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Petrobras é "perversa" com quem não paga propinas, diz empreiteiro

Acusado de pagar R$ 1,4 milhão a deputado, Laércio Tomé, da Tomé Engenharia, nega acusação e diz que fechou empresa por conta de problemas com a petroleira, que não comenta o caso

Eduardo Militão
postado em 03/06/2016 20:07
Acusado de pagar R$ 1,4 milhão a deputado, Laércio Tomé, da Tomé Engenharia, nega acusação e diz que fechou empresa por conta de problemas com a petroleira, que não comenta o casoO empreiteiro Laércio Tomé, da Tomé Engenharia, fornecedora da Petrobras acusada de fazer parte do cartel de empresas que lesou a estatal, diz que a petroleira tinha um ;sistema perverso; com empresas que não pagavam propinas. ;O sistema da Petrobras, para empresas sérias, ele é perverso;, disse ele, em entrevista ao Correio. Ele confirma que tratava de fornecedores que pagam subornos. ;É lógico;, afirmou Laércio, antes de encerrar o assunto. Procurada pelo jornal, a Petrobras não comentou as declarações.

Acusado pelo doleiro Alberto Youssef de pagar R$ 1,4 milhão ao deputado Aníbal Gomes (PMDB-CE), Tomé nega a denúncia e afirma que uma das provas de que não está envolvido em corrupção é que sua relação comercial com a estatal o levou a fechar as portas de sua empresa de engenharia. ;Fechei, encerrei, estou entregando as obras que me comprometi a fazer, a duras penas e sobrou um passivo para pagar e mais nada. Essa é a experiência que eu tive de trabalhar com a Petrobras.;

O empreiteiro disse que os fornecedores que não fazem parte ;do rol de amizades dentro da Petrobras; são tratados como ;cachorro; e usam ;pistolão;, a exemplo de Aníbal Gomes, para conseguir audiências com diretores. Lárcio usou essa estratégia para conseguir falar com o ex-diretor da Petrobras Paulo Roberto Costa, mas afirma que venceu licitações legalmente e nunca pagou propinas. ;Nós, que não somos afilhados de ninguém e nem temos patrocínio de ninguém, somos personas non grata para a diretoria na BR. Para nós, era o rigor da lei do chicote.;

Veja trechos da conversa do empreiteiro com o Correio:

Aníbal Gomes disse que levou o senhor para uma reunião com Paulo Roberto Costa. O doleiro Alberto Youssef disse que o senhor lhe disse ter pago R$ 1,4 milhão de propina para o Gomes em acerto prévio com Paulo Roberto. É verdade?


Tem muita gente falando bobagem aí. Eu tenho obras ainda que acabaram nos anos 2000 e a gente está em demanda com a própria Petrobras sobre isso daí. O Youssef deve estar delirando. Eu jamais falaria qualquer coisa para o Youssef ou para quem quer que seja. Primeiro, eu não compactuo com isso daí. Segundo, as obras não dão resultado para que eu possa dar dinheiro sem ter... Tirar dinheiro de onde? Da minha margem, que já é pequena? Eu nunca fiz parte de cartel, nunca fiz parte de nada. Ganhamos o pleito nas licitações corretas não tendo nenhum tipo de montagem, nem de divisão de dinheiro para quem quer que seja. Não trabalhamos dessa forma. Tanto é que muito antes desses acontecimentos, já estava acabando com minha empresa de engenharia por falta de resultado.

Acabando com a empresa porque não participava do esquema?


Não dá, não dá resultado. Eu encerrei a engenharia porque eu vinha de prejuízo em prejuízo.

O deputado levou o senhor ao Paulo Roberto?


Isso é verdade. Meu escritório fica ao lado da Petrobras. O Aníbal (Gomes) falou: ;Ó, eu estou indo lá para a Petrobras, quer aproveitar? Vou falar com o diretor? Vamos comigo e tal...; E eu fui, mas, totalmente desconectado de qualquer tipo de interesse. Quando você não faz parte do rol de amizades dentro da Petrobras, você é tratado feito um cachorro. Para você ser atendido em uma audiência, você precisa de algum pistolão, entendeu? E você usa um pistolão às vezes porque, só para você marcar uma reunião lá, você fica... Nós, que não somos afilhados de ninguém e nem temos patrocínio de ninguém, somos personas non grata para a diretoria na BR, para nós, era o rigor da lei do chicote. Estavam acabando e conseguiram acabar com uma empresa que queria trabalhar de forma decente, correta e tudo o mais. Até para mim marcar uma audiência com os diretores era um problema. Eu só conseguiria uma entrevista se eu fosse na beira de alguém e aparecesse lá de supetão. Isso Por isso que eu usei o seu Aníbal Gomes. Agora, jamais em função disso eu ia [inaudível].... Quem atua nesse mercado não tem quem não conheça esse cidadão que vinha aqui representando algumas empresas querendo vender tubo, querendo vender tudo. O que você precisava na obra ele aparecia aqui e queria vender.

O Youssef?


Eu tinha um presidente-executivo que tocava a área de engenharia. Eu sou apenas o acionista do negócio. Agora, jamais, da minha boca nunca saiu uma invencionisse dessa que o Youssef está declarando. Jamais eu dei um real sequer ao deputado Aníbal Gomes.

O Paulo Roberto ou o Aníbal Gomes chegaram a lhe pedir essa vantagem indevida?


Não, nunca.

Sugerir?

Não. Como eu lhe falei, eu não tinha approach com diretoria. Acha que numa visita que eu estou fazendo o cara ia ser tão cara de pau? Seria um absurdo, seria vulgarismo demais.

A empresa fechou as portas?

Fechei, encerrei, estou entregando as obras que me comprometi a fazer, a duras penas e sobrou um passivo para pagar e mais nada. Essa é a experiência que eu tive de trabalhar com a Petrobras.

O senhor culpa a Petrobras por atrasos?

Não culpo a Petrobras. O sistema da Petrobras é que é perverso. O sistema da Petrobras, para empresas sérias, ele é perverso.

Para empresas que não pagam propina?


É lógico.

Por que exige o rigor da lei e o chicote?

Não vou falar mais nada disso daí.

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