Politica

Ainda que trincada, imagem de Eduardo Cunha ainda se reflete na Câmara

Em uma manobra combinada com aliados, o peemedebista renuncia à Presidência da Câmara. Eleição para escolha do sucessor é marcada para terça-feira, mesmo dia que a CCJ analisará pedido para anular a votação do Conselho de Ética

Naira Trindade, Paulo de Tarso Lyra
postado em 08/07/2016 07:41
Depois de tanto negar, em entrevistas e nas redes sociais, Cunha teve que abrir mão do cargo na Mesa Diretora da Câmara

O choroso Eduardo Cunha (PMDB-RJ), que embargou a voz ao citar a mulher e a filha durante a leitura da carta de renúncia à presidência da Câmara ; algo que ele negava em todas as entrevistas dadas ao longo dos últimos meses e em postagens nas redes sociais ; mostrou, ontem, que ainda tem ascendência sobre a tropa de choque, que lhe deve favores, para tentar escapar da cassação em plenário. Em manobras sobrepostas, Cunha apresentou um recurso contra a própria punição na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ), que se reunirá na terça-feira, e o chamado Centrão, ligado politicamente ao peemedebista, marcou, para o mesmo dia, a sessão para eleger o novo presidente da Casa.

[SAIBAMAIS]Mesmo nas sombras, Cunha ainda blefa e embaralha as cartas na Casa. ;Ficou ótimo para ele. Com a CCJ e eleição no mesmo dia, os deputados vão escolher o novo presidente e vão embora para seus estados. A cassação fica para depois;, reconheceu um interlocutor do Planalto. ;E, nesse formato, Cunha tem, sim, muita força para eleger o próprio sucessor e embolar todo o processo;, completou o aliado direto do presidente interino, Michel Temer.



O racha ficou evidente na reunião marcada para o início da noite de ontem, no apertado plenário 15 do corredor das comissões. Convocado informalmente pelos líderes presentes ; tanto da oposição quanto do governo ; para definir os próximos passos após a renúncia de Eduardo Cunha, o encontro transformou-se em cisão. Mais cedo, o presidente interino da Câmara, Waldir Maranhão (PP-MA), havia decidido que a eleição seria na quinta-feira. ;Ele não decide mais nada, ele foi demitido do cargo com a renúncia de Cunha;, afirmou o líder do PP, Aguinaldo Ribeiro (PB), em conversa com um dos vários líderes partidários da Casa.

Ascensão & queda // A trajetória de Eduardo Cunha no comando da Câmara, o homem que assusta governos e o Congresso

1; de fevereiro de 2015
; Eduardo Cunha é eleito presidente da Câmara, com 267 votos, derrotando, em primeiro turno, o candidato do PT ao cargo, Arlindo Chinaglia (SP)

11 de fevereiro de 2015
; Recria comissão para discutir o Estatuto da Família, que define como núcleo familiar apenas aqueles originados da união entre um homem e uma mulher

28 de abril de 2015
; Cunha perde votação, mas manobra e garante a criação da Comissão da Defesa dos Direitos da Mulher. A bancada feminista reclama que o colegiado tira poder da Comissão de Seguridade e Assistência Social

5 de maio de 2015
; A chamada PEC da Bengala eleva de 70 para 75 anos a idade da aposentadoria compulsória para ministros do STF. A proposta mirava a presidente afastada, Dilma Rousseff ; com ela, a petista deixaria de indicar até cinco ministros que completam 70 anos até 2018.

25 de maio de 2015
; Mesmo em plena crise econômica e discussão de ajuste fiscal, a Câmara aprova criação de uma reforma geral no Congresso, incluindo construção de um ;shopping; para os deputados, o Parlashopping, orçado em R$ 1 bilhão.

28 de maio de 2015
; Também derrotado no plenário durante a reforma política, Cunha usou da ;pedalada regimental; para votar mais uma vez a permissão para doações empresariais em campanhas políticas. Pela proposta aprovada, fica autorizada a doação de empresas para partidos políticos.

19 de agosto de 2015
; Derrotado por cinco votos em votação no plenário da Câmara, Cunha apresentou emenda aglutinativa realizando mudanças pontuais e aprovou a proposta que reduz a maioridade penal para 16 anos em casos de crimes hediondos, homicídio doloso e lesão corporal seguida de morte.

Setembro de 2015
; Os parlamentares já tinham aprovado aumentos de gastos de R$ 22 bilhões, valor bem próximo da economia de R$ 26 bilhões proposta pelo governo federal para equilibrar o Orçamento em 2016.

8 de outubro de 2015
; Aprovado, em comissão especial, o Estatuto da Família. O texto do relator, deputado Diego Garcia (PHS-PR), que define a família como o núcleo formado a partir da união entre um homem e uma mulher, foi considerado um retrocesso por diversos segmentos da sociedade.

13 de outubro de 2015
; A representação contra Eduardo Cunha foi entregue por PSol e Rede à Mesa Diretora da Câmara, que levou 14 dias para encaminhá-la ao Conselho de Ética.

27 de outubro de 2015
; Aprovada na comissão especial, a proposta de emenda constitucional que transfere do Executivo para o Legislativo a prerrogativa de se definir a demarcação de terras indígenas.

3 de novembro de 2015
; Processo contra Eduardo Cunha é oficialmente aberto no Conselho de Ética da Câmara.

Em uma manobra combinada com aliados, o peemedebista renuncia à Presidência da Câmara. Eleição para escolha do sucessor é marcada para terça-feira, mesmo dia que a CCJ analisará pedido para anular a votação do Conselho de Ética

3 de dezembro de 2015
; Eduardo Cunha aceita o pedido de abertura do processo de impeachment contra Dilma Rousseff.

9 de dezembro de 2015
; Após seis tentativas de votar o parecer preliminar pela continuação do processo, o primeiro relator do caso, Fausto Pinato (PP-SP), acabou afastado por decisão monocrática do então primeiro-vice-presidente da Câmara e atual presidente interino da Casa, Waldir Maranhão (PP-MA).

15 de dezembro de 2015
; O deputado Marcos Rogério (DEM-RO) é designado o novo relator e o seu parecer pela continuidade foi aprovado em 15 de dezembro. No entanto, também por decisão de Maranhão, a votação acabou anulada e o processo voltou à estaca zero.

2 de março de 2016
; Nova tentativa de votar o parecer. Na última hora, para garantir aprovação Marcos Rogério, sob pressão de aliados de Cunha, retirou o trecho que defendia que o peemedebista também fosse investigado pela suspeita de ter recebido propina.

6 de abril de 2016
; Cunha tenta cancelar os depoimentos de todas as testemunhas de acusação arroladas pelo relator, Marcos Rogério. A alegação da defesa é que elas só poderiam falar sobre as suspeitas de propina, mas que isso não havia sido aceito no parecer preliminar.

5 de maio de 2016
; Supremo Tribunal Federal afasta Cunha do cargo de presidente da Câmara e do mandato de deputado.

31 de maio de 2016
; Waldir Maranhão encaminha à Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) uma consulta feita pelo deputado Wellington Roberto (PR-PB) sobre o procedimento de votação dos processos
disciplinares no plenário da Casa.

14 de junho de 2016
; O Conselho de Ética aprova, por 11 votos a 9, parecer do deputado Marcos Rogério (DEM-RO) pela cassação do mandato de Eduardo Cunha.

21 de junho de 2016
; Cunha concede entrevista coletiva em um hotel de Brasília e diz que não fará delação premiada nem renunciará ao mandato de presidente da Câmara.

23 de junho de 2016
; Em recurso à CCJ, Cunha tenta anular votação do Conselho de Ética que pede perda do mandato dele.

Em uma manobra combinada com aliados, o peemedebista renuncia à Presidência da Câmara. Eleição para escolha do sucessor é marcada para terça-feira, mesmo dia que a CCJ analisará pedido para anular a votação do Conselho de Ética

6 de julho de 2016
; Relator do pedido de Cunha na Comissão de Constituição e Justiça, o deputado Ronaldo Fonseca, do Pros-DF, apresenta parecer favorável ao cancelamento da votação no Conselho de Ética. O texto será votado na CCJ na semana que vem.

7 de julho de 2016
; Pressionado e cada vez mais abandonado pelos aliados, Eduardo Cunha renuncia ao cargo de presidente da Câmara.

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