Politica

Lula articulou mudança na participação da Petrobras no pré-sal

Presidente almoçou com caciques do PMDB e obteve modificação em projeto de Serra para permitir que conselho ligado à petroleira desse a palavra final sobre a cota da estatal nos blocos e ainda avaliou "acordo estratégico com chineses"

Paulo de Tarso Lyra, Eduardo Militão
postado em 29/03/2016 22:06
Presidente almoçou com caciques do PMDB e obteve modificação em projeto de Serra para permitir que conselho ligado à petroleira desse a palavra final sobre a cota da estatal nos blocos e ainda avaliou

Um grampo da Operação Lava-Jato mostra que, há pouco mais de um mês, o ex-presidente Lula ainda conseguia articular com o PMDB, a ponto de mudar importante projeto que retirava a obrigatoriedade de a Petrobras participar em 30% de cada poço de petróleo do pré-sal. Em 29 de fevereiro, o petista telefonou para o então ministro da Casa Civil, Jaques Wagner, e relatou que almoçou com os senadores peemedebistas, Romero Jucá (RR), Renan Calheiros (AL), Edison Lobão (MA) e com o ex-presidente José Sarney. Lá, ele pediu que a decisão sobre a renúncia da participação nos blocos ficasse com a própria Petrobras. Em 24 de fevereiro, Jucá, o relator da matéria, inseriu uma mudança na proposta nos mesmos moldes do pedido de Lula.

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Hoje, depois de ser alvo de uma condução coercitiva na Operação Lava-Jato e com a nomeação para o governo emperrada na Justiça, o ex-presidente não tem conseguido impedir o PMDB de desembarcar do governo Dilma Rousseff, como aconteceu na terça-feira. Na conversa de 29 de fevereiro, Lula diz a Wagner que é preciso mudar o projeto proposto pelo senador José Serra (PSDB-SP), considerado ;entreguista; pelos sindicatos e movimentos sociais por dar muito poder aos estrangeiros. No entanto, ele afirma que ficaria ruim brigar pelos 30% ficarem com a Petrobras e faltar dinheiro para investir, motivo pelo qual ele avalia que seria melhor um meio-termo. ;Porque também ficaria muito ruim se a Petrobras mantém a titularidade e não tem dinheiro para fazer nada;, explicou o ex-presidente a Wagner.

Na conversa, Lula diz que isso daria um discurso para militantes de movimentos sociais irritados com Dilma porque, como revelou a coluna Brasília-DF, do Correio, no início de fevereiro, a presidenta decidiu apoiar o projeto de Serra até porque faltavam recursos para a Petrobras investir.

Lula diz que Dilma deveria criar uma comissão especial para ;tentar um acordo estratégico com os chineses; nos 30% do pré-sal. ;A Dilma poderia conversar com a nossa base, criando uma comissão especial pra tentar fazer um acordo estratégico com os chinês em cima do pré-sal, em cima desses 30%.; Os chineses foram os principais parceiros da Petrobras no leilão que arrematou o bloco de Libra, em 2013. Isso também daria um discurso à militância, na avaliação do petista. ;Pode ser negociado montando uma boa diretoria da Petrobras, um bom Conselho Nacional de Política Energética (CNPE);.

;O PMDB não pode embarcar;
Naquele dia, o projeto de Serra estava aprovado nos moldes como Lula comentava. E ele revela a Wagner que teve um almoço com Renan, Sarney, Jucá e Lobão explicitando seu ponto de vista, que depois sairia vencedor. O petista pede que Jaques Wagner mantenha sigilo sobre o encontro. ;Logo que foi aquela primeira votação do José Serra, eu tava num almoço... Jucá, Renan, Sarney, Lobão, eu... quando me disseram que o Renan ia votar posição do Serra, na mesa eu falei: ;Ô, Renan, pelo amor de Deus o PMDB não pode embarcar nessa porra. O PMDB pode até flexibilizar, mas garantindo que a decisão seja da Petrobras;.;

E Lula diz que a votação seguiu seu pedido: ;No fundo, no fundo, um pouco do que eles fizeram foi isso;. Em 24 de fevereiro, o relator do PL 131/15, Romero Jucá, inseriu um artigo 4; no texto, em que o CNPE mencionado por Lula é o conselho que define se a Petrobras vai manter ou não a participação de 30% nos blocos, ;considerando o interesse nacional;. Na terça-feira, Jucá era uma das principais vozes do PMDB no desembarque da gestão Dilma, de quem foi líder do governo, assim como na era Lula.

Espinha dorsal
O senador e ex-ministro Edison Lobão, um dos presentes ao encontro, disse ao Correio que o objetivo foi tentar preservar a ;espinha dorsal; do regime de partilha, criado em 2010, no final do governo Lula. ;Mas, o projeto do Senador Serra foi vitorioso. O presidente Lula e o senador e ex-ministro de Minas e Energia, Edison Lobão, mantiveram suas posições anteriores;, disse ele em nota à reportagem.

O jornal procurou o Instituto Lula para obter esclarecimentos, como qual a posição do presidente na tramitação do projeto, que foi enviado à Câmara. Mas assessoria do petista preferiu não comentar o tema, alegando que se trata de ;conversas telefônicas vazadas ilegalmente;. Porém, os áudios foram obtidos em procedimento judicial que estava público na 13; Vara Federal de Curitiba, portanto, não houve vazamento. Os grampos foram remetidos para o Supremo Tribunal Federal por ordem do relator da Lava-Jato na corte, Teori Zavascki.

O Correio não conseguiu localizar os senadores Renan e Jucá e o ex-presidente José Sarney para comentar o caso.

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