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Estudo mostra que Câmara já estourou o teto de gastos previstos para o ano

Comissão Mista do Orçamento mostra que a Câmara estourou, ainda em janeiro, o teto de gastos previstos para este ano. Números são um balde de água fria na intenção de Rodrigo Maia em criar mais cargos na Casa

Denise Rothenburg, Natália Lambert
postado em 09/03/2017 06:00

Maia, o presidente da Câmara: ideia é redefinir funções para ampliar o número de Cargos de Natureza Especial (CNEs)

A ideia do presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), de reorganizar as funções na Casa e criar mais Cargos de Natureza Especial (CNEs), aqueles de livre indicação dos parlamentares, pode não ir para frente por uma simples razão: não há dinheiro. Em um estudo preliminar, a Comissão Mista de Orçamento identificou que, somente em janeiro deste ano, a Câmara estourou em R$ 150 milhões a previsão do teto orçamentário para 2017, de mais de R$ 5.8 bilhões. Os dados ainda precisam ser corrigidos pela receita que será enviada pelo Ministério do Planejamento até o fim deste mês, mas, na opinião de consultores do orçamento, não há a possibilidade de criação de mais nenhum cargo. A Câmara nega que tenha ultrapassado o limite de despesas.


;Não tem como encaixar isso no Orçamento, não tem previsão para isso. Estão inventando uma coisa sem pé nem cabeça que não se sabe como a conta será paga. A Câmara não tem condições de arcar com mais despesas;, comentou um servidor que prefere não se identificar. ;Enquanto o Departamento de Pessoal elabora um estudo para encontrar o milagre da solução da multiplicação dos cargos sem custo, estão sendo criadas novas lideranças;, acrescentou. Na semana passada, foi criada a Liderança da Juventude e estão no forno a Liderança da Transparência e a da Maioria. Cada uma contará com, no mínimo, 15 cargos de confiança.

[SAIBAMAIS] A proposta de abertura de mais espaços para apadrinhados políticos ocorre desde o fim do ano passado e foi intensificada na campanha à reeleição de Maia. Uma das ideias é extinguir mais de 100 funções comissionadas (FCs) ; ocupadas por servidores concursados ; em, aproximadamente, o dobro de servidores efetivos sem concurso. Assim, segundo o primeiro-secretário da Câmara, deputado Fernando Giacobo (PR-PR), não ocorreria um aumento de gastos. A medida tem sido criticada por mais de 200 entidades de servidores públicos, que vão lançar um manifesto, nesta semana, contra a proposta.

Remunerações

Outra estratégia pensada é dividir os CNEs. Por exemplo, transformar um CNE com salário mais alto em dois ou três com remunerações mais baixas. ;Não será criado nenhum CNE a mais;, garantiu Giacobo, que está conduzindo um estudo de readaptação dos funcionários da Casa ;para corrigir irregularidades;. Entre os problemas, Giacobo cita CNEs trabalhando em funções administrativas e servidores concursados em estágio probatório já com gratificação. ;A nossa intenção é economizar e não aumentar os gastos da Casa.;

;O problema, que parece que não se percebe, é que transformar um cargo em três significa custos a mais em auxílios-alimentação, saúde, em um computador, uma mesa, uma cadeira para essas pessoas trabalharem. Tudo isso tem que ser levado em conta. Em alguns casos, serão necessárias até obras para abrir espaços para tanta gente;, comentou um deputado contrário à medida.

Segundo dados oficiais divulgados pela assessoria da Câmara dos Deputados, as despesas primárias executadas pela Casa no mês de janeiro de 2017 somaram R$ 430 milhões. "O limite de despesas previsto para o mês era de R$ 460 milhões. O orçamento da Câmara para 2017 é de R$ 5.9 bilhões. Esse é o limite de despesa autorizado, compatível com a Emenda Constitucional 95/2016 (PEC dos Gastos). Soma-se aos números apresentados, o fato de que o orçamento é anual. Portanto, não é possível falar em ;estouro; do teto orçamentário levando em conta apenas as despesas do primeiro mês do ano", ressaltou por meio de nota.


Estrutura milionária

A Câmara gasta anualmente com gratificações aos concursados mais de R$ 113 milhões e com os cargos de Natureza Especial (CNEs), os chamados cargos de confiança, R$ 165 milhões anuais. Confira como são divididos os servidores da Casa:

Servidores concursados

3.124 com salários entre R$ 15.035 e R$ 28.801.

Destes, 1.719 podem acumular Funções Comissionadas (FCs), o que garante um acréscimo entre R$ 3.877 e R$ 10.446 na remuneração. Atualmente, 1.643 encontram-se nessa situação.

Confira quantos servidores ocupam cada FC*

Função Gratificação Quantidade Custo mensal Custo anual
FC-1 R$ 3.877 829 R$ 3.124.033 R$ 40.612.429
FC-2 R$ 5.317 236 R$ 1.254.812 R$ 16.312.556
FC-3 R$ 7.421 513 R$ 3.806.973 R$ 49.490.649
FC-4 R$ 8.418 55 R$ 462.990 R$ 6.018.870
FC-5 R$ 9.083 8 R$ 72.664 R$ 944.632
FC-6 R$ 10.446 2 R$ 20.892 R$ 271.596
Total: R$ 8.742.364 R$ 113.650.732

Cargos de Natureza Especial (CNEs)

1.621 com salários entre R$ 3.346 e R$ 18.172

Confira quantos servidores ocupam cada CNE*

Função Salário Qnt Custo mensal Custo anual
CNE-7 R$ 18.172 230 R$ 4.179.560 R$ 54.334.280
CNE-9 R$ 12.701 277 R$ 3.518.177 R$ 45.736.301
CNE-10 R$ 7.864 94 R$ 739.216 R$ 9.609.808
CNE-11 R$ 6.716 175 R$ 1.175.300 R$ 15.278.900
CNE-12 R$ 5.703 83 R$ 473.349 R$ 6.153.537
CNE-13 R$ 4.945 238 R$ 1.176.910 R$ 15.299.830
CNE-14 R$ 4.090 147 R$ 601.230 R$ 7.815.990
CNE-15 R$ 3.354 338 R$ 1.133.652 R$ 14.737.476

Além do salário, cada CNE recebe:

Auxílio-alimentação: R$ 924
Auxílio pré-escola para cada filho abaixo de 7 anos: R$ 748
Auxílio-transporte: R$ 87
Participação em assistência médica e odontológica: R$ 273
*Dados de dezembro de 2016
Fonte: Departamento de Pessoal

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