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Para ex-presidente Lula, 'jogo não acaba' na quarta, com votação no Senado

Ele tem dito a interlocutores que, ao contrário das avaliações iniciais, o virtual início do governo Michel Temer (PMDB) não vai significar a volta da estabilidade política, como apregoam os aliados do vice-presidente

Agência Estado
postado em 08/05/2016 10:48
Depois de conversar com inúmeros senadores e agentes políticos na semana passada, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva voltou de Brasília convicto de que "o jogo não acaba" com a possível admissibilidade do processo pelo Senado e o consequente afastamento da presidente Dilma Rousseff, na quarta-feira.

A avaliação do petista está lastreada nas conversas que teve com senadores ao longo da semana e em pesquisas quantitativas e qualitativas às quais teve acesso

Lula tem dito a interlocutores que, ao contrário das avaliações iniciais, o virtual início do governo Michel Temer (PMDB) não vai significar a volta da estabilidade política, como apregoam os aliados do vice-presidente, e que as turbulências devem continuar até as eleições de 2018. "Ele tem convicção de que não vai parar por aqui. Aquela ideia que tentaram passar de que a votação na Câmara representava uma nova hegemonia estável no Congresso e no País e de que o jogo acabou não existe", afirmou um interlocutor do ex-presidente.

A avaliação do petista está lastreada nas conversas que teve com senadores ao longo da semana e em pesquisas quantitativas e qualitativas às quais teve acesso. Segundo os levantamentos, houve uma mudança de percepção por parte da população desde a votação na Câmara. Na Região Nordeste, o número de pessoas contrárias ao impeachment hoje é maioria. No Sudeste, ainda predomina a defesa do afastamento de Dilma, mas o volume de eleitores contrários ao processo aumentou.

[SAIBAMAIS]Lula sabe que isso não será suficiente para mudar os votos dos senadores até quarta-feira e admite que o afastamento de Dilma é inevitável, mas vê, hoje, um quadro menos desfavorável ao PT, com possibilidades de recuperação até 2018, quando deve voltar a ser candidato, e não descarta uma reviravolta na votação do mérito dentro de até 180 dias.

Segundo um aliado do ex-presidente, a situação melhorou, mas não existe um "entusiasmo" por Dilma. "Se a situação econômica fosse melhor, haveria", disse.

Opinião pública
Nas conversas com Lula senadores confirmam que vão votar a favor do impeachment embasados em pesquisas de opinião, pressão da "opinião pública cristalizada" e de setores do empresariado contrários ao PT, mas teriam se mostrado sensíveis às mudanças de conjuntura.

Lula tem evitado comentar o afastamento do presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ). A quem pede reuniões para tratar do assunto, Lula diz que aceita, "mas não vai ser hoje", e se mantém em silêncio. "Tem um aspecto especulativo se Lula começar a opinar sobre este tema", avaliou um aliado.

No entorno do ex-presidente, a percepção é de que a saída de Cunha tem aspectos positivos para Temer, mas embaralha ainda mais um quadro político considerado "esquisito".

Embora avalie que houve uma mudança para melhor da situação desde a votação na Câmara, Lula ainda mostra ter muitas dúvidas sobre os próximos passos e a ausência de uma estratégia de ação. "Vamos avaliando as coisas conforme elas acontecem. Tem pelo menos uns dois ou três anos que tudo o que acontece no Brasil ninguém prevê. Desde aquelas manifestações de 2013", disse um auxiliar do ex-presidente.

Uma das poucas certezas é que depois do "show de horror" protagonizado pelos deputados durante a votação do impeachment, no dia 17 de abril, a rejeição do eleitorado ao PT se espalhou para toda a classe política.

Aliados de Lula, também com base em pesquisas, afirmam que iniciativas como a realização de novas eleições ou de um plebiscito pela reforma política hoje têm ampla maioria na sociedade, mas a falta de apoio entre movimentos sociais e setores do PT é um obstáculo.

O ex-presidente está à procura de uma bandeira. Na sexta-feira, o PT lançou a campanha "Não ao Golpe e Fora Temer", mas o próprio partido a considera insuficiente. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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