Politica

Ex-aliados não querem mais conversa com Eduardo Cunha

Parte dos apoiadores do peemedebista passou a evitar se associar ao ex-deputado depois da cassação e prisão por Moro. Reação era esperada por analistas políticos

Patrícia Rodrigues - Especial para o Correio
postado em 24/10/2016 06:00
Quatro dias se passaram desde a prisão preventiva do ex-presidente da Câmara Eduardo Cunha (PMDB-RJ), mas parte dos deputados considerados aliados do peemedebista fingem não conhecê-lo mais. O movimento passou a ser percebido depois da cassação do ex-todo-poderoso parlamentar. E se intensificou com a detenção ordenada pelo juiz Sérgio Moro, apurou o Correio.

Manoel Júnior (PMDB-PB) depôs, em agosto, no Supremo Tribunal Federal (STF), como testemunha de defesa do ex-parlamentar em processo da Operação Lava-Jato. Procurado para saber se visitaria o colega, a assessoria informou que o parlamentar sequer falaria sobre esse assunto. ;Ele foi eleito vice-prefeito e não quer se pronunciar sobre isso;, disse. Manoel Júnior vai trabalhar agora no segundo posto da prefeitura de João Pessoa (PB), na chapa de Luciano Cartaxo (PSD).

O afastamento dos ex-aliados é considerado normal e esperado por cientistas políticos. ;O Cunha se tornou o ;Judas; da política e estar ao lado de uma pessoa dess, pode sobrar uma pedra para quem acompanha;, afirmou o professor da Universidade de Brasília Wladimir Gramacho. Ricardo Caldas, também da UnB, concorda. ;Nenhum político quer segurar alça de caixão;, compara. ;Se algum político cai em desgraça, nenhum outro quer ser associado a ele;, continua. A preocupação principal dos parlamentares é em não ter a imagem associada ao ex-deputado, principalmente em época em que a Lava-Jato conta com apoio popular.

Líder do governo na Câmara dos Deputados, André Moura (PSC-SE) foi um dos articuladores para tentar salvar Cunha no Conselho de Ética. Depois da prisão do ex-deputado, Moura ;está no Estado para o segundo turno das eleições municipais;, segundo sua assessoria afirmou. O parlamentar não atende a ligações para falar sobre Cunha.

Gramacho acredita que é importante lembrar que o abandono político ocorre durante o período eleitoral. ;Políticos presos simbolizam o que a sociedade mais despreza. Não faz sentido estar ao lado deles;, disse.

Arthur Lira (PP-AL) foi outro parlamentar que defendeu o julgamento de Cunha por projeto de resolução, e não por relatório do Conselho de Ética. A medida poderia beneficiá-lo com uma punição mais branda do que a cassação. A atitude de Lira à época foi vista como manobra para atrapalhar o processo e salvar Cunha. Mas, agora, o deputado ;não está disponível; para entrevista sobre o colega preso, de acordo com a assessoria.

;Continuo amigo;

Nem todos abandonaram o mais novo político presidiário da carceragem da Polícia Federal em Curitiba. Os deputados Carlos Marun (PMDB-MS) e Paulinho da Força (SD-SP) permanecem firmes com ele. Marun se mostrou triste e surpreso com a prisão do colega. Afirmou que irá a Curitiba, onde Cunha está preso, fazer uma visita. ;Não tenho plano de visitá-lo nos próximos dias, mas é provável que eu faça em dias vindouros;, disse. O parlamentar foi um dos dez que votaram contra a cassação. ;Eu sei que aqui vai se cometer uma injustiça e eu sei que eu não serei um dos injustos;, justificou à época.

Um dos principais aliados de Cunha, o deputado Paulo Pereira da Silva, o Paulinho da Força, afirmou ter falado com o ex-deputado dias antes da prisão. Para ele, o ex-presidente da Câmara já esperava por isso. ;Atuei muito com ele até o afastamento da presidente Dilma, continuo sendo amigo dele;, afirmou.

Mesmo com pouquíssimos aliados, o cientista político Wladimir Gramacho acredita que, no futuro, é possível que Cunha volte à vida política. O especialista justifica a opinião com a lembrança do senador Fernando Collor de Mello (PTC-AL). ;Ele sofreu um impeachment e conseguiu voltar. O mesmo pode acontecer com o Cunha, principalmente no Legislativo, em que não são necessários muitos votos.;

Antes e depois
As declarações feitas pelos até então recentes aliados de Cunha e seus assessores nos últimos dias

#Saifora

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André Moura (PSC-SE)
;Está no Estado para o segundo turno das eleições municipais;

Arthur Lira (PP-AL)
;Não está disponível (para entrevista sobre Cunha);

Manoel Júnior (PMDB-PB)
;Ele foi eleito vice-prefeito e não quer se pronunciar sobre isso"

#Tamojunto

[FOTO3]
Paulinho da Força (SD-SP)
;Atuei muito com ele até o afastamento da presidente Dilma, continuo sendo amigo dele;

Carlos Marun (PMDB-MS)
;Não tenho plano de visitá-lo nos próximos dias, mas é provável que eu faça em dias vindouros;

Manifestantes pedem fim do foro especial
Cerca de 200 manifestantes pediram ontem o fim do foro privilegiado em tribunais superiores para políticos. Eles também exigiam a prisão do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e do presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL). O movimento foi na avenida Paulista, em frente ao Masp, em São Paulo. Houve um embate com integrantes de um protesto pelo fim da violência contra a mulher (veja mais na página 5). Durante alguns minutos, os grupos gritaram palavras de ordem um contra o outro. Policiais militares chegaram a se posicionar entre os dois protestos, mas não houve confusão. Os manifestantes inflaram dois bonecos gigantes retratando Lula e Renan como presidiários. Com bandeiras do Brasil e cartazes, os participantes do ato faziam menções de apoio à Operação Lava-Jato e ao juiz federal Sérgio Moro, que conduz as investigações em primeira instância.



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