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Lula usava codinome "amigo" em planilhas da Odebrecht, garante a PF

Polícia Federal indicia Antonio Palocci e Marcelo Odebrecht por corrupção e conclui que ex-presidente é um dos beneficiários de propinas listadas em planilha. Defesas de petistas criticam as conclusões dos delegados em inquérito

Eduardo Militão
postado em 25/10/2016 06:39
Polícia Federal indicia Antonio Palocci e Marcelo Odebrecht por corrupção e conclui que ex-presidente é um dos beneficiários de propinas listadas em planilha. Defesas de petistas criticam as conclusões dos delegados em inquérito

Relatório da Polícia Federal assegura que ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva é a mesma pessoa do codinome ;amigo; em planilhas que a empreiteira Odebrecht usava para escamotear personagens que recebiam propinas. Para o ;amigo;, foram direcionados R$ 8 milhões. Ontem, os policiais indiciaram o ex-ministro da Fazenda e da Casa Civil Antônio Palocci Filho; o presidente afastado da construtora, Marcelo Odebrecht; os marqueteiros do PT João Santana e Mônica Moura; e os ex-assessores Branislav Kontic e Juscelino Dourado.

De acordo com a PF, planilhas e mensagens apreendidas nos endereços, nos servidores de e-mail e nos telefones celulares ligados à empreiteira permitem concluir que o ex-presidente é chamado, por Marcelo Odebrecht, de ;amigo de meu pai; e ;amigo de EO;, referência a Emílio Odebrecht, pai do empresário. Palocci, Branislav e Dourado foram indiciados por corrupção passiva. Marcelo Odebrecht, por corrupção ativa. João e Mônica Santana, por lavagem de dinheiro.

[SAIBAMAIS]A polícia calculou que os pagamentos ao codinome se acumularam entre o fim de 2012 e o ano de 2013. Esses repasses ;foram coordenados por Marcelo Bahia Odebrecht junto a Antonio Palocci Filho;, afirma o delegado Filipe Hile Pace no relatório. Os arquivos com as planilhas são intitulados de ;Posição Italiano;, com uma versão de 31 julho de 2012 e outra atualização datada de 22 de outubro de 2013. Para os investigadores, o ;Italiano; era Palocci, cuja função era distribuir propinas para petistas, inclusive Lula, e ficar com uma parte delas.

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Os subornos, assegura a PF, faziam parte de um caixa formado por valores devidos por taxas de corrupção a serem pagas devido a contratos com a Petrobras e outras estatais. Ao fim e ao cabo, a Lava-Jato afirma que há um sistema de financiamento partidário ilegal e comissionamento ilícito de altos funcionários públicos a partir de grandes fornecedores do Estado.

De acordo com Pace, os R$ 8 milhões para Lula ;foram debitados do ;saldo; da ;conta-corrente da propina; que correspondia ao agente identificado pelo codinome de amigo;. Para ele, existe ;respaldo probatório e coerência investigativa em se considerar que o ;amigo; das planilhas (;) faça referência a Luiz Inácio Lula da Silva;. Ele lembrou que a apuração se restringe a Palocci e a seus supostos negócios com a empreiteira. O caso de Lula é tratado pelo delegado Márcio Anselmo em outro inquérito, que já foi informado das revelações. Ambos fazem parte do grupo de trabalho da Lava-Jato na PF em Curitiba.

;Lawfare;

Os advogados do ex-presidente Cristiano Zanin e Roberto Teixeira desqualificaram as conclusões da polícia. ;A Lava-Jato não apresentou qualquer prova que possa dar sustentação às acusações formuladas contra Luiz Inácio Lula da Silva, mesmo após ter promovido devassa em relação ao ex-presidente, seus familiares, colaboradores, ao Instituto Lula e à empresa de palestras Lils;, disseram, em nota. ;São, por isso, sem exceção, acusações frívolas, típicas do lawfare, ou seja, da manipulação das leis e dos procedimentos jurídicos para fins de perseguição política.; Segundo a dupla, o relatório de Filipe Pace não pode sequer ;ser tratado como oficial;, porque representaria apenas ;indevida e inconsequente opinião; de um delegado ;sem elemento algum para autorizar a conclusão de que Lula recebeu qualquer vantagem indevida;. ;Todas as contas de Lula já foram analisadas pela Polícia Federal e nenhum valor ilegal foi identificado.;

Parte dos pagamentos de propina foi destinado à tentativa de compra de um terreno novo para o Instituto Lula, suspeita a PF. Para isso, listam repasses de R$ 219 mil para a DAG Construtora, ligada à Odebrecht, e para o advogado Roberto Teixeira. Mas, segundo o defensor, esses pagamentos se referem a honorários de serviços que ele prestou. ;Assessorei juridicamente um cliente ; que não é o Instituto Lula ; na aquisição de um imóvel na Vila Clementino, em São Paulo (SP);, afirmou em nota. ;Posteriormente, solucionadas as intrincadas pendências jurídicas, assessorei o mesmo cliente na revenda do referido imóvel para a DAG.;

O advogado de Palocci, Guilherme Batochio, desqualificou o relatório da polícia. ;Nada se acrescentou;, afirmou ele ao Correio. ;Tudo continua como dantes: uma miríade de suposições e presunções sem qualquer lastro na realidade.; A defesa de Palocci sustenta que ele não é o ;Italiano; das planilhas e que o ex-ministro não pode ser responsabilizado por documentos internos da Odebrecht. A empreiteira não tem prestado esclarecimentos. A reportagem não localizou ontem as defesas do casal Santana, de Branislav e Dourado.

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