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Em um ato inédito desde que assumiu o governo em 2011, a presidente Dilma Rousseff desceu a rampa do Palácio do Planalto para falar com cerca de 400 mulheres que protestavam a favor do governo. A mandatária havia acabado de conversar com um grupo de 20 representantes do grupo Moradoras de Águas Claras pela Democracia, que organizaram a mobilização, chamada de "abraçaço" em solidariedade à petista. A elas, Dilma voltou a dizer que é vítima de "injustiça" e os que estão articulando sua saída do poder estão "tentando fazer uma eleição indireta travestida de impeachment".
Uma das organizadoras, a relações públicas Tatiana Lima Magalhães, pediu a Dilma que fosse cumprimentar as mulheres. Era esperado que a presidente apenas acenasse, mas, ao ver a quantidade de manifestantes, Dilma surpreendeu e resolveu descer.
A mandatária passou cerca de 20 minutos na área em frente ao Palácio recebendo flores e cumprimentando as mulheres que a ovacionavam. A petista estava acompanhada da secretária para Mulheres, Eleonora Menicucci e a presidente da Caixa Econômica, Miriam Belchior.
Após percorrer a cerca em frente ao Palácio do Planalto de uma ponta a outra, a presidente subiu a rampa de volta aos gritos de: "Sobe e desce a rampa é sua". Ao fim do ato, em um gesto de afago a Tatiana, Dilma disse: "obrigada querida, hoje vou dormir de alma lavada".
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Ao grupo que subiu ao gabinete presidencial, Dilma agradeceu o ato e afirmou que a democracia é uma "questão de luta contra o preconceito de gênero". A presidente ainda citou uma entrevista concedida na manhã desta terça-feira e reafirmou que há um componente de preconceito de gênero no processo de impeachment que enfrente. "Tem um certo tratamento, que é uma tentativa de desvalorizar, de diminuir, de colocar como sendo a mulher uma pessoa que não tem força para resistir à pressão, a mulher como um ser frágil, um ser que cuja fragilidade não está na sua capacidade de sentir, mas cuja sua fragilidade é de caráter, isso é um absurdo, eu me rebelo contra isso", afirmou.
Em seguida, disse que as mulheres no Brasil são fortes e criticou indiretamente o vice-presidente Michel Temer, acusado por ela de ser um dos articuladores de sua destituição. "Então, eu quero dizer para vocês que para mim é uma alegria para o meu coração, porque eu acho que eu sou uma pessoa que estou sendo injustiçada, porque eu sou vítima de um processo que não tem base legal, que não tem fundamento e que eu tenho a legitimidade de 54 milhões de votos. Quem pretende me substituir não tem esses 54 milhões de votos e estão tentando fazer uma eleição indireta travestida de impeachment", afirmou. Em seguida, a presidente atendeu ao pedido de uma das mulheres do grupo e decidiu descer a rampa.
Manifesto
O grupo de Moradoras de Águas Claras pela Democracia entregou à presidente um manifesto em apoio ao seu governo, em que criticam os ataques feitos à Dilma, que "revelam uma violência política, mas também de gênero e institucional". Confira:
"No atual cenário político brasileiro- evidenciado pelo protagonismo da primeira mulher eleita presidenta deste país- não podemos deixar de perceber o crescente movimento do fortalecimento do machismo e da misoginia por parte de alguns parlamentares e seus seguidores em seus posicionamentos. Temos vistos em postagens e pronunciamentos a imagem da presidenta Dilma exposta de forma preconceituosa em inúmeras montagens desrespeitosas que muito mais do que agredirem a presidenta revelam o ódio dessas pessoas em encararem o fato que uma mulher independente comanda o Brasil.
Nós, mulheres a favor da democracia e contra a misoginia que nos ronda verozmente, repudiamos os ataques feitos a presidenta Dilma que revelam uma violência política, mas também de gênero e institucional.
Consideramos inadimissível os ataques machistas, grosseiros à presidente, como no último domingo, em que assistimos perplexas o discurso do deputado Jair Bolsonaro, dedicado a um ditador, torturador, revelando um total descaso e desrespeito à história de luta no Brasil. Não devemos permitir que essa corrente de ódio se espalhe, pois ameaça não só a integridade das mulheres, mas do ser humano.
Nós não aceitaremos que as mulheres, assim como a presidenta, que foram torturadas e que tiveram dilaceradas sua integridade física, emocional, psicológica tenham sua dor esquecida ou minimizada. Ressaltaremos que o discurso misógino e machista que incita o ódio contra as mulheres mata, segundo o Mapa da Violência contra a Mulher (2015), pelo menos, 13 mulheres por dia no Brasil.
Pela Democracia devemos seguir com as conquistas e com otimismo de um Brasil cada vez melhor. A ditadura deve ficar apenas nos livros de história, que não deve ser esquecida, mas que não se repetirá."