Jornal Correio Braziliense

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Relator marca acareação entre delatores sobre a chapa Dilma-Temer

Relator do processo contra a chapa Dilma-Temer no Tribunal Superior Eleitoral marca, para sexta-feira, uma acareação entre três ex-executivos da Odebrecht que deram depoimentos contraditórios sobre doações à campanha de 2014


As contradições entre os depoimentos dados ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE) pelos delatores da Odebrecht foram tão gritantes que levaram o relator do processo de cassação da chapa Dilma-Temer, ministro Herman Benjamin, a marcar uma acareação entre os ex-executivos na sexta-feira. O ex-presidente Marcelo Odebrecht, o ex-vice-presidente de relações institucionais Cláudio Melo Filho e o ex-diretor de operações estruturadas Hilberto Mascarenhas Silva terão de explicar as incongruências sobre o que falaram. A acareação será por videoconferência.

A diferença mais gritante envolve as versões dadas sobre o jantar no Palácio do Jaburu, em 2014, quando o presidente Michel Temer pediu apoio da Odebrecht para as campanhas do PMDB. Segundo apurou o Correio, Melo reafirmou o que já tinha falado na delação premiada à Lava-Jato e disse que Marcelo falou, pessoalmente, que a empresa daria R$ 10 milhões para o partido do então vice-presidente.

[SAIBAMAIS]E acrescentou que, no mesmo encontro ; com a presença dele, Temer, Marcelo e do hoje chefe da Casa Civil, ministro Eliseu Padilha ; ficou definido que R$ 6 milhões seriam repassados ao candidato do PMDB ao governo de São Paulo em 2014, Paulo Skaff, e outros R$ 4 milhões ficariam com Padilha para distribuir entre as demais candidaturas peemedebistas.
Marcelo e Temer ; o primeiro em depoimento ao TSE e o segundo, em nota oficial ; confirmam que houve o jantar e que nele foi pedido o apoio da empresa para as campanhas eleitorais. Mas garantem que, em nenhum momento, foram discutidos valores. E que isso seria tratado em um encontro posterior de Padilha com Melo Filho. Os advogados de defesa do presidente afirmaram ao Correio que só se pronunciarão depois que o sigilo dos depoimentos for levantado. Ontem à noite, Temer disse que o ministro Herman Benjamin está fazendo o papel dele. ;Quero que julgue;, afirmou, na saída de um restaurante na Asa Sul.

Aliados do presidente alegam que cabe aos executivos da empreiteira chegar a um consenso. E que há três versões coincidentes ; Padilha, Temer e Marcelo ; e uma díspare, a de Cláudio Melo. E acrescentam que, mesmo levando-se em conta a versão de Cláudio Melo, o dinheiro pedido não foi destinado à campanha presidencial. Logo, não é pertinente ao processo que analisa irregularidades na chapa Dilma-Temer.
Envolvido diretamente no caso, o chefe da Casa Civil, ministro Eliseu Padilha, segue hospitalizado em Porto Alegre e tem o retorno previsto para a próxima segunda-feira. Padilha não comentou o depoimento prestado por Cláudio Melo. O ministro deve ser mantido no cargo mesmo que haja um pedido de abertura de inquérito por parte do procurador-geral da República, Rodrigo Janot. No último mês, Temer afirmou que os ministros que forem indiciados devem ser licenciados e, caso virem réus, afastados.

O recém-empossado ministro da Justiça e Segurança Pública, Osmar Serraglio, disse ontem esperar que nomes do governo não sejam incluídos na lista de Janot. ;Eu não adentrei na possibilidade de envolvimento mais claro (dos integrantes da cúpula do governo) e não posso ter opinião agora. Espero que ninguém se envolva;, disse.

Propinas

Em outros depoimentos prestados ao TSE na última segunda-feira, Hilberto Silva afirmou que o seu setor, responsável por organizar as propinas pagas pela empresa, movimentou, entre 2006 e 2014, US$3,34 bilhões. Entre 15% e 20% desse montante ; aproximadamente US$ 680 milhões ; foram para doações eleitorais via caixa dois. Os outros 80% eram propinas de obras da empresa no exterior. Já o ex-diretor de relações institucionais Alexandrino Alencar afirmou que a empresa desembolsou, por caixa dois, R$ 21 milhões para que o PRB, o PCdoB e o Pros apoiassem a chapa Dilma-Temer em 2014.

Em nota, o Pros informou que as doações recebidas nas eleições de 2014 foram devidamente declaradas para a Justiça Eleitoral. O PCdoB comunicou que não se pronunciará enquanto não tiver informações de fontes oficiais sobre o assunto. O PRB negou que tenha recebido qualquer contribuição proveniente de caixa dois da Odebrecht. A empreiteira informou que não faz comentários sobre depoimentos prestados em sigilo.

Raupp é réu

A 2; Turma do Supremo Tribunal Federal, por maioria, aceitou ontem a denúncia oferecida pela Procuradoria-Geral da República (PGR) contra o senador Valdir Raupp (PMDB-RO) e os assessores parlamentares Maria Cléia Santos de Oliveira e Pedro Roberto Rocha, pelos crimes de corrupção passiva e lavagem de dinheiro. A acusação é de que os R$ 500 mil doados oficialmente pela construtora Queiroz Galvão à campanha de Raupp ao Senado em 2010 seriam ;propina disfarçada;.

É o primeiro julgamento em que o Supremo admite que doações eleitorais oficiais, no ;caixa um;, ;por dentro;, podem ser consideradas pagamento de propina, tese defendida pela PGR. Em nota, Raupp disse que respeita a decisão do STF, mas que ;continuo a acreditar que contribuição oficial de campanha, devidamente declarada, não pode ser considerada como indício e/ou prova de ilicitude;.
Colaboraram Matheus Teixeira e Denise Rothenburg