Politica

Igreja diz que Agnelo obteve R$ 300 mil de empreiteira para festa religiosa

Advogado de ex-governador afirma que recursos não têm relação com doações eleitorais da Andrade Gutierrez em 2014

Eduardo Militão
postado em 12/04/2016 17:42
Governador Agnelo Queiroz durante missa de Pentecostes na Paróquia São Pedro em Taguatinga Sul

A Paróquia São Pedro, que recebeu R$ 350 mil da empreiteira OAS, intermediados pelo ex-senador Gim Argello (PTB-DF), preso nesta terça-feira (12/4) pela Operação Lava-Jato, também obteve outros R$ 300 mil da construtora Andrade Gutierrez. Nesse caso, o dinheiro foi obtido por intermédio do então governador do Distrito Federal Agnelo Queiroz (PT).



De acordo com a Polícia Federal, que deflagrou hoje a 28; fase da Lava-Jato, apelidada de ;Vitória de Pirro;, Gim atuou para impedir que a CPIs da Petrobras no Congresso convocassem os empreiteiros Léo Pinheiro, da OAS, e Ricardo Pessoa, da UTC, em troca de R$ 5,35 milhões de propina. No caso da OAS, o dinheiro foi depositado em uma conta da paróquia São Pedro, que fica em Taguatinga Sul, no Distrito Federal. Uma mensagem de Leo Pinheiro diz que o dinheiro deveria sair da conta da refinaria de Abreu e Lima, da Petrobras, onde a empreiteira mantinha obras.

Em ofício à força-tarefa do Ministério Público, o padre Moacir Anastácio de Carvalho confirma que foi Gim quem obteve os recursos da OAS para a igreja. Segundo ele, a paróquia nunca teve relação com a empreiteira. Em 2014, a igreja organizava o evento ;Semana de Pentecostes;, que congrega anualmente 3 milhões de fiéis há 17 anos.

Para obter financiamento, o deputado distrital Washington Gil Mesquita, fiel da igreja, bsucou ajuda de Gim, outro frequentador do local. Eles pediram a conta da paróquia e informaram que a OAS depositaria R$ 350 mil, o que aconteceu em 19 de maio de 2014.

Moacir Carvalho acrescenta que o então governador Agnelo Queiroz intermediou a doação de mais R$ 300 mil por meio da Andrade Gutierrez. O pagamento foi feito em 4 de junho de 2014 sem ser ;condicionado a qualquer tipo de contraprestação;, assinalou o padre, no ofício ao Ministério Público.

[SAIBAMAIS]Naquele mesmo ano, a empreiteira havia doado R$ 3,135 milhões à campanha eleitoral de Agnelo, que foi derrotado no primeiro turno das eleições de 2014. Executivos da Andrade Gutierrez fecharam acordo de delação premiada em que confessaram participar de esquemas de desvio de dinheiro na Petrobras e em outras obras públicas.

O advogado de Agnelo Queiroz, Paulo Machado Guimarães, disse que não conhece o conteúdo do inquérito da Lava-Jato, mas afirmou que é natural que o então governador expusesse demandas da sociedade a empresários. ;Há limitação legal de o GDF apoiar eventos religiosos;, disse ao Correio. ;Se houve doação, foi por conveniência do doador. Se alguma pessoa doou, diz respeito a essas pessoas (a empresa e a igreja);, afirmou.

Guimarães disse que as doações à campanha eleitoral de Agnelo não se confudem com as feitas à igreja por indicação dele. Segundo o advogado, o governador nunca pediu que parte dos recursos que receberia da Andrade Gutierrez fossem redirecionados à Paróquia São Pedro. ;Em hipótese alguma. Não existe redirecionamento. O que envolveu campanha está declarado.;

Advogado de ex-governador afirma que recursos não têm relação com doações eleitorais da Andrade Gutierrez em 2014

Bênção
Ao final do ofício, o pároco disse que os fieis da igreja estão em oração para o sucesso da Lava-Jato e proteção dos investigadores. ;Finalmente, rogamos a Deus que proteja o trabalho dessa força tarefa, com vistas a contribuir para engrandecimento do Brasil e suas instituições, anseio de todos nós evangelizadores;, disse ele. ;Continuamos em oração, rogando ao Altíssimo que proteja todos os senhores e seus familiares de todo mal, que porventura possa lhes acontecer.;

A assessoria de imprensa da Arquidiocese de Brasília informou que as doações para as igrejas ;são acolhidas de acordo com normas estabelecidas pela legislação civil e eclesiástica;. Em nota, o padre João Firmino disse que a igreja atua ;rejeitando qualquer procedimento que não esteja de acordo com a lei defendendo a sua rigorosa apuração;.

O advogado de Gim, Marcelo Bessa, disse ao jornal que não comentará o caso porque ainda está lendo o inquérito policial.

A assessoria da OAS não prestou esclarecimentos sobre o pagamento e apenas disse que colabora com as investigações. A UTC e Ricardo Pessoa fecharam acordo de delação premiada para confessar crimes, pagar multas e entregar documentos e informações em troca de reduções de suas penas por desvios de dinheiro na Petrobras.

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