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'Privatizações de Doria vão contra o Plano Diretor', diz Haddad

"A cidade está destinada a executar o que planejamos até 2030", afirma

postado em 28/12/2016 07:45
Com o decreto que retira os embargos municipais para a transferência da Companhia de Entrepostos e Armazéns Gerais do Estado de São Paulo (Ceagesp), Fernando Haddad (PT) concluiu seus projetos urbanísticos para a cidade com a esperança de ser reconhecido, no futuro, por ter replanejado a capital, contido a expansão imobiliária em direção à zona sul e remanejado o interesse do setor para a região leste. "A cidade está destinada a executar o que planejamos até 2030", afirma.

Haddad fez nesta terça-feira, 27, à reportagem um breve balanço de sua administração, reprovada por 66% dos entrevistados em pesquisa Ibope de outubro - apenas 4% dos ouvidos na ocasião classificaram a gestão petista como "ótima". Ele criticou os planos do prefeito eleito João Doria (PSDB), para quem perdeu a disputa para a Prefeitura ainda no primeiro turno, e não quis falar sobre seu futuro político, o destino do PT, a Operação Lava Jato nem sobre o governo de Michel Temer. A seguir, os principais trechos da entrevista:

O senhor aposta na legislação urbanística como legado. Mas isso não dependerá do que os próximos prefeitos vão fazer com a cidade?

Isso não tem volta, está no Plano Diretor. É um plano urbanístico até 2030. É para quatro, cinco administrações. Se há um consenso em torno disso, o mercado a favor, até o (prefeito eleito João) Doria (PSDB) a favor, não tem por que mudar. A mudança da Ceagesp viabiliza o Arco do Futuro. Estudamos isso por anos. As âncoras que pensamos para o desenvolvimento da cidade, que vocês publicaram (em maio de 2015), eram o Terminal de Santa Etelvina, na Cidade Tiradentes, que depois substituímos pelo Canindé, o Anhembi, o Pacaembu, Ceagesp, e falamos da concessão de Interlagos.

Mas a gestão Doria já fala em mudanças no Anhembi e no Autódromo de Interlagos.

O que tem de divergente, e vale a pena o debate, é a venda do Anhembi e Interlagos. Primeiro tem a questão da reserva de terras na cidade, que é importante. Mas, no caso de Interlagos, ali é área de manancial. Levar desenvolvimento imobiliário para lá vai concorrer com o Arco Tietê, que quer trazer desenvolvimento para o centro. Ali não é a questão do Autódromo. É o desenvolvimento do entorno, levar hotel. É um erro do ponto de vista urbanístico. A lógica de nosso plano é inverter o eixo de desenvolvimento da cidade: em vez de seguir para a zona sul, pela margem do Pinheiros, voltar pela margem do Tietê, mais perto da zona leste. E a trava ali era a Ceagesp, que estamos retirando. Esses projetos já estavam todos em curso.

Isso quebra sua proposta?

Quebra a lógica do Plano Diretor. Privatiza a terra, que não é conveniente, e reforça o vetor sul do desenvolvimento imobiliário, quando o ideal é trazer o desenvolvimento para o centro pela Marginal. Por isso esse caminho Ceagesp-Anhembi-Pacaembu, as âncoras do desenvolvimento. Na minha opinião, (a venda do Autódromo) está em conflito com o Plano Diretor. É 1 milhão de metros quadrados, 40 vezes a área do Parque Augusta, e entre as duas represas. As pessoas não dão conta disso. O programa do Doria dá continuidade a essas âncoras que eu estabeleci na Lei de Zoneamento, a divergência está em vender ou não Anhembi e Interlagos.

Mas a venda dos dois locais não iria alterar o uso.

Não iria alterar o uso. No caso do Anhembi, tem a questão do sambódromo, de ser a entrada da cidade, mas discussão sobre alienação ou não é importante, sobretudo no caso de Interlagos, por puxar o desenvolvimento urbano para o sul. Mudar o eixo vetor para a zona leste, onde tem metrô, trem, desrodoviarizando as Marginais. Por isso a questão da velocidade (nas Marginais) é importante. Não é um capricho. Desrodoviarizar as Marginais tem a dimensão de segurança no trânsito, mas tem a questão urbanística por trás.

Seu receio é não ser reconhecido por esse plano?

Tudo o que planejei vai acontecer, com uma ou outra coisa diferente. A saída da asa fixa (aviões) do Campo de Marte estava acordada com a (ex-presidente) Dilma desde 2013, assim que o Aeroporto da JHSF (em São Roque) ficasse pronto. O Condephaat (órgão estadual de proteção ao patrimônio histórico) está analisando a concessão do Pacaembu, o Conpresp (equivalente municipal) já autorizou. Nossa proposta era que os quatro grandes times tivessem estádio na cidade, e o Santos tem interesse no Pacaembu. A Ceagesp está saindo. Tudo o que propus está encaminhado. O que ele (Doria) está propondo de diferente? A venda de Anhembi e Interlagos. O resto, não tem nada de novo. Acho que ideia não tem pai, mas tem de ter o registro certo. O edital para a concessão do Pacaembu já tem dois anos, por exemplo. O Anhembi nós também iríamos fazer a concessão. Parou porque o Doria ganhou, senão iria continuar. O Doria está dando continuidade ao planejamento da minha gestão. Com duas mudanças que não estavam programadas. E esse é um debate interessante, sobre essas mudanças. As âncoras do desenvolvimento da cidade são históricas.

Sua gestão também ficará marcada por não ter cumprido as metas a que se propôs. O que o senhor tem a dizer?

O fechamento global é: 58% das metas 100% cumpridas, 71 de 123. Se considerar as parcialmente cumpridas, na proporção do cumprimento, 83% das metas foram cumpridas, com as metas isoladas consideradas na proporcionalidade. Nenhuma meta está em 0%.

O senhor já falou de fatores externos para esse desempenho, como a falta de repasses de verbas federais. Qual é a culpa da sua gestão nesse resultado?

O maior problema para não atingir 100% foi a recessão. Dois anos de recessão? Não é qualquer recessão. São dois anos de recessão, 8% em dois anos. Agora, esse resultado é muita coisa diante desse contexto econômico. Não conseguiria imaginar resultado melhor para esse contexto econômico. Se a gente não tivesse interrompido o fluxo de recursos no final de 2014 do (Programa de Aceleração do Crescimento) PAC Minha Casa Minha Vida, nós teríamos cumprido a meta de 55 mil unidades habitacionais fácil. Estamos há dois anos sem assinar um contrato com a Caixa Econômica Federal. Temos terreno para fazer 80 mil unidades. É ponto para o Doria levar à frente os projetos que eu planejei. Se ele não reconhecer (a autoria), os jornais deveriam.

Reconhece habilidades políticas no prefeito eleito que faltaram ao senhor ao longo da sua gestão?

Ele é querido da imprensa. Se eu fosse querido da imprensa, meu amigo, seria secretário-geral da ONU.

Por que o senhor acredita que perdeu a eleição?

Contexto político.

Não faltou ir à periferia, fazer campanha, essas coisas?

Contexto político. Você perguntou, estou respondendo.

Um mérito que apontam por sua gestão foi ter renegociado a dívida da cidade, que vai liberar recursos para investimentos. Não há risco de esses recursos se perderem no ano que vem para custear a tarifa de ônibus a

R$ 3,80?

Você já respondeu a pergunta. É uma decisão que ele (Doria) tomou (de congelar o valor da tarifa). Não sei o que ele planeja Sou professor, não sou gestor.

Por Agência Estado

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