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Justiça mantém prisão de Cabral, Adriana Ancelmo e mais três

Os advogados dos réus anunciaram que recorrerão ao Superior Tribunal de Justiça (STJ)


Ao acompanhar o voto do relator, o desembargador Paulo Espírito Santo exaltou-se e disse que o caso "extrapolou muito o limite da razoabilidade e da criminalidade". "O brasileiro não suporta mais a corrupção e só ver pobre na cadeia", afirmou.

O magistrado disse que também se apoiou na informação do Ministério Público Federal de que Adriana viajou 67 vezes de 2006 a 2016 e só em 20 levou os filhos. Para ele, isso contraria a tese da defesa de que a ré teria de ficar em prisão domiciliar para dar assistência aos filhos.

A procuradora da República Monica de Ré disse que foram apontadas inúmeras provas contra Cabral nas delações da Andrade Gutierrez e na Operação Calicute. Ela também citou as fotos de Cabral com diretores das empreiteiras envolvidas no suposto esquema de propina com o governo, em uma viagem de luxo a Paris.

"É um escárnio com a população do Rio, com tudo aquilo que estamos vivendo, ver estas imagens de novo. É uma verdadeira humilhação ver os gastos com hotéis caros, restaurantes, joias, uma falta de vergonha, me desculpem as palavras", disse ela, referindo-se à crise pela qual o Estado do Rio de Janeiro passa.

Mônica afirmou ainda que o escritório de advocacia da ex-primeira dama do Rio foi usado para lavagem de dinheiro e lembrou que os ganhos da banca de Adriana aumentaram durante a gestão de Cabral no governo do Estado. "Empresas pagaram valores vultosos ao escritório neste período, inclusive concessionárias de serviços públicos. É curioso", disse a procuradora.

Já a procuradora Silvana Batini argumentou que a prisão preventiva é necessária na medida em que joalherias relataram a venda de centenas de joias para Cabral, Adriana e operadores, e muitas ainda estão desaparecidas. A investigação do MPF aponta que essas joias poderiam ter sido utilizadas para lavar dinheiro

"Há que se perguntar onde estão as demais joias. Já foram revertidas em ativo? Onde está o dinheiro? A investigação não terminou, é preciso ter espaço e segurança para se prosseguir", afirmou.

Ela também rebateu a defesa de que Adriana precisaria ter prisão domiciliar para cuidar dos filhos e citou estatísticas sobre mulheres que estão presas e têm filhos. "Há que se avaliar se a condição de mãe de uma criança possa significar uma prisão domiciliar. Seria ousado demais para a nossa realidade. A maioria das presas é ligada ao tráfico de drogas. Há que se perguntar com quem ficam essas crianças nesta situação". "Neste caso (Adriana e Cabral), eles devem ter governantas, secretárias, e estas crianças não estão em risco ou desamparadas", disse.

Advogados

O advogado de Cabral, Raphael Mattos, sustentou a defesa do ex-governador, em 15 minutos, alegando que "é difícil encontrar na decisão os motivos da prisão preventiva" e que ele se manteve disponível para prestar esclarecimentos para o Ministério Público Federal. "Já se sabia que ele (Cabral) seria alvo de uma operação, pela mídia, e ele não interferiu. Foi preso em casa, arrecadaram valores na casa dele. A casa dele estava como sempre esteve. Qual a necessidade da prisão?" disse.

Mattos também argumentou que a prisão preventiva de Cabral o afasta de seus laços familiares e afirmou que a decisão seria uma "antecipação de pena". "Não há que se falar agora em antecipação de pena. O Ministério Público se aproveita desse momento para mudar a legislação. É concluir antecipadamente que houve bens desviados. É querer ser juiz e legislar no seu bem entender", afirmou.

Já o advogado de Adriana Ancelmo, Luiz Guilherme Vieira, voltou a argumentar que sua cliente é mãe de dois filhos, de 10 e 14 anos, que estão com os pais presos e que não há quem faça a matrícula de ambos na escola, no próximo dia 19.

O ex-governador e a ex-primeira dama do Estado do Rio de Janeiro foram presos preventivamente por ordem da primeira instância, onde tramita processo penal que apura os fatos ligados à Operação Calicute, conduzida pela Polícia Federal.

Por Agência Estado