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MPF estima em R$ 48 mi o valor de propina da Andrade Gutierrez em Angra 3

A estimativa considera o pagamento de 4% do contrato de R$ 1,2 bilhão em propinas. Cerca de metade do valor em propinas ficaria com funcionários da Eletronuclear, o "núcleo administrativo" do esquema

Agência Estado
postado em 06/07/2016 15:22

As obras de construção civil da Usina Nuclear Angra 3, um contrato de R$ 1,2 bilhão da Eletronuclear com a empreiteira Andrade Gutierrez, podem ter embutidos R$ 48 milhões em propinas, em cálculos estimados pelo procurador da República Lauro Coelho Jr. Mais cedo, o Ministério Público Federal (MPF) e a Polícia Federal (PF) deflagraram a Operação Pripyat, investigação desdobrada da Lava Jato, mas conduzida no Rio.

A estimativa considera o pagamento de 4% do contrato de R$ 1,2 bilhão em propinas. Cerca de metade do valor em propinas ficaria com funcionários da Eletronuclear, o "núcleo administrativo" do esquema. Apenas o ex-presidente Othon Luiz Pinheiro, que teve a prisão domiciliar convertida em preventiva nesta quarta-feira, 6, teria arrecadado 1%, ou cerca de R$ 12 milhões.

Além de Pinheiro, foram presos preventivamente Luiz Antonio de Amorim Soares, Edno Negrini, Persio José Gomes Jordani, Luiz Manuel Amaral Messias e José Eduardo Brayner Costa Mattos, todos ex-diretores ou ex-superintendentes da Eletronuclear. O atual presidente, Pedro José Diniz Figueiredo, acusado de interferir nas investigações e afastado hoje por decisão da Justiça federal do Rio, é o único funcionário em atividade na subsidiária da Eletrobras.



Também teve a prisão preventiva decretada o operador de propinas Adir Assad, que já estava preso no Rio. Assad foi acusado de lavagem de dinheiro na Operação Saqueador, da PF e do MPF do Rio, a qual investiga um esquema de corrupção envolvendo a empreiteira Delta, e a Abismo, mais recente fase da Lava Jato.

Segundo o procurador Coelho Jr., o papel de Assad no esquema era "produzir caixa 2" para a Andrade Gutierrez. O operador de propinas é ligado às empresas Legend, SP Terraplanagem e JSM Engenharia, usadas para intermediar propinas pagas pela empreiteira, de acordo com o MPF.

"Se repete o mesmo esquema revelado em fases anteriores da Lava Jato, e que se repetiu na Saqueador e na Abismo (mais recente fase da Lava Jato, deflagrada segunda-feira, 4)", disse Coelho Jr.

De acordo com o procurador, os ex-executivos da Eletronuclear montaram um escritório, espécie de "quartel-general", e de lá continuavam exercendo influência na estatal. Escutas telefônicas revelaram indícios de ocultação de patrimônio, destruição de documentos e manutenção de contas no exterior, informou Coelho Jr.

O procurador explicou que o esquema usava tanto empresas de fachada, que simulavam prestação de propinas, quanto caixa 2, quando as empresas faziam saques em dinheiro. Somente uma empresa, a Eval, de prestação de serviços de transportes, estava prestando serviços de fato, mas teve o contrato superfaturado para gerar propina.

"Existe ainda a suspeita de que a Engevix, de José Antunes Sobrinho, empresa responsável pelos principais projetos de engenharia de Angra 3, também tenha realizado pagamentos de propina aos funcionários da Eletronuclear", diz uma nota distribuída pelo MPF.

Além das sete prisões preventivas, a Operação Pripyat cumpriu três mandados de prisão temporária, nove de condução coercitiva e 26 de busca e apreensão. Segundo o delegado federal Frederico Skora, somente um mandado de condução coercitiva não foi cumprido, de Antonio Ernesto Ferreira Mueller, ligado às empresas Flexsystem e AEM Sistemas, também usadas para repassar propina. Skora informou que Mueller estaria no exterior.

Também foi autorizado o bloqueio de bens e ativos de 17 pessoas físicas, mas nem a PF nem o MPF informaram o valor total envolvido.

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