Politica

Empresário Eike Batista é alvo de segunda fase da Lava-Jato no Rio

Eike Batista é investigado pelo pagamento de propina de US$ 16,5 milhões ao ex-governador Sérgio Cabral, que também é alvo de prisão preventiva na Operação Eficiência

Jacqueline Saraiva
postado em 26/01/2017 06:23
O empresário Eike Batista é um dos alvos da Operação Lava-Jato
Principal alvo da Operação Eficiência, segunda fase da Lava-Jato no Rio de Janeiro, o empresário Eike Batista é procurado pela Polícia Federal na investigação que apura desvio de, aproximadamente, US$ 100 milhões (cerca de R$ 340 milhões) em propinas no esquema criminoso liderado pelo ex-governador do Rio de Janeiro, Sérgio Cabral. Até a tarde desta quinta-feira (26/1), o empresário, dono do grupo EBX, não havia sido localizado. De acordo com o delegado Tacio Muzzi, da Polícia Federal, o nome de Eike ainda pode ser incluído na difusão vermelha da Interpol, dos mais procurados em todo o mundo.

No total são nove mandados de prisão preventiva, quatro de condução coercitiva e 22 de busca e apreensão, em ação conjunta da PF com o Ministério Público Federal (MPF) e a Receita Federal. A Operação Eficiência é um desdobramento da Operação Calicute, deflagrada no fim de 2016.

Em coletiva à imprensa, a força-tarefa da Lava-Jato no Rio de Janeiro detalhou as ações da PF na investigação. Segundo o procurador Leonardo Freitas, dos nove mandados de prisão preventiva, a PF havia cumprido quatro até o início da tarde de hoje. Foram presos Álvaro Novis, o advogado Flávio Godinho - que é vice-presidente de futebol do Flamengo e ex-braço direito de Eike -, Thiago Aragão (da Ancelmo Advogados) e Sérgio de Castro Oliveira. Outros três mandados foram cumpridos em custódia, contra Cabral, que está preso no complexo penitenciário de Gericinó, em Bangu, assim como Wilson Carlos e Carlos Miranda, que também estão presos.
Sérgio Cabral é apontado como líder de organização criminosa que ocultou dinheiro de propina em contas no exterior
Todos os mandados, que serão cumpridos apenas no Rio de Janeiro, foram expedidos pelo juiz Marcelo Bretas, da 7; Vara Federal Criminal do estado. As pessoas que são alvo de condução coercitiva serão levadas para a Polícia Federal no Rio de Janeiro. A ação mobiliza cerca de 80 policiais federais.

Dinheiro oculto

A investigação aponta crimes de lavagem de dinheiro de obras públicas do Rio de Janeiro, corrupção ativa e passiva, além de organização criminosa. Há indícios da ocultação no exterior de, aproximadamente, US$ 100 milhões (cerca de R$ 340 milhões). De acordo com a PF, cerca de R$ 270 milhões já foram repatriados.

Segundo procuradores, Eike Batista, junto com o vice-presidente de futebol do Flamengo Flávio Godinho, pagou uma propina de US$ 16,5 milhões ao ex-governador do Rio de Janeiro, Sérgio Cabral. O esquema usou a conta Golden Rock no TAG Bank, no Panamá. O valor foi solicitado por Cabral ao dono do grupo EBX em 2010.

Para dar uma aparência de legalidade à operação financeira ilícita, um contrato de fachada foi realizado no ano seguinte, entre a empresa Centennial Asset Mining Fuind Llc, holding de Eike Batista, e a empresa Arcadia Associados. O contrato era uma falsa intermediação na compra e venda de uma mina de ouro. A Arcadia, segundo os procuradores, recebeu a propina em uma conta no Uruguai, em nome de terceiros, mas à disposição de Cabral.

Os três também são apontados pelo Ministério Público Federal (MPF) e pela Polícia Federal (PF) como suspeitos de atos de obstrução da investigação. Em uma operação de busca e apreensão em endereço vinculado a Eike Batista, em 2015, foram apreendidos extratos que comprovavam a transferência dos valores ilícitos da conta Golden Rock para a empresa Arcadia.

De acordo com o MPF, eles orientaram os donos da Arcadia a manterem perante as autoridades a versão de que o contrato de intermediação seria verdadeiro. ;De maneira sofisticada e reiterada, Eike Batista utiliza a simulação de negócios jurídicos para o pagamento e posterior ocultação de valores ilícitos;, afirmam os nove procuradores corresponsáveis pela operação de hoje.

Procurado

O delegado Tacio Muzzi, da Polícia Federal, afirmou, em coletiva à imprensa que, caso Eike Batista não entre em contato em curto prazo, será considerado foragido da Justiça. A Justiça Federal deu ordem de prisão preventiva contra o empresário dono do grupo EBX na investigação da Operação Eficência, em curso nesta quinta-feira (26/1).

De acordo com Muzzi, há indícios de que ele teria deixado o país na noite de 24 de janeiro com destino a Nova York, nos Estados Unidos. Também é apurada a informação de que ele teria saído com passaporte alemão. No entanto, não havia prévio conhecimento da Polícia Federal sobre o fato. "Os investigados foram acompanhados e não havia restrição para sair (do país), porque isso comprometeria a investigação", afirmou.

A informação de que Eike havia viajado só chegou ao conhecimento da PF na madrugada de hoje. Agentes foram à casa do empresário, no Jardim Botânico, mas não o encontraram. Um advogado teria avisado sobre a viagem de Eike e que ele se apresentaria posteriormente à Justiça, em data não definida. "A PF está em pleno contato com a Interpol para verificar se ele chegou a Nova York, mas isso ainda não se confirmou. Não se pode afirmar categoricamente se houve a intenção de fuga", explica o delegado.

Veja a lista de mandados judiciais expedidos pela 7; Vara Federal Criminal do Rio:

PRISÕES PREVENTIVAS

Eike Batista, empresário

Sérgio Cabral, ex-governador do Rio de Janeiro

Flávio Godinho, advogado

Wilson Carlos, ex-secretário de governo e ex-assessor de Cabral

Carlos Miranda, ex-assessor de Cabral

Álvaro Novis, membro da organização

Sérgio de Castro Oliveira, membro da organização

Thiago Aragão (Ancelmo Advogados), membro da organização

Francisco de Assis Neto, membro da organização

CONDUÇÕES COERCITIVAS

Suzana Neves, ex-mulher de Sérgio Cabral

Maurício Cabral, irmão de Sérgio Cabral

Eduardo Plass, da TAG Bank e gestora de recursos Opus

Luiz Arthur de Andrade Correia, preso na 34; fase da Lava-Jato em setembro

APREENSÕES

Ocorrem em endereços residenciais ou comerciais de Susana Neves, Maurício Cabral e dos seis presos sem mandado anterior

Fonte: Polícia Fderal e Ministério Público

Troca de mensagens

Na quinta-feira (19/1), reportagem do Correio mostrou que o esquema de liberação de financiamentos da Caixa Econômica Federal (CEF) e do Fundo de Investimentos do Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FI-FGTS) para empresas em troca de propina, comandado pelo ex-deputado Eduardo Cunha e pelo ex-vice-presidente da Caixa Fábio Cleto, não se limitava às 11 empresas citadas na Operação Cui Bono. Documentos exclusivos apontam que Cunha e Cleto também atuaram para liberar recursos para empresas de Eike Batista.

O relatório dos investigadores da Polícia Federal (PF) e do Ministério Público Federal (MPF) mostram uma troca de mensagens do ex-deputado e do ex-vice-presidente da Caixa em 10 de abril de 2012. Na ocasião, Cunha, então líder do PMDB na Câmara, cobra de Cleto informações sobre uma operação no FI-FGTS que interessaria a Eike (veja fac-símile). ;E Eike?;, perguntou o ex-presidente da Câmara dos Deputados, que está preso em Curitiba (PR). ;Eike tudo bem, abordado o tema do FI;, respondeu Cleto.

Com informações de Antonio Temóteo

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