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Alto número de abstenções indica quadro mais grave nas Eleições de 2018

Índice surpreendente de eleitores que se isentaram de escolher candidatos aponta para quadro ainda mais grave para as eleições de 2018, quando se escolhem presidente, governadores, senadores e deputados federais e estaduais

Regina Pires
postado em 04/10/2016 06:00
A forte rejeição demonstrada pela população nas eleições municipais pode se intensificar e as abstenções alcançarem mais de um quarto dos 144 milhões de eleitores brasileiros no pleito de 2018, acredita o analista político do Departamento Intersindical de Assessoria Parlamentar (Diap), Antônio Queiroz. As urnas no último domingo revelaram, especialmente em grandes capitais, que, somados, abstenções, votos nulos e brancos, deram um olé em candidatos mais votados.

No Rio de Janeiro, por exemplo, os dois candidatos a prefeito que ficaram na disputa do segundo turno, o senador Marcello Crivella (PRB) e o deputado estadual Marcelo Freixo (PSol), somaram, juntos, 36,87% do total de eleitores da capital (4.898.044). Enquanto isso, abstenções votos nulos e brancos chegaram a 38,11%.

[SAIBAMAIS]A projeção do analista do Diap se baseia na grande ausência observada já no pleito presidencial de 2014, quando somente as abstenções somaram 30.137.479 eleitores, ou seja, 20,10% do total de votantes, e também no histórico das eleições municipais a partir de 2004. De lá para cá, os números crescem sem parar.

Em 2004, na escolha para as prefeituras, a média de abstenção no primeiro turno, em todo o país, foi de 14,2% dos eleitores. No segundo turno, chegou a 17,29%. Em 2008, no primeiro turno, foi de 14,50% e, no segundo, de 18,09%. Em 2012, nova alta, para 16,41%, no primeiro turno, e para 19,12%, no segundo.

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Essa tendência vai piorar, na opinião do cientista político e professor emérito da Universidade de Brasília (UnB), David Fleischer. Ele aposta que a imagem dos políticos, principalmente entre os mais jovens, para quem o voto é facultativo, tende a tornar-se mais negativa. ;A Operação Lava-Jato deve trazer ainda novidades e há muitos políticos com processo em andamento no Supremo Tribunal Federal (STF). Portanto, muita água ainda vai rolar;, prevê.

É o que também aposta o analista político da Consultoria Tendências, Rafael Cortez. ;A ausência tende a crescer, se o problema político se mantiver relevante e a economia não deslanchar;, diz.

;O sentimento do eleitorado que não comparece ou opta pelo voto em branco ou nulo se deve ao descasamento entre a demanda por mudança e a oferta de candidatos, que, na maioria, são de nomes associados à política mais tradicional;, avalia.

Cortez lembra como motivação do eleitor ;o acúmulo histórico de fenômenos de corrupção, sendo, nos casos mais recentes, os episódios do mensalão, o escândalo da Petrobras, apurado na Operação Lava-Jato, que têm reforçado a antipolítica;.

;A mídia tem dado ênfase a essas malandragens. A corrupção provoca ira, chateação e alienação;, destaca o professor David Fleischer, lembrando ainda o escândalo do desvio de recursos em fundos de pensão de trabalhadores. O que os eleitores pensam, diz ele, ;é que os políticos não prestam e que o voto deles não vale nada;.

A diminuição dos votos válidos (excluídos os nulos e brancos entre os votantes), entretanto, gera efeito não esperado, argumenta Rafael Cortez, ;o de facilitar a vida dos partidos tradicionais;. O menor número de votos, na sua avaliação, ;limita a possibilidade de renovação e aumenta a chance de eleição, exigindo a conquista de menor número de eleitores;.

Uma das preocupações apontadas por Antônio Queiroz, do Diap, é a perda de legitimidade dos governos a cada eleição. ;Se um terço dos eleitores não vota, como aconteceu em determinadas cidades, e um terço de quem vai às urnas prefere os demais candidatos, o eleito governará apenas com apoio do um terço restante;, pondera.

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