Doze dias após o impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff, também o ex-chefe do Executivo Luiz Inácio Lula da Silva reconhece que o PT agora vai precisar se reinventar e reaprender a fazer oposição. Ele criticou qualquer tentativa do novo governo de retirada de direitos dos trabalhadores.
"Primeiro precisamos arrumar as coisas dentro do PT. Discutir internamente o que nós temos que fazer. Eu não tenho dúvidas de que o PT vai ter que reaprender a fazer oposição;, disse Lula, nesta segunda-feira (12/09), ao deixar o Supremo Tribunal Federal (STF), após a posse da nova presidente da Corte, Cármen Lúcia.
Para o petista, fazer oposição é ;normal;, ;da vida democrática;. ;O PT vai ter que brigar, obviamente, que se tiver alguma coisa que seja extremamente de interesse para o conjunto da sociedade que seja colocado em votação, o partido e sua bancada vão pensar direito. Mas tentar resolver problema da crise, mexendo em direitos de trabalhadores é inaceitável;, pontuou o ex-presidente, que saiu logo depois de Temer, que foi o primeiro a deixar a cerimônia, sem falar com a imprensa.
Ao avaliar o que o Brasil aprendeu com o impeachment, Lula disse que ainda falta muito para a consolidação do processo democrático e reforçou que o ele ;foi consagrado apenas por uma maioria eventual, sem levar em conta a inexistência do crime de responsabilidade. ;É crime. É grave. Apesar de ter uma maioria na Câmara (dos Deputados) ou no Senado (Federal), todos que votaram sabem que foi uma votação iminentemente política, porque não tinha base legal para fazer aquilo. Não tinha um crime que pudesse referendar (o impeachment);, afirmou. ;A democracia é uma construção constante. A democracia não tem limite;, emendou.
Na avaliação de Lula, o movimento Fora Temer vai ser longo. ;Isso vai perdurar porque uma parcela da sociedade brasileira continua indignada. Obviamente, que o Temer vai ter que fazer um exercício muito grande como presidente para fazer com que o país saia da crise em que ele está submetido. Mas acho que vai demorar muito com esse Fora Temer;, afirmou.
Críticas
Lula minimizou o pequeno grupo de 15 a 20 pessoas que estavam ao lado do STF pedindo sua prisão e batiam bumbo. ;Deixa pedir. Eu sou favorável às manifestações. Eu nasci na vida política, fazendo manifestação contra e a favor;, disse. ;Tudo o que eu quero na vida é que o povo se manifeste quantas vezes ele quiser se manifestar e que vá consolidando o processo democrático brasileiro;, disse.
Lava-Jato
O ex-presidente evitou comentar a denúncia feita pelo ex-Advogado Geral da União, Fábio Medina Osório, de que o governo Temer quer calar a Lava-Jato, que foi demitido semana passada por telefone. ;Eu não o conheço. Não sei porque ele falou isso. Ele é responsável pelas suas palavras;, disse.
Reajuste dos magistrados
Lula evitou criticar o projeto de lei que tramita no Senado Federal e que reajusta em 16,38% o salário dos ministros do STF, elevando o teto do funcionalismo, e defendeu que os trabalhadores tenham, no mínimo, a correção pela inflação. ;Todas as categorias que merecem reajuste devem ter reajuste. Eu fui presidente da República e partia do seguinte pressuposto: o dia em que eu não puder dar aumento real de salário, eu vou dizer que eu não posso. Mas a reposição inflacionária é obrigação de todos nós dar, porque aquilo significa a perda do poder aquisitivo do trabalhador;, disse.
;A reposição inflacionária é um direito liquido das pessoas. O que não pode é ficar dizendo que é preciso diminuir o custeio e fazer reajuste exagerado para qualquer categoria, seja ela pública ou privada. Se o Brasil precisa de sacrifício, é importante fazer sacrifício;, emendou.