Agência Estado
postado em 17/02/2017 19:59
O Ministério da Educação (MEC) pagou R$ 295 mil para seis youtubers fazerem uma campanha publicitária sobre a reforma do ensino médio, sancionada nesta quinta-feira (16/2), pelo presidente Michel Temer (PMDB). Os vídeos explicam as mudanças e fazem elogios à proposta, sem identificar que o conteúdo foi patrocinado pelo ministério.
A pasta informou ter pago os "influenciadores digitais" porque eles estão incluídos nas mídias digitais e complementam a estratégia de comunicação institucional para divulgação e esclarecimento sobre a reforma. "No caso do ensino médio, o público alvo da campanha de divulgação e esclarecimento é jovem. Pesquisas apontam que 92% de jovens de 15 a 25 anos, de todas as classes sociais, utilizam este tipo de mídia para se informar." A contratação da campanha publicitária foi publicada pelo jornal Folha de S.Paulo.
Um dos vídeos foi publicado no canal "Voce Sabia?", comandado por dois jovens, que tem mais de 7,1 milhões de assinantes. Os youtubers Luka Marques e Daniel Mologni explicam os benefícios da reforma. "Convenhamos galera, essas mudanças são realmente boas para vocês", dizem após explicarem alguns pontos da mudança
O vídeo foi publicado no dia 31 de outubro de 2016, quando estudantes ainda ocupavam escolas contra a reforma. Os youtubers inclusive dizem para os jovens não darem atenção para algumas das críticas que a proposta recebeu. "Acabou gerando uma polêmica também porque tem muita gente reclamando que artes e educação física foram retiradas do currículo básico. Galera, se alguém falar isso para você, nem dê atenção, porque isso nem rolou. O povo fala demais, nem sabe", dizem.
A proposta original apresentada pelo MEC não explicitava a obrigatoriedade dessas duas disciplinas, além de Filosofia e Sociologia, no ensino médio, o que motivou críticas de especialistas e entidades. Foi apenas em dezembro, com uma emenda protocolada na Câmara, que a obrigatoriedade dessas disciplinas voltou a ser fixada.
Outro vídeo foi publicado no dia 5 de janeiro no canal do youtuber Pyong Lee, que tem mais de 3,3 milhões de assinantes. O jovem também reduz as críticas recebidas pela reforma. "É um tema que está gerando bastante discussão e até polêmica, mas muita gente nem sabe do que se trata e como vai ser feita essa reforma", diz.
Depois de explicar os pontos da reforma, ele diz que as mudanças são um "caminho, uma luz". "O fato de haver uma preocupação em relação à educação, o que há muito tempo a gente não vê , é positivo e motivador", afirma.
Digital Stars
O MEC informou que os contratos foram centralizados pela agência Digital Stars, dentro do âmbito de licitações de serviços e comunicação. "As mídias digitais são uma realidade e a campanha institucional do MEC nestes canais é adequada, legal, barata e eficiente para atingir o público-alvo do ensino médio", diz a pasta.
Para informar sobre as mudanças, o governo federal também investiu em propagandas oficiais em televisão, rádios e internet
Em nota, Luiz Felipe Barros, CEO da agência, disse que a campanha segue as normas do Conselho Nacional de Autorregulamentação Publicitária (Conar) por notificar que se trata de material publicitário. Nos dois vídeos, há apenas uma notificação do próprio YouTube nos primeiros 5 segundos, com o aviso de "contém promoção paga" e a hashtag #publi na descrição. No entanto, não há nenhuma informação de que o conteúdo foi patrocinado pelo MEC.
Barros e os youtubers disseram que uma das condições incluídas no contrato é de que eles teriam "total liberdade" quanto ao teor de suas opiniões sobre a reforma do ensino médio, sem seguir um roteiro ou diretriz política a respeito do tema.
Repercussão
Nos dois canais, muitos assinantes criticaram o fato de o conteúdo ter sido publicitário, sem explicitar quem os patrocinava. No entanto, Marques, Mologni e Lee negam que a repercussão tenha sido negativa.
O MEC também informou que as posições defendidas pelos youtubers são de "foro privado e não refletem o pensamento do MEC e nem do governo".
Os outros quatro canais que receberam dinheiro para divulgar a reforma não foram informados pelo MEC ou pela agência.