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Temer se antecipa à fala de Dilma Rousseff na ONU e rebate acusações

Em Brasília por recomendação da segurança presidencial, o vice-presidente tenta aproximação com grupo de Renan Calheiros

postado em 22/04/2016 06:00

Em Brasília por recomendação da segurança presidencial, o vice-presidente tenta aproximação com grupo de Renan Calheiros


Antecipando-se ao pronunciamento que a presidente Dilma Rousseff fará nesta sexta-feira em evento em Nova York, na Organização das Nações Unidas (ONU), o vice-presidente, Michel Temer, deu início a uma estratégia para rebatê-la na imprensa internacional. Prevendo ser atacado, Temer concedeu entrevistas à agência Dow Jones, ao Wall Street Journal, ao Financial Times e ao New York Times. Ele disse estar ;preocupado; com o discurso e refutou o uso do termo ;golpe; ao processo de impeachment. Enquanto Dilma não retorna ao Brasil, amanhã, Temer é o presidente em exercício.

As entrevistas foram divulgadas na véspera da possível ofensiva de Dilma na ONU durante o acordo de Paris sobre mudanças no clima (leia na página 3). Temer passou a última semana em São Paulo e voltou ontem a Brasília depois que um grupo protestou em frente a sua casa na capital paulista. Segundo a assessoria de imprensa, ele retornou devido a orientações de segurança. O vice-presidente, porém, já avaliava voltar para excercer a presidência da República interinamente e pode se encontrar com o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), hoje ou nos próximos dias.

À agência Dow Jones, Temer afirmou estar pronto para assumir o governo caso o impeachment avance. ;Ela tem dito que eu sou um conspirador, o que obviamente é algo triste para mim;, declarou. Temer reafirmou que o processo de impedimento é legal. ;Cada passo do impeachment está de acordo com a Constituição. Como isso poderia ser chamado de golpe?;, questionou. Ele afirmou tratar com aliados sobre nomes para compor um possível governo, mas não antecipou quais estão com os pés na Esplanada.

Ao Financial Times, ele disse ser ;completamente sem fundamento; a alegação de Dilma de que ele é um conspirador. ;Então, eu pergunto, quando ela me acusa de ser conspirador de um golpe ; será que eu realmente tenho a capacidade para influenciar 367 deputados e 70% da população brasileira?;, disse. ;Eu não tenho feito qualquer trabalho, qualquer ação, mas fico ofendido com as palavras dela.;

Ao Wall Street Journal, Temer usou a munição dada pelo Supremo Tribunal Federal (STF) ontem e sugeriu que Dilma se defenda no Senado, em vez de fazer críticas no exterior. ;Vários ministros do STF disseram que o possível impeachment da presidente da República não representaria um golpe. É um processo constitucional;, acrescentou.

O NYT começa a reportagem dizendo que pesquisas recentes mostram que apenas 2% da população votariam em Temer para presidente. "Eu não quero que pareça que estou conspirando para para assumir a presidência", disse o vice. Ao jornal, Temer afirma ter passado os últimos quatro anos condenado ao ;ostracismo;. "Nós não eramos amigos porque ela não me considerava um amigo", afirmou. A reportagem pondera que boa parte dos aliados de Temer são mencionados em inquéritos da Lava-Jato e que há defensores do impeachment do próprio peemedebista. Diz ainda que até recentemente Temer só era conhecido por causa de sua esposa, Marcela Temer, 32, que é 43 anos mais nova que ele e "tem uma tatuagem com o nome dele no pescoço". "Estou muito preocupado com a intenção da presidente em dizer que o Brasil é alguma república secundária onde os golpes são realizados", disse Temer, sobre o discurso de Dilma.

"Ela (Dilma) tem dito que eu sou um conspirador, o que obviamente é algo triste para mim e para a Vice-Presidência da República. Cada passo do impeachment está de acordo com a Constituição. Como isso poderia ser chamado de golpe?


Michel Temer, vice-presidente da República

O contra-ataque foi montado pouco tempo depois de ser ventilada a possibilidade de Dilma acusar ser vítima de um ;golpe; à imprensa estrangeira durante o evento na ONU. Não está certo que ela abordará o assunto no discurso de três minutos a que tem direito. Além de Temer, o presidente em exercício do PMDB, Romero Jucá (RR), trabalha em ofensiva com agências internacionais. Há outros aliados, como o senador Aloysio Nunes (PSDB-SP), que está nos Estados Unidos e tem se encontrado com lideranças locais e refutado a ideia de o processo ser ilegal.

Outros deputados foram ao evento da ONU, com passagens bancadas pela Câmara dos Deputados para servir como porta-vozes. Nesta quarta, o mais antigo ministro da Corte, Celso de Mello, classificou como ;equívoco gravíssimo; chamar o impeachment de golpe. Os ministros Dias Toffoli e Gilmar Mendes referendaram o decano. Eles ainda pediram ;responsabilidade; e alertaram para a possibilidade de a imagem do Brasil no exterior ficar ainda mais manchada.

Encontro costurado

Ontem pela manhã, Temer reuniu-se com um dos seus braços direitos, o presidente da Fundação Ulysses Guimarães, Moreira Franco, em São Paulo. Aqui, ele seguirá com as conversas em torno do processo no Senado costuras de um eventual governo. Nesta semana, o ex-ministro Eliseu Padilha, aliado de Temer, disse que ele pode se encontrar com Calheiros para debater o impeachment. E amanhã, o presidente em exercício pode se encontrar com o economista Henrique Meirelles, cotado pata assumir a Fazenda.

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