Agência Estado
postado em 23/06/2016 10:54
O Palácio do Planalto começou a se envolver na disputa da sucessão de Eduardo Cunha (PMDB-RJ) na presidência da Câmara dos Deputados para tentar garantir um candidato único da base, informa o jornal O Estado de S. Paulo. O governo teme que um racha entre os aliados para a disputa prejudique a governabilidade na Casa e votações de seu interesse. Nesta semana, foram aprovados projetos considerados importantes pela equipe do presidente em exercício, Michel Temer.O envolvimento do Planalto tem se dado por meio do líder do governo na Câmara, deputado André Moura (PSC-SE). O parlamentar foi escalado para convencer lideranças do PMDB, da antiga oposição (DEM, PSDB, PPS e PSB) e do Centrão (grupo de 13 siglas liderados por PP, PSD, PR e PTB) a se unir e apoiar um candidato único para a disputa do mandato "tampão", que vai até fevereiro de 2017. Principal sustentação de Temer na Câmara, os três grupos articulam candidaturas separadas, o que já tem gerado atrito.
Moura começou a conversar com aliados nesta semana. Na terça-feira (21/6) se reuniu com líderes do Centrão e da antiga oposição. Em suas contas, pelo menos 13 deputados da base demonstram interesse na disputa. Da antiga oposição: Julio Delgado (PSB-MG), Hugo Leal (PSB-RJ), Heráclito Fortes (PSB-PI), José Carlos Aleluia (DEM-BA), Rodrigo Maia (DEM-RJ) e Antonio Imbassahy (PSDB-BA).
Já do Centrão os nomes são os de Esperidião Amin (PP-SC), Rogério Rosso (PSD-DF), Jovair Arantes (PTB-GO), Fernando Giacobo (PR-PR), 2.; vice-presidente da Câmara, e Beto Mansur (PRB-SP), 1.; secretário da Casa. Há ainda os deputados Sérgio Souza e Osmar Serraglio, ambos do PMDB do Paraná. Os peemedebistas defendem que, pela regra da proporcionalidade, o cargo de Cunha cabe ao partido, dono da maior bancada, com 66 deputados.
[SAIBAMAIS]Nas primeiras conversas que teve, o líder do governo encontrou resistência. Antiga oposição, Centrão e PMDB têm se mostrado irredutíveis e querem lançar candidatos próprios. Caso o racha continue, Moura já admitiu a interlocutores que a cúpula do Planalto poderá interferir diretamente nas articulações, no futuro, para tentar garantir o consenso em torno de um candidato da base.
Contradição
A articulação do Planalto vai de encontro ao discurso oficial do governo de que não pretende se envolver na disputa pela sucessão de Cunha. Sempre que questionados, ministros e Temer têm se esquivado de tratar abertamente do tema. Argumentam que esse é um assunto interno da Câmara e não cabe ao governo interferir. Interlocutores do presidente têm fugido das discussões públicas sobre o assunto, enquanto Cunha não renunciar ou não ter o mandato cassado.
Mesmo com a ofensiva do Planalto, líderes do Centrão continuam defendendo que o grupo têm preferência para indicar o candidato da base. "Caso ocorra eleição, é óbvio que o Centrão vai ter prevalência", diz o líder do PTB, Jovair Arantes (GO). O grupo tem cerca de 220 deputados. Próximo de Cunha, Arantes dá como certa a vacância da presidência. "Em algum momento ele (Cunha) vai renunciar", afirma.
Cientes do racha, líderes do Centrão já dizem aceitar a interferência do Planalto. "Não pode ter vários candidatos. Temos de ter unidade, se não vamos ter problemas", diz o líder do PP, Aguinaldo Ribeiro (PB). Para o líder do PR, Aelton Freitas (MG), a ação do governo será "natural".
A antiga oposição se diz contra a articulação de Temer. "Esse é um assunto interno, ele não deve se meter", diz o líder do PSB na Câmara, Paulo Foletto (ES). Segundo ele, a antiga oposição deve permanecer unida. Com 119 deputados, o grupo discute com atuais opositores de Temer (PT, PCdoB, PDT e Rede) a possibilidade de lançar um candidato em conjunto.
Nesse cenário, os próprios ministros que integram o núcleo político do governo consideram, nos bastidores, que dificilmente a base aliada chegará a um consenso para ter candidatura única. Na avaliação de um ministro de um partido do Centrão, a disputa não será "fratricida" e uma recomposição em um possível segundo turno deverá acontecer.