Politica

Primeira versão de discurso de Dilma na ONU cita crise e impeachment

Analistas alertam para risco de precipitação da petista

Naira Trindade
postado em 22/04/2016 06:05

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Ao discursar na cerimônia de assinatura do Acordo de Paris sobre mudanças no clima, na sede da Organização das Nações Unidas (ONU), em Nova York, a presidente Dilma Rousseff tem à disposição a estratégia de mencionar de forma sutil da crise política e econômica em que o país se encontra e do processo de impeachment que enfrenta no Senado. Se escolher por essa narrativa, alertam cientistas políticos, Dilma construirá justificativas para uma saída honrosa do governo nos próximos dias.

A expectativa mais cotada na Presidência era que a presidente escreveria o discurso de próprio punho, com a ajuda de assessores. Na primeira versão do texto, Dilma apenas cita o processo de impeachment. Segundo fontes do Palácio, o discurso não é direcionado à crise, centrando-se em uma fala típica de chefe de Estado. Ao fim do evento, na entrevista ao estilo ;quebra-queixo com jornalistas;, a presidente aproveitaria para explicar à imprensa brasileira e internacional o drama que vive no país com o que define como ;golpe; a da ;traição; do vice-presidente, Michel Temer.

Antes do embarque de Dilma, 40 mulheres fizeram um pequenique perto do Alvorada em apoio à presidente

Especialistas alertam, porém, para o risco de precipitação. Se Dilma aproveitar seu espaço para se defender do impeachment, o seu discurso seria interpretado como uma derrota, avaliam. ;Ao ir para o exterior, Dilma já indica que entrega os pontos;, explicou o professor da Universidade Federal de Pernambuco, André Régis de Carvalho. ;A decisão de falar é uma tentativa de construir uma saída honrosa ao cargo, diferentemente do que fez o ex-presidente Fernando Collor, que saiu como criminoso. É a oportunidade de construir a narrativa de que não sairá nos mesmos moldes.;

;Neste momento, o discurso (dela) não tem efeito diante da decisão do Senado;, pontua o doutor em ciência política e professor da UFPE Adriano Oliveira. ;Entretanto, se o futuro presidente Michel Temer não fizer nada num período de seis meses, os setores produtivo e financeiro reagirão. Dentro de meses, se não surtir efeitos, ocorrerá uma ausência no eleitor, que ficará desesperançado e poderá, sim, questionar, se, de fato, não deram um golpe na presidente e o país não melhorou.;

É consenso entre os especialistas de que citar ;golpe; no discurso da ONU pouco pode afetar a votação pela admissibilidade do impeachment prevista para maio no Senado. ;Uma menção sutil provavelmente não deve afetar a votação;, analisa o professor do Instituto de Ciência Política da Universidade de Brasília Paulo Calmon. ;Mas a pergunta é se ela quer realmente fazer isso. Se ela quer afetar a posição dos senadores? Ou se ela quer, de certa maneira, apresentar o que ela interpreta como que esteja acontecendo no país neste momento. Então, isso vai variar muito do tom das palavras dela. É muito difícil, nesta altura do campeonato, colocar palavras na boca dela. Não tem nenhuma relevância poque a gente não sabe o que ela vai dizer.;

Segundo ele, o Brasil quer ser uma potência emergente e tem a preocupação geopolítica de se reafirmar no cenário internacional. ;Mas, para que isso aconteça, é importante que o país passe para o exterior uma imagem de ser um país que segue o estado de direito e que tem governabilidade democrática, que obedece às leis, às normas e à Constituição.;

Para Calmon, o que está em jogo é a governabilidade democrática. ;Isso independe da culpa ou inocência da presidente. O que passa a estar em jogo agora é a credibilidade do estado de direito no Brasil e do nosso compromisso com o sistema de governabilidade democrática. É isso que tem de ser enfatizado e é essa a preocupação lá fora.;

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