Agência Estado
postado em 22/06/2016 17:25
Em audiência pública na Câmara dos Deputados, o procurador da República da força-tarefa da Operação Lava-Jato Deltan Dallagnol foi abordado pelo deputado Heráclito Fortes (PSB-PI) para ser ouvido e ter oportunidade de rebater o delator Sérgio Machado, que citou o parlamentar como um dos beneficiários de financiamento de campanha com propina desviada da Petrobras. "É uma coisa sem pé nem cabeça", apelou o deputado.
Já era o fim da sessão quando Heráclito subiu na tribuna para discursar. "Quero que ele (Machado) mostre um telefonema", implorou. O deputado foi interrompido por causa do fim da sessão e foi atrás do procurador insistir com o pedido. Aos jornalistas, Dallagnol lembrou que a delação do ex-presidente da Transpetro está no Supremo Tribunal Federal (STF) e que o deputado pode ter se equivocado ao recorrer a ele.
Em entrevista, o procurador disse que tem o dever de ser cordial com as pessoas, "mesmo com criminosos e condenados" e ressaltou que a postura do Ministério Público é de imparcialidade. "Se eu devo ceder nos meus deveres e obrigações funcionais para agradar uma pessoa determinada ou determinado partido? Isso jamais", respondeu.
Dallagnol criticou as discussões em torno de mudanças na lei de delação premiada e sobre acordo de leniência. Para ele, a legislação permitiu que a Lava Jato recuperasse R$ 3 bilhões aos cofres públicos e chegasse onde chegou. "Eles foram úteis do modo como estão previstos hoje. O receio que temos neste momento de estresse, de tensão política e decorrente das investigações, é que seja aproveitada uma proposta para realizar um retrocesso ou abafar as investigações", declarou.
O procurador também atacou a ideia de restringir a delação premiada de presos. "Não faz sentido algum limitar a colaboração de pessoas presas, a não ser dentro de um contexto que busque frear as investigações", enfatizou. Ele disse não acreditar que o STF vá rever a decisão que permite a prisão de réus condenados já na segunda instância.
O coordenador da Lava-Jato foi a "estrela" da comissão geral realizada no plenário da Câmara para discutir o pacote de 10 medidas de combate à corrupção que viraram projeto de lei e estão numa comissão especial da Casa. Ele disse esperar que as propostas sejam aprovadas até o fim do ano "pelo bem do País" e elogiou hoje a "movimentação" dos parlamentares em defesa do projeto. "Seria uma boa resposta para a sociedade. O Congresso tem a oportunidade de ouro de virar a página de um momento sombrio em que tantos escândalos de corrupção relacionados à política vieram à tona e promovendo reformas para que estes escândalos deixem de acontecer no futuro", comentou o procurador, defendendo a realização da reforma política e a aprovação das medidas contra a corrupção.
Na saída, Dallagnol evitou expressar o que pensa sobre o pedido de cassação do deputado afastado Eduardo Cunha (PMDB-RJ) por se tratar de um tema de cunho político e limitou-se a dizer que há investigações em curso envolvendo o peemedebista e sua família. "Oferecemos as ações porque estamos convictos de que as provas apontam que fatos criminais graves foram praticados e desvios funcionais foram praticados", afirmou.
Dallagnol desconversou sobre o fim da Lava Jato. "Eu focaria hoje não tanto em quando termina, mas o que fazer para evitar que ela se repita. Precisamos de reforma política porque o sistema político é criminógeno e precisamos reforma no sistema de justiça", disse o procurador, pregando a criação de um sistema que puna as pessoas.