Politica

José Serra anuncia o fim da diplomacia "ideológica"

Novo ministro critica a "partidarização" da pasta e promete resgatar os "legítimos valores e interesses"

postado em 19/05/2016 06:00

O novo ministro (E) cumprimenta o antecessor, o embaixador Mauro Vieira, na cerimônia de transmissão do cargo: discurso delineia mudança de rumos na política externa


Com o objetivo central de excluir ;ideologias; partidárias da diplomacia brasileira, José Serra apresentou ontem as linhas que devem guiar sua gestão à frente do Ministério das Relações Exteriores (MRE). No primeiro discurso à frente da Casa de Rio Branco, o novo chanceler prometeu reparar os ;desacertos; dos governos Lula e Dilma, trabalhar em prol do fomento do comércio exterior e levar o Itamaraty ;de volta ao núcleo central; do governo. Segundo o ministro, a pasta ;voltará a refletir os legítimos valores da sociedade brasileira e os interesses de sua economia;, e não mais ;as conveniências e preferências ideológicas de um partido político e de seus aliados no exterior;.

Serra, que já trabalha no MRE desde a última quinta-feira, recebeu simbolicamente o comando do Itamaraty das mãos do embaixador Mauro Vieira, diplomata de carreira que chefiou o Itamaraty nos últimos 17 meses. Na cerimônia de transmissão de cargo ; acompanhada por ministros, senadores, diplomatas e empresários ;, o senador do PSDB paulista agradeceu ;enfaticamente; a ;confiança; do presidente em exercício, Michel Temer, e foi aplaudido ao exortar a modernização da pasta. Com referências pouco otimistas aos anos de governo petista, ele considerou que o abandono de ;preferências ideológicas; colocará a diplomacia brasileira ;em melhor uso;.

Em meio à reestruturação econômica promovida pelo governo interino de Temer, o tucano pretende acelerar processos de negociações comerciais, com a meta de ;abrir mercados para as nossas exportações e criar empregos para os nossos trabalhadores;. Ele apontou como uma das prioridades de curto prazo o estreitamento das relações bilaterais com a Argentina. Serra observou que o Brasil passou a compartilhar ;referências semelhantes para a reorganização da política e da economia; com o governo do presidente Maurício Macri e assinalou que é preciso ;renovar o Mercosul;. ;Para corrigir o que precisa ser corrigido, com o objetivo de fortalecê-lo, antes de mais nada quanto ao próprio livre comércio entre os países-membros, que ainda deixa a desejar;, explica.

Bilateralismo
Apesar de defender a construção de pontes com blocos como a Aliança para o Pacífico e de considerar a troca de ofertas para um acordo entre Mercosul e União Europeia ; feita no mês passado ; o ;ponto de partida; para um acordo comercial benéfico ao Brasil, Serra defendeu a priorização de pactos bilaterais. Ele criticou a restrição da busca de oportunidades multilaterais na Organização Mundial do Comércio (OMC), e considerou que essas iniciativas ;não vêm prosperando com a celeridade e a relevância necessárias;. ;O multilateralismo que não aconteceu prejudicou o bilateralismo que aconteceu em todo o mundo. Quase todo mundo investiu nessa multiplicação, menos nós. Precisamos e vamos vencer esse atraso e recuperar oportunidades perdidas;, orientou.

Serra pregou a ampliação do intercâmbio com parceiros tradicionais ; destacando os mercados de Europa, Estados Unidos e Japão ; e a priorização de ;novos parceiros; asiáticos, como China e Índia. O chanceler afirmou que buscará ;soluções práticas de curto prazo; para a remoção de barreiras não tarifárias no comércio entre Brasil e EUA. No continente africano, a orientação será de ;atualizar; as relações. Serra considera que estratégia de cooperação Sul-Sul praticada nos últimos anos ;chegou a ser praticada com finalidades publicitárias;. ;Ao contrário do que se procurou difundir, a África moderna não pede compaixão;, disparou.

Serra não ignorou os cortes de orçamento dos últimos anos e as dívidas acumuladas pelo Itamaraty. Ele aproveitou a presença do ministro do Planejamento, Romero Jucá (PMDB), para destacar a necessidade de recuperar as finanças da pasta. ;Quero, progressivamente, retirar o Itamaraty da penúria de recursos em que foi deixado pela irresponsabilidade fiscal que dominou a economia brasileira nesta década. Quero reforçar a casa, e não enfraquecê-la;, frisou.

;Instituição de Estado;
Em sua despedida do comando do Itamaraty, o embaixador Mauro Vieira destacou o trabalho e o apoio do corpo diplomático. ;Esses servidores são testemunhas da grandeza da nossa instituição;, observou. Vieira ressaltou que o Ministério das Relações Exteriores é ;uma instituição de Estado; e ;soube manter sua coerência nos diversos momentos da nossa história;. O embaixador lembrou que dedicou 43 anos de carreira ao MRE e desejou êxito ao sucessor. ;As dificuldades são grandes, mas são conjunturais. Sabemos que o Brasil é maior do que elas e saberá superá-las.;

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