Politica

Entrelinhas: O cinismo parlamentar e a arte de uma guerra

Em artigo, articulista mostra como o longo desfecho do caso Eduardo Cunha reforça a imagem negativa do Congresso

Leonardo Cavalcanti
postado em 05/08/2016 16:18

Uma das máximas de A arte da guerra, o clássico livro de Sun Tzu sobre negociações e batalhas, aponta que, se a vitória demorar a chegar, as armas ficarão cegas. ;Quando suas armas estiverem cegas (;) outros líderes surgirão para tirar vantagem de suas dificuldades. Nenhum homem, por mais sábio que seja, conseguirá evitar as consequências.; O deputado Eduardo Cunha (PMDB-RJ) parece subverter os ensinamentos do clássico chinês. O peemedebista perdeu uma batalha há tempos, mas consegue sobreviver às custas da camaradagem e do medo de parlamentares do Centrão e de outros tantos.


Um calendário apertado na Câmara dos Deputados é a desculpa mais cínica que os políticos podem dar para manter Cunha no Congresso por mais um mês. O risco de salvação dele, a partir da ausência dos amigos do Centrão no plenário, é o que explica a sobrevivência do parlamentar até setembro, o que por si é um escárnio. E tais faltas seriam possíveis por causa do temor da vingança de Cunha, por mais fragilizado e fora de combate dentro da Casa. Ao longo dos anos, o parlamentar construiu um escudo formado por aliados dependentes de apoios eleitorais e políticos do ex-presidente da Câmara.

Defenestrado

Com a derrota de Cunha no Supremo Tribunal Federal (STF) e a renúncia do cargo de presidente da Câmara, imaginava-se que até a próxima semana o peemedebista finalmente pudesse ser defenestrado da Casa. Qual o quê? Cunha deve sobreviver olimpicamente ; desculpe o trocadilho ; aos jogos do Rio de Janeiro e pode chegar próximo às eleições ainda na cadeira de deputado. Para o parlamentar, tal prazo é uma vitória parcial sobre todos os que acreditaram que ele cairia bem antes da presidente afastada Dilma Rousseff ; a sessão final poderá ser iniciada entre os dias 25 e 29 de agosto.

O longo desfecho de um caso como o de Eduardo Cunha apenas reforça a imagem negativa de uma das piores legislaturas da história política brasileira, onde a bancada BBB (bala, boi e bíblia) comandou os primeiros anos na Casa. Mantê-lo ao longo de mais um mês como espécie de morto-vivo a assombrar os gabinetes é o pior dos acintes. Cunha é réu no Supremo sob acusação de corrupção e lavagem de dinheiro, por suposto envolvimento no escândalo da Lava-Jato. Sem o peemedebista, poderia se respirar um ar um pouco mais puro nos corredores do Congresso. Apenas por isso a cassação já valeria há tempos.

Batalha própria

De volta à Arte da guerra, antes de considerar uma derrota definitiva de Cunha, é preciso identificar o principal adversário do peemedebista. Por todos os ataques mútuos, é possível afirmar que o deputado brigou com os petistas e com Dilma Rousseff. Assim, talvez se explique como as regras de Sun Tzu podem ter sido subvertidas na história de Cunha. É que, na prática, entre a petista e o peemedebista não há vencedor. Os únicos derrotados foram os eleitores de um lado e do outro de uma batalha particular que, independente da eficiência dos ataques, levou os políticos à lona.

Olimpíadas

Para quem não é lá muito fã de esportes, a abertura das Olimpíadas hoje é uma boa oportunidade de análise política sobre a vaia contra políticos. Ao longo da semana, tanto o presidente em exercício, Michel Temer, como o prefeito do Rio, Eduardo Paes, afirmaram que não se incomodarão com possíveis protestos. Não custa lembrar que o início do fim político de Dilma com a queda da popularidade pode ser marcado na Copa das Confederações, ainda em 2013.

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