Na antevéspera do primeiro turno das eleições municipais, o Escritório Regional para América do Sul do Alto Comissariado das Nações Unidas para Direitos Humanos se manifestou em relação aos casos recentes de criminalidade registrados na campanha deste ano e pediu ;esforços; das autoridades para garantir amanhã um clima pacífico. Apenas na última semana, foram registradas ao menos duas mortes por motivações políticas. Especialistas avaliam que a crise política e a acentuação do radicalismo também são aspectos que contribuem com os ataques. Mas ponderam que as eleições municipais sempre foram caracterizadas pela violência, devido ao caráter da disputa. O presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), Gilmar Mendes, atrelou à crise de segurança a quantidade de crimes.
Na quarta-feira, o candidato a prefeito de Itumbiara (GO), José Gomes da Rocha (PTB), foi morto durante uma carreata na cidade. Morreu ainda o policial militar Vanilson João Pereira. O vice-governador goiano José Eliton (PSDB), levou um tiro e precisou ser operado. Na quinta-feira, um coordenador de campanha foi morto a tiros na prefeitura de Cantagalo, no Paraná. Segundo levantamento do TSE, já são 20 mortes de novembro do ano passado até 26 de agosto.
Em comunicado divulgado ontem, o representante para América do Sul do Alto Comissariado da ONU, Amerigo Incalcaterra, condenou a morte de José Gomes e pede rápida apuração do crime por parte das autoridades. Incalcaterra ainda demonstrou preocupação com os casos de modo geral. ;Esperamos que durante as eleições de domingo, e também no segundo turno, prevaleça um clima de paz e respeito aos direitos humanos. Só assim é possível resguardar o direito da cidadania de escolher seus representantes e, em última instância, garantir a democracia;, disse o representante das Nações Unidas.
O presidente do Tribunal Superior Eleitoral, Gilmar Mendes, disse estar preocupado com o ;quadro de segurança;, mas espera eleições tranquilas, como ;nos últimos anos;. ;Temos um quadro de insegurança pública nesse momento, não se trata de algo necessariamente associado ao quadro eleitoral, trata-se da deterioração no quadro de segurança pública e isso está repercutindo sobre o processo eleitoral;, disse Mendes. Ontem, o TSE autorizou o envio de tropas das Forças Armadas para São Luís (MA), Maragogi (AL), Limoeiro de Anadia (AL) e Tabatinga (AM). Itumbiara também terá a presença de militares
Economia
Ontem, o ministro da Defesa, Raul Jungmann,vinculou a crise econômica como um dos fatores para o alto número de mortes. Jungmann ainda demonstrou preocupação com a possibilidade de representantes de milícias e facções serem eleitos. Segundo o ministro, tropas das Forças Armadas serão enviadas a 408 localidades no país. Apesar de chamar atenção, a criminalidade nas eleições municipais não é novidade, na análise de especialistas.
Professor da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e integrante do Centro de Estudos de Criminalidade e Segurança Pública, Robson Sávio diz que a participação de representantes de diversos segmentos do crime no espaço político sempre foi alta. Mas, para o especialista, aparentemente, a criminalidade aumentou. ;Pensar em homicídios, quando há matanças de candidatos, isso é característico de países com grupos armados no poder, o que ainda não é o caso do Brasil.;
Na análise de Sávio, há ao menos dois fatores para explicar a mudança, entre elas, o descrédito da população nas instituições, inclusive a Justiça. Outro fator é o radicalismo que tem contaminado o processo. ;A disputa eleitoral deixou de ser disputa de ideias, modos de governar, para ser uma disputa a qualquer custo pelo poder. Inclusive com candidatos usando estratégias de guerrilhas, que não têm ética nem pudor. O que vale é desconstruir e atacar o outro a qualquer custo;, diz.
Para o juiz Marlon Reis, um dos idealizadores da Ficha Limpa, o que houve neste processo pode ter sido o aumento da visibilidade dos crimes e não o aumento em si, necessariamente, devido às mudanças implementadas, como o fim do financiamento privado. ;A redução das campanhas hollywoodianas torna possível ver as eleições do jeito que elas são mesmo. As eleições estão mais cruas, melhor de serem revelados os problemas;, diz.
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