Após gravar um áudio em que se adianta à votação do processo de impeachment da presidente Dilma Rousseff e assume antecipadamente a cadeira da presidência do país, o vice-presidente Michel Temer esclareceu, nesta segunda-feira (11/4), que somente defendeu a tese que já vinha sido debatida, defendeu a manutenção dos programas sociais e afirmou que não mudará um centímetro da tese quando eventualmente precisar usá-la.
[SAIBAMAIS]Ao se defender do áudio, Temer afirma que a gravação foi feita hoje e que, por acidente, foi enviada erroneamente a um grupo que vazou o material. ;Quero comentar precisamente em respeito ao vazamento que se verificou referentemente a uma fala que gravei no dia de hoje;, afirmou.
;Em primeiro lugar quero dizer que eu falava com vários companheiros e naquele momento me perguntavam se eu já estava preparado para a eventualidade para aquilo que viesse acontecer no próximo domingo porque certa e seguramente se exigiria uma manifestação minha. Eu disse: ;olha, vou fazer o seguinte, vou gravar aqui uma coisa que imagino que possa dizer;;, explicou.
O vice-presidente afirma que fez questão de ressaltar que vai manter os programas sociais. ;Daí fiz uma gravação onde eu ressaltei pontos que eu tenho defendido ao longo do tempo. A pacificação absoluta do país, a unidade do país, o chamamento de todos os partidos para um governo digamos assim, de salvação nacional, a ideia de que nós devemos prestigiar os setores positivos, ou seja, trabalhadores e empregadores, a ideia que nós devemos manter os setores sociais, e até aprimorá-los ao longo do tempo;, repetiu.
;E confesso que depois, quando resolvi mandar a gravação houve um equívoco e foi pra um grupo que acabou divulgando essa matéria. Mas reitero que o que disse seria exatamente o que fiz no passado e seria exatamente o que voltarei a fazer dependendo do que acontecer no dia 17 e verifiquei na gravação que respeitosamente me dirigi ao Senado Federal em esperar a decisão, da eventual decisão que ainda se dê, ainda temos que cautelosamente aguardar a decisão do Sendo. E ainda que o governo continue tal como está eu continuarei sustentando as mesmas teses. Não mudei um centímetro daquilo que falei no passado;.
O áudio foi mal recebido no Planalto, que teve considerações pesadas em relação ao vice-presidente. Em resposta a uma crítica qual o chamava de golpista, Temer disse que ;certas afirmações não merecem a honra da minha resposta;, finalizou.
No áudio, Michel Temer diz ter se recolhido para não aparentar ;traição; e que precisa enfrentar ;agora; matérias do governo. ;Quero me dirigir ao povo brasileiro para dizer algumas das matérias que penso devam ser por mim agora enfrentadas e eu faço naturalmente com muita cautela porque, na verdade, sabem todos que há mais de um mês eu me recolhi exata e precisamente para não aparentar que eu estaria cometendo algum ato, praticando algum gesto com vista a ocupar o lugar da senhora presidente da República. Recolhi-me o quanto pude, mas evidentemente neste período fui procurado por muitos que estão aflitos com a situação do nosso país;.
O vice-presidente prossegue como se a Câmara já decidido em plenário pelo impeachment da presidente. ;Agora, quando a Câmara dos Deputados decide por uma votação significativa declarar a autorização para a instauração do processo de impedimento para senhora presidente muitos me procuraram para que eu desse uma palavra preliminar à nação brasileira. O que eu faço com muita modéstia e muita cautela. Com muita moderação, mas também em face da minha posição de vice-presidente e também de substituto constitucional da senhora presidente da República;, gravou.
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Temer frisa que o Senado ainda não decidiu sobre o processo e afirma respeitar a decisão deles. Caso a Câmara decida pelo impeachment, o processo segue para o Senado, mas a presidente é automaticamente afastada por até 180 dias. ;Não quero avançar o sinal até imaginaria que eu poderia falar depois da decisão do Senado e evidentemente sabem todos que me ouvem que enquanto não houver a decisão definitiva, decisão do Senado, eu preciso estar preparado para enfrentar os graves problemas que hoje afligem o nosso país;, disse, ironicamente, no áudio que vazou na tarde desta segunda-feira (11/4).
;Os brasileiros sabem que há mais de oito, dez meses, venho feito pronunciamentos referentes à pacificação do país, à unificação do país, porque é chocante para não dizer tristíssimo verificar os brasileiros controvertendo-se entre si e disputando ideias e espaços, até aí tudo bem. Mas quando parte para uma coisa quase física não pode acontecer no nosso país;, afirmou o vice-presidente, defendendo a pacificação.
Michel Temer afirma que só o diálogo poderá salvar o país. ;É preciso que se reúnam todos os partidos políticos e todos os partidos estejam dispostos a dar sua colaboração para tirar o país da crise sem esta unidade nacional penso que será difícil tirar o país da crise em que nos encontramos. Para tanto é diálogo. O fundamental agora é o diálogo. Em segundo lugar a compreensão e em terceiro lugar, para não enganar ninguém, a ideia de que nós vamos ter muito sacrifício pela frente. Sem sacrifícios nós não conseguiremos também avançar para reclamar o crescimento e o desenvolvimento que pautaram a atividade do nosso país nos últimos tempos antes dessa última gestão. Então, é preciso retomar o crescimento e eu não quero que isso fique em palavras vazias;, afirmou.
Nos 14 minutos de áudio, o vice-presidente ainda critica o atual governo. ;De outro lado eu devo dizer também, que de fora a parte, um projeto pela empregabilidade plena, é preciso manter certas matérias sociais, porque nós todos sabemos que o Brasil ainda é um país pobre. E eu sei que dizem, de vez em quando, que se outrem assumir nós vamos acabar com o Bolsa Família, vamos acabar com o Pronatec, vamos acabar com o Fies. Isso é falso, é mentiroso e é fruto dessa política mais rasteira que tomou conta do país. Portanto, neste particular eu quero dizer que nós deveremos manter esses programas e até, se possível, revalorizá-los e ampliá-los. Até que, e isso eu quero deixar claro, o Bolsa Família, por exemplo, há de ser um estágio do estado brasileiro. Daqui alguns anos é possível que a empregabilidade tenha atingido um tal nível que não haja mais necessidade do Bolsa Família. Mas isto enquanto persistir a necessidade nós manteremos. Assim com Pronatec, Fies, Prouni, todos esses projetos que acabaram dando certo no país;, disse.