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Brasil vive pausa democrática para freio de arrumação, diz Ayres Britto

"O Brasil vive dias de transe institucional. Superáveis, porém", disse ele, durante painel do evento "Brazil Conference", organizado por estudantes da Universidade de Harvard e do Massachusetts Institute of Technology (MIT).

Agência Estado
postado em 22/04/2016 14:00
O ex-presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), Carlos Ayres Britto, avalia que, em meio à crise política que envolve processo de impeachment contra a presidente Dilma Rousseff e o questionamento sobre vários outros políticos, o Brasil vive um momento de "pausa democrática" para que a sociedade possa se reorganizar. "O Brasil vive dias de transe institucional. Superáveis, porém", disse ele, durante painel do evento "Brazil Conference", organizado por estudantes da Universidade de Harvard e do Massachusetts Institute of Technology (MIT).

Em palestra realizada nesta sexta-feira no MIT, Ayres Britto comparou o momento atual do Brasil com a crise política vivida em 1992, que culminou com a saída do ex-presidente Fernando Collor de Mello. "Não quero antecipar o resultado do processo, mas vejo esse momento como uma pausa democrática com freio de arrumação para ideias, valores e processos da sociedade brasileira", disse o ex-presidente do Supremo. "Quem não estiver com o cinto de segurança da decência, da transparência e do dever de casa cumprido vai se machucar seriamente", disse, ao ser aplaudido pela plateia formada especialmente por estudantes brasileiros.

Ao ser questionado por um dos presentes, Ayres Britto disse que o processo de impedimento da presidente da República é legal por ter previsão constitucional. "São antídotos contra a deslegitimização no exercício do cargo. O presidente se reveste pela voz das urnas, mas não basta esse requisito que é fundamental por ser democrático. É preciso prosseguir na legitimidade prevista no artigo 37 da Constituição", disse Ayres Britto. O trecho diz que a administração pública deve seguir os princípios da legalidade, impessoalidade, moralidade, publicidade e eficiência. "É o segundo momento que legitima o exercício cotidiano."

O ex-presidente do STF reconhece, porém, que a Justiça precisa ficar vigilante para verificar o correto funcionamento do mecanismo de impeachment em curso. "Não pode ser um pretexto para incorrer em uma deslegitimização procedimental. Para isso é que o Poder Judiciário, principalmente o STF, fica de ;standy by;, de plantão", disse.

Além disso, lembrou que, se o tema avançar no Senado, o presidente do Supremo presidirá as sessões relativas ao tema no Legislativo. "Com mais rigor, ele levará a instância política a observar os requisitos jurídicos que também fazem parte do regime constitucional do impeachment."

Apesar da crise política e econômica vivida atualmente, Ayres Britto demonstrou otimismo com o futuro e com a cidadania que foi "ativada" na sociedade. "Nós vamos sair dessa enrascada, dessa encrenca, muito mais engrandecidos na companhia da Constituição", disse.

O ex-presidente do Supremo não foi questionado nem comentou o rumor de que teria sido convidado para compor eventual governo Michel Temer.

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