Jacqueline Saraiva, Eduardo Militão
postado em 14/03/2017 11:21
Em depoimento à Justiça Federal, na manhã desta terça-feira (14/3), o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva negou que tenha pedido ao ex-senador Delcídio do Amaral (ex-PT-MS), em uma reunião no Instituto Lula, que interviesse para impedir o ex-diretor da Área Internacional da Petrobras Nestor Cerveró de fazer delação premiada na Operação Lava-Jato. O interrogatório do petista começou por volta das 10h20 e durou 49 minutos. É a primeira vez que ele foi questionado em juízo como réu em ação penal relacionada à Lava-Jato.
Veja o depoimento completo:
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[SAIBAMAIS] Acusado de ser o mandante da tentativa de compra do silêncio de Cerveró, Lula confirmou que participou de muitas reuniões com Delcídio sobre todo tipo de assunto, inclusive a Lava-Jato, assunto que, segundo ele, era comentado em qualquer hora do dia. Disse também que ele não teria motivos para comprar o silêncio do ex-diretor, já que quem tinha relacionamento com Cerveró era Delcídio, não ele. "Só tem um brasileiro que poderia ter medo do depoimento do Cerveró, pelo relacionamento que tinha com ele, e era o Delcídio", comentou o ex-presidente ao ressaltar que o ex-senador "contou uma inverdade nesse processo".
Lula admitiu que, possivelmente, teve uma reunião com o ex-senador no Instituto Lula, como narrado por Delcídio em sua delação. Afirmou que conversou sobre vários assuntos, inclusive sobre a Lava-Jato, mas nunca sobre o Cerveró. "Deve ter tido muitas reuniões com o Delcídio. Ele era senador, líder do governo... Várias vezes o Delcídio esteve lá, varias vezes."
Ele reclamou do assédio da imprensa, que acredita que ele será preso. "O senhor sabe o que é levantar todo dia achando que a imprensa está na porta da minha casa porque eu vou ser preso?", questionou. Segundo Lula, todos os dias são publicadas notícias de que ele será citado em novas delações premiadas, o que gera apreensão. "Nos últimos três anos tenho sido vítima quase de um massacre", lamentou.
Indicações para cargos
Durante o depoimento, o juiz federal Ricardo Augusto Soares Leite, da 10; Vara Federal, estava com um vídeo na tela em que Lula dizia que participava da administração da Petrobras. O magistrado perguntou a Lula se ele queria ver o filme e explicar o contexto da frase. Lula não quis ver a gravação, mas afirmou que recomendava que o conselho da Petrobras nomeasse pessoas indicadas pelos partidos, desde que tivessem qualificação técnica.
A pergunta foi fundamental para questionar a tese levantada pelas investigações da Lava-Jato de que assim como ocorreu com Cerveró - que foi indicado pelo PMDB, de acordo com Lula - as indicações de cargos eram feitas para angariar esquemas de corrupção. Lula falou que essas indicações eram "corriqueiras, para fazer um governo de coalizão como qualquer outro" e que, quando escolhido, Cerveró não tinha nenhuma denúncia de corrupção contra si. "Quando você ganha uma eleição, em regime presidencialista de coalizão, você tem que montar o governo. Você precisa construir uma maioria no Congresso Nacional para você poder montar o governo e você não monta a maioria com o que você quer", comentou.
Lula disse que, como amigo do pecuarista José Carlos Bumlai, falava com freqüência com ele. No entanto, o petista disse que o amigo não tinha contato com Delcídio. "Era muito pequena a relação dos dois. Parece que o Bumlai não tinha muita relação com Delcídio."
De acordo com a delação do ex-senador, Lula pediu-lhe para procurar Bumlai na tentativa de calar Cerveró. Um áudio juntado pela acusação mostra tratativas entre o filho de Bumlai e um emissário do senador, supostamente para fazer um pagamento ao advogado de Cerveró e silenciá-lo. Segundo o ex-presidente, ele nunca pediu dinheiro a ninguém ou qualquer favor ilícito. "Eu duvido que o Bumlai ou algum outro empresário diga que um dia eu chamei ele para conversar tal coisa", afirmou Lula.
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