A morte do ministro do Supremo Tribunal Federal Teori Zavascki pode provocar uma alteração no ritmo das investigações da Operação Lava-Jato. Independentemente de o futuro relator dos processos referentes à corrupção na Petrobras ser um nome indicado pelo presidente Michel Temer ou um ministro da Corte, haverá algum tipo de prejuízo, pois Teori tinha a memória do processo. Mas ninguém acredita que a tragédia seja capaz de sepultar em definitivo as investigações que envolve ministros, parlamentares, lideranças políticas e empresariais de peso no país. ;Um relator é uma peça importante no processo. Estamos diante de um tribunal colegiado. Por isso, não creio que haverá problemas de continuidade;, afirmou ao Correio o ex-ministro do STF Carlos Velloso.
Teori era visto como uma peça central no processo de investigação. Tanto por lidar com as ações dos políticos envolvidos na Lava-Jato, quanto por ser o responsável pela homologação das delações premiadas fechadas pelos procuradores de Curitiba. Tanto que uma das primeiras ações a serem tomadas por ele, quando terminasse o recesso do Judiciário, seria o levantamento do sigilo da delação dos 77 executivos da Odebrecht. A expectativa era enorme, tanto que as denúncias da maior empreiteira do país eram chamadas de delações do fim do mundo.
Responsável pelo processo em primeira instância, o juiz Sérgio Moro não escondeu sua perplexidade com a morte de Zavascki. ;Sem ele, não teria havido a Operação Lava-Jato. Espero que seu legado de serenidade, seriedade e firmeza na aplicação da lei, independentemente dos interesses envolvidos, ainda que de poderosos, não seja esquecido;, alertou. Para Moro, Teori foi um grande magistrado e um herói brasileiro. Um analista político considera quase inevitável alterações na velocidade de apuração. ;O relator tinha esse processo, que é gigantesco, de memória. Quem chegar agora terá de tomar pé de um calhamaço de papéis, delações, provas, o que não acontece da noite para o dia;, ressaltou.
Mesmo confiante de que o processo da Lava-Jato não sofrerá interrupção, Velloso ressaltou algumas qualidades do ministro morto que não podem ser desprezadas e que ajudavam a dar o tom do processo da Lava-Jato no STF. ;O momento é grave, pois Teori era um ministro competente, equilibrado, preparado e extremamente discreto. Não era alguém que se impressionava com os holofotes;, destacou. ;Assim, é muito importante a indicação feita pelo presidente Temer para suceder Teori, pois será este nome o responsável pela continuidade das investigações;, frisou.
Imparcialidade
Na avaliação do ministro do STF Marco Aurélio Mello, o acidente não pode interromper as investigações. ;No meu entendimento, os procedimentos urgentes sob ofício de Teori Zavascki devem ser imediatamente redistribuídos;, defendeu. Uma fonte consultada pelo Correio afirmou que é praticamente impossível, como sonham alguns políticos importantes, ;estancar a sangria da Lava-Jato;. ;O STF não tem como voltar atrás nas investigações. Eles deixaram as coisas irem longe demais para isso;, declarou um jurista importante. A pressão das ruas a favor da Lava-Jato é enorme.Outro especialista sugere um pouco mais de cautela, afirmando ser impossível prever qualquer coisa neste momento. Especialmente sem saber o destino dos processos que estavam sob os cuidados de Teori. ;Perdeu-se um juiz técnico, imparcial e que zelava pela boa aplicação do direito;, frisou. Essas qualidades também foram ressaltadas pelo ex-ministro da Justiça e advogado da ex-presidente Dilma Rousseff no processo de impeachment, José Eduardo Cardozo: ;Foi um dos homens mais dignos que tive a oportunidade de conhecer em toda minha vida. Conhecedor do direito, juiz imparcial e humano;, frisou.
Amigo pessoal de Teori, o advogado e ex-deputado Sigmaringa Seixas considera até uma falta de respeito com os familiares, neste momento, ficar especulando o quanto a tragédia poderá influenciar nos rumos da Lava-Jato. ;É claro que alguma alteração vai haver. Não apenas neste caso, mas em todos os processos que ele relatava;, disse. Para Sigmaringa, embora seja um processo com bastante repercussão, não se pode tratar a Lava-Jato de uma maneira diferente dos demais processos.
Ele acredita que alguns assuntos precisarão ter uma atenção especial, como os habeas corpus de investigados na Lava-Jato e que estavam para ser analisados por Teori. ;A grande perda nesse processo é de um magistrado que tinha fundamentação jurídica e era cordato com os advogados, sem ceder às pressões inerentes a casos de grande repercussão;, elogiou Sigmaringa.