O ministro das Relações Exteriores, José Serra, disse nesta segunda-feira(30/5), em Paris, que o governo brasileiro pretende aproximar-se dos Estados Unidos e do Canadá como forma de pressionar a União Europeia a avançar em um acordo de livre comércio com o Mercosul. A declaração foi feita às vésperas de seu primeiro encontro com a comissária europeia de Comércio Exterior, Cecilia Malmstr;m, na quarta-feira (1/5), quando os dois discutirão o estado atual das negociações, que se arrastam há 20 anos.
Serra está em Paris desde o sábado à noite, segundo ele preparando-se para participar da reunião ministerial da Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico (OCDE), na quarta e quinta-feira. Antes disso, na terça-feira (31/5), às 18h, o chanceler brasileiro estará entre os convidados da recepção oferecida pelo presidente da França, François Hollande, em homenagem à Semana da América Latina, que está em curso na capital francesa.
Uma de suas prioridades em Paris, de acordo com o ministro, é fazer avançar as negociações para o acordo de livre comércio entre Mercosul e União Europeia. O debate foi iniciado em 1995, com a assinatura de um acordo-quadro entre os dois blocos, ganhou fôlego em 2000, com a abertura de negociações, mas acabou bloqueado em 2004 por desacordos entre as partes. Em 2010, o assunto ressurgiu, mas a troca de propostas entre os dois blocos só aconteceu em 11 de maio passado, após vários adiamentos.
[SAIBAMAIS]Serra ressaltou que espera que Bruxelas complete sua proposta de acordo, que considera insuficiente. "A União Europeia ainda está pendente de entregar partes de suas conclusões. Em geral no Brasil e na América Latina tem gente que diz que o acordo União Europeia-Mercosul não sai por causa do Mercosul. Isso podia ser verdadeiro no governo anterior da gente, mas não é mais", afirmou. "A bola agora está nos pés da União Europeia, e principalmente na questão agrícola."
O ministro lembrou que o bloco europeu distribui todos os anos o equivalente a 100 bilhões de euros a seus agricultores na forma de subsídios. Esse será um dos temas do encontro com Cecilia Malmstr;m às margens da reunião ministerial da OCDE. "Vamos, se Deus quiser, fazer um bom avanço", disse ele, descartando mais uma vez fazer "concessões unilaterais". "Eles não fazem, porque a gente vai fazer?", questionou.
Serra mencionou então a perspectiva de mais aproximação com Canadá e Estados Unidos como forma de pressão sobre a UE. "Vamos insistir nas possibilidades de expansão do comércio com os Estados Unidos e Canadá, até como fator para estimular mais a União Europeia a se apressar. Do contrário, muita coisa poderá ser feita com Estados Unidos e Canadá", argumentou. "Um bom player no comércio unilateral tem de sempre diversificar. Eu não posso ficar dependente de uma ou duas regiões do jeito como o mundo é hoje."
Argentina
Sobre as reservas demonstradas pela ministra das Relações Exteriores da Argentina, Susana Malcorra, que na sexta-feira, 27, se disse prudente quanto à suposta proposta brasileira de "flexibilizar" o Mercosul, abrindo a possibilidade para que membros do bloco possam negociar acordos de livre comércio fora do organismo, Serra disse que não ouviu nada sobre o assunto. "Não ouvi nada a esse respeito. Não é verdade. A nós não chegou", alegou.
Diante da argumentação de que as restrições da Argentina haviam sido abordadas pela imprensa no Brasil, o ministro respondeu: "Eu insisto que a nós não chegou isso. Vou me encontrar com a ministra argentina. É a primeira vez que ouço isso".
Conjuntura
Na reunião ministerial da OCDE, Serra pretende apresentar um conjunto de perspectivas sobre a economia brasileira nos próximos 12 meses. E, segundo o chanceler, os dados desse relatório, "conjuntural", são positivos.
"Vou fazer um balanço da economia brasileira, super conjuntural, com coisas que eu mesmo fiz, ou pegando os jornais do fim de semana, a respeito das perspectivas para os próximos 12 meses para a economia brasileira - que são boas, relativamente", disse o chanceler.