo que eu estou sabendo, os ministros do PMDB não saíram do governo e nem a Dilma quer que eles saiam. O que eu acho que vai acontecer é o que aconteceu em 2003: o governo vai construir ainda uma base com parlamentares do PMDB no Senado e na Câmara e vamos ter uma espécie de uma coalizão sem a concordância da direção;, definiu Lula, pela manhã.
A saída do ministro do Turismo, Henrique Eduardo Alves, altera pouco o cenário de negociações. No Palácio do Planalto, a visão é de que se precisa trabalhar com quem apoia o governo e usar os cargos para cooptar novos aliados. Há, porém, uma divergência se Dilma deve esperar a entrega das pastas, uma vez que ela trabalha contra o tempo. Um acordo informal previa a disponibilidade das cadeiras do PMDB em 12 de abril, quando vencem os 30 dias definidos pela convenção.
A avaliação é que a iniciativa de esperar os ministros colocarem as cadeiras à disposição deixa de ser interessante ao governo, que terá pouco tempo para negociar cargos em troca de votos. Pelos cálculos da comissão especial, a votação deve acontecer até 17 de abril. Pelo menos dois ministros do PMDB devem se manter fiéis à presidente Dilma. Na linha para serem beneficiados estão PP, PSB, PRB, PTN. Também há a possibilidade de o PSB voltar à base do governo. No Palácio do Planalto, assessores acreditam que, ;pelo menos agora, os inimigos do governo estão claramente definidos;.
Sobre a possibilidade do PSB retornar à base do governo, o presidente nacional do partido, Carlos Siqueira, afirmou que não há sentido e está "inteiramente distanciada da realidade."
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