Eduardo Militão
postado em 26/09/2016 11:24
O delegado da Polícia Federal, Filipe Hile Pace, disse em entrevista coletiva nesta segunda-feira (26/9) que o ex-ministro Antonio Palocci, preso hoje na 34; fase da Operação Lava-Jato, administrava propinas que foram destinadas para uma futura construção de nova sede para o Instituto Lula. Segundo ele, anotações do presidente afastado da empreiteira Odebrecht, Marcelo Bahia Odebrecht, mostram que o registro ;prédio IL; ligado a compra de um terreno. Uma despesa de R$ 12 milhões, suspeita de ter origem em propina, era relacionada ao imóvel, segundo o Ministério Público.O terreno foi comprado pela DAG Construtora, empresa de um amigo de Marcelo Odebrecht. No sítio de Atibaia atribuído ao ex-presidente Lula foi apreendido uma minuta de contrato de compra do lote. Houve apreensão ainda de Um projeto de prédio de três andares nas medidas do terreno adquirido, de acordo com Pace. Mensagens de Marcelo Odebrecht eram destinadas a Palocci por meio do assessor Branislav Kontik, preso hoje também. ;Ele (Palocci) também geria esse benefício indevido que a Odebrehct concedia a seu grupo político;, avaliou o delegado.
[SAIBAMAIS]Segundo o policial, o depoimento de José Carlos Bumali, pecuarista amigo de Lula, detalha como seria a construção dessa nova sede. O empresário seria o adquirente do terreno, sendo representado pelo compadre e advogado do ex-presidente, Roberto Teixeira. Ao depor, o pecuarista disse que se recusou a figurar como comprador. Depois, a compra passou a ser feita em nome de um amigo de Marcelo Odebrecht.
A procuradora do Ministério Público Laura Tessler afirmou que Palocci foi ;constantemente consultado e informado; a compra do terreno. ;Documentos eram encaminhados a ele, preocupações eram encaminhadas a ele;, disse ela. A procuradora afirmou que a ;efetiva participação; coincide com registro de planilhas do Setor de Operações Estruturadas da Odebrecht, onde eram contabilizados os pagamentos de suborno. Um dos emails com destino a Branislav Kontic e Palocci tratava do ;Prédio do Instituto; e trazia uma planilha no arquivo ;Edificio.docx;.
Já na planilha ;Posição Especial Italiano;, apelido de Palocci, há um valor de R$ 12 milhões que coincide com o valor do terreno, de R$ 10 milhões, e mais R$ 2 milhões em débitos tributários do lote. ;Isso permite verificar indícios de que, de fato, o senhor Palocci participou e que os recursos utilizado tenham sido originados de pagamento de propina, o caixa geral de propina destinado ao partido;, afirmou Laura Tesseler na entrevista, na superintendência da PF em Curitiba.
Para o Ministério Público, a DAG foi usada como empresa ;laranja; para mascarar a propriedade do terreno. No entanto, a construção acabou não se concretizando.
Em nota nesta segunda-feira, o Instituto Lula disse que funciona no mesmo local desde 1991, quando se chamava Instituto Cidadania, uma antiga casa no bairro Ipiranga, na zona sul de São Paulo. ;O Instituto Lula não tem, nunca teve outra sede ou terreno;, afirma a assessoria do petista. ;Mais uma vez, querem impingir ao ex-presidente Lula uma acusação sem materialidade, um suposto favorecimento que nunca existiu, inventando uma sede que o Instituto Lula nunca teve, com o claro objetivo de difamar sua imagem.;
Destinatários
De acordo com a força-tarefa da Lava-Jato, as propinas pagas pela Odebrecht a Palocci precisam ser totalmente rastreadas para serem identificados seus reais destinatários. O chamado ;caminho do dinheiro; ainda não foi totalmente fechado, disseram eles em entrevista coletiva nesta segunda-feira.
Um dos casos já identificados são os repasses para para o casal de publicitários Mônica Moura e João Santana no interesse do PT. O outro é o terreno para a construção de nova sede ao Instituto Lula, que é tratada em na planilha ;Italiano; como ;Prédio (IL);.
;A aquisição do terreno inicialmente destinado ao Instituto Lula foi acertada com o ex-ministro, tendo sido o valor debitado das vantagens indevidas pactuadas;,informa o Ministério Público em comunicado.
A íntegra da nota do Instituto Lula
;Desde que foi criado, em 2011, o Instituto Lula funciona em um sobrado adquirido em 1991 pelo antigo Instituto de Pesquisas do Trabalhador. No mesmo endereço funcionou, por mais de 15 anos, o Instituto Cidadania. Originalmente, era uma imóvel residencial, semelhante a tantos outros no bairro Ipiranga, zona sul de São Paulo.
O Instituto Lula não tem, nunca teve outra sede ou terreno. Mais uma vez, querem impingir ao ex-presidente Lula uma acusação sem materialidade, um suposto favorecimento que nunca existiu, inventando uma sede que o Instituto Lula nunca teve, com o claro objetivo de difamar sua imagem.
Ao longo desses 20 anos, o endereço e o compromisso do Instituto Lula com a democracia e a inclusão social permanecem os mesmos.;