Politica

Ação contra Taiguara apura se Lula fez tráfico internacional de influência

Para investigadores, essa é a conexão mais promissora para se comprovar que ex-presidente favoreceu a Odebrecht com obras no exterior e financiamentos do BNDES. Petista já negou essa relação

Eduardo Militão
postado em 20/05/2016 12:00
O Instituto Lula disse, no início da tarde de hoje, que o ex-presidente

Os mandados da Operação Janus, deflagrada nesta sexta-feira (20/5) pela Polícia Federal, objetivam ajudar investigação mais ampla que apura se o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva praticou tráfico internacional de influência em favor da Construtora Norberto Odebrecht. O petista não foi alvo dos mandados, mas um amigo de seu filho e sobrinho da primeira mulher dele: Taiguara Rodrigues foi conduzido coerticivamente em Santos (SP) para prestar depoimento e ser liberado depois. Lá, os policiais onde cumpriram as demais ordens do juiz da 10; Vara Federal de Brasília, Vallisney Oliveira ; quatro mandados de busca, dois de condução, cinco de intimação e quebras de sigilos bancários, fiscais e de dados telemáticos, como mensagens de celular e email, de nove investigados.

A apuração mais ampla da Procuradoria da República no Distrito Federal quer saber ;se o ex-presidente recebeu vantagens econômicas indevidas para influenciar agentes públicos estrangeiros notadamente na República Dominicana, Cuba e Angola;. Outra linha é checar se ele facilitou ou apressou procedimentos de financiamentos da Odebrecht no Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES). Também são analisadas possíveis irregularidades em outros financiamentos do BNDES para a empreiteira no exterior, como o Porto de Mariel, em Cuba, do Metrô de Caracas, na Venezuela, e obras no Panamá.

[SAIBAMAIS]O Correio apurou que a conexão Lula-Taiguara é considerada uma das mais promissoras para os investigadores tentarem confirmar essas suspeitas. O ex-presidente é mencionado no inquérito do chamado ;sobrinho de Lula;. Taiguara rejeita esse rótulo. O Ministério Público entende que já reuniu ;fortes indícios de irregularidades e de condutas, em tese delituosas, no sentido de, no mínimo, dissimular e ocultar valores de origem ilícita;. Esses valores foram pagos a empresas subcontratadas pela Odebrecht para a realização de obras no exterior.

O Instituto Lula disse, no início da tarde de hoje, que o ex-presidente ;sempre atuou dentro da lei, em defesa do Brasil, como fazem ex-presidentes em todo o mundo;. Segundo o instituto, o ex-presidente ;não é parte da operação policial desta manhã, nem poderia ser;, disse a assessoria do petista. Para a entidade, a vida de Lula e as ações de seu instituto e de sua empresa de palestras LILS são alvo de ;devassa; a partir de investigação baseada em ;ilações fantasiosas;. ;Há mais de um ano, alguns procuradores da República no Distrito Federal tentam, sem nenhum resultado, apontar ilegalidades na conduta do ex-presidente Lula;. ;E o resultado apenas comprova que Lula sempre atuou dentro da lei, em defesa do Brasil, como fazem ex-presidentes em todo o mundo.;



Viagens ao Panamá
Taiguara Rodrigues é sobrinho do petista por parte de sua primeira mulher, já falecida, e dono da empresa Exergia Brasil. É amigo de um dos filhos de Lula, com que já viajou para o Panamá, atesta relatório da Operaçao Lava-Jato. Ele fechou contratos com a Odebrecht em Angola na usina hidrelétrica de Cambambé. O empresário disse à CPI do BNDES, em outubro de 2015, que recebeu US$ 1,8 milhão a US$ 2 milhões da empreiteira por contratos no país africano. Nas contas da PF, fez serviços nas obras de Cambambé por R$ 3,5 milhões. A obra recebeu US$ 464 milhões de financiamento do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES).

Os policiais investigam se esses contratos da Odebrecht com a empresa de construção civil de Taiguara foram usados para pagar propinas. A apuração começou de um Procedimento de Investigação Criminal do Ministério Público para a PF que tentava descobrir se a construtora Odebrecht pagou subornos entre 2011 e 2014 para obter ;facilidades; em conseguir empréstimos no BNDES.

Agora, a PF quer esclarecer os contratos da empreiteira fechados entre 2012 e 2015 com a pequena empresa de construção de Santos ligada ao parente de Lula. A Polícia Federal investiga a prática dos crimes de tráfico de influência e lavagem de dinheiro. Mas Taiguara negou à CPI do BNDES que Lula petista tenha interferido para que ele conseguisse contratos com a Odebrecht ou que a empreiteira tivesse obtido o financiamento bancário.

Sociedade
Outro alvo de condução coercitiva foi José Emmanuel de Deus Camano Ramos. Ele foi sócio de Taiguara até 2012 na empresa Projetai Exportadora. De 2012 a 2013, trabalhou na Exergia Brasil Projetos de Engenharia Ltda, outra firma do empresário ligado a Lula. Em 2014, Camano voou com Taiguara em duas ocasiões para o Panamá. O pai de Taiguara, Jacinto ;Lambari; Ribeiro Santos, era ;muito amigo; do ex-presidente da República, segundo ele contou em depoimento à CPI do BNDES ano passado.

Na comissão, o empresário se disse amigo de um dos filhos do petista, Fábio Luis Lula da Silva, o Lulinha. Relatório da Operação Lava-Jato aponta que os dois viajaram no mesmo avião em novembro de 2014. O voo CM 0724, da Copa Airlines, saiu de São Paulo para a Cidade do Panamá, no Panamá, em 1; de novembro. Ele voltaram no voo CM 0701 em 7 de novembro. Na companhia deles, estava ainda o empresário Fernando Bittar, sócio de Lulinha na G4, e um dos donos do sítio Santa Bárbara, em Atibaia. A PF suspeita que essa propriedade pertença a Luiz Inácio Lula da Silva, que nega a acusação.

Taiguara disse à CPI do BNDES que, apesar de sua tia ter sido casada com Lula até falecer, não se considera sobrinho do ex-presidente. Em outubro de 2015, a bancada do PT na comissão divulgou comunicado em que considerou que ;o vínculo de parentesco amplamente divulgado pelo semanário foi desmentido pelo Ministério Público;.

O Correio não localizou a defesa de Taiguara e de Camano. Um telefone registrados em nome de Camano não atendeu nesta sexta-feira. A Odebrecht disse que não comentaria o caso.

Janus ou Jano é um deus romano, uma divindade latina de duas faces, que olha para o passado e o futuro. O nome da operação é uma referência a como as investigações devem se ater a todos os aspectos do que está sendo apurado.

A íntegra da nota do Instituto Lula

;Nota sobre a Operação Janus

Há mais de um ano alguns procuradores da república no Distrito Federal tentam, sem nenhum resultado, apontar ilegalidades na conduta do ex-presidente Lula.

Uma investigação aberta a partir de ilações fantasiosas transformou-se em verdadeira devassa sobre a contabilidade do Instituto Lula, da empresa LILS Palestras e sobre as contas do ex-presidente.

Os procuradores vasculharam as viagens internacionais de Lula, quem o acompanhou, os hotéis em que se hospedou, com quem ele conversou no exterior.

E o resultado apenas comprova que Lula sempre atuou dentro da lei, em defesa do Brasil, como fazem ex-presidentes em todo o mundo.

Por isso mesmo, Lula não é parte da operação policial desta manhã, nem poderia ser.
Assessoria de Imprensa do Instituto Lula;

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