Julia Chaib
postado em 21/03/2017 13:17
Presidente da Associação Nacional dos Delegados de Polícia Federal (ADPF), Carlos Miguel Sobral diz que há disputa institucional em torno da investigação e afirma que a PF perdeu o domínio da operação para o Ministério Público.
"O primeiro (round), o MP ganhou. Na Lava-Jato, eles fizeram uma campanha de propaganda e publicidade que foi infinitamente melhor do que a PF. A operação era da PF e perdemos para o Ministério Público. Perdemos em razão da campanha de marketing perfeita e o MP deu mais apoio institucional à operação do que a PF", afirmou.
Segundo Sobral, há um "cabo de guerra institucional" no país. "Dentro desse contexto, há disputa entre PF e MP. Nós vimos isso durante alguns anos atrás, quando a exclusividade da polícia para conduzir investigação criminal foi mitigada e agora o MP quer retirar o poder de investigação para que só ele possa fazer", afirmou.
De acordo com o presidente, o número de procuradores aumentou na operação, ao passo que diminua a quantidade de agentes. Sobral avalia que a sociedade tem uma ideia de que a operação é do MP. "Passa a imprenssão de que somos cumpridores de mandados, perdemos a capacidade de agir, e a investigação nós fazemos", disse.
[SAIBAMAIS]Atrelado a esse contexto de perda do domínio sobre a Lava-Jato, a ADPF segue na campanha pela saída do diretor da PF, Leandro Daiello, do cargo.
Em fevereiro, a Associação divulgou uma nota na qual defende a saída de Daiello e pede que seja levada em conta a lista tríplice, encabeçada pela delegada Erika Malik, especialista em crime financeiro e uma das primeiras integrantes da Lava-Jato, seguida por Rodrigo Teixeira e Marcelo Freitas. Erika recebeu 1,3 mil de 1,7 mil votos em maio do ano passado.
"Não é segredo para ninguém que os delegados esperam novos ares para a administração. Já faz seis anos. É uma situação que já tem um tempo e toda administração muito longa gera desgastes. Há demanda por renovação e que a renovação seja através da lista tríplice. A Defensoria tem lista tríplice, o MP tem, as agências reguladoras tem. É uma forma de você ter participação da instituição junto com o poder do estado E a PF não tem esse processo", criticou.
Sobral critica a "capacidade gerencial" de Daiello. "Não conseguiu levar adiante os projetos que a PF precisava e não soube defender institucionalmente a PF", afirma. De acordo com o presidente, alguns projetos eram o centro de dados de inteligência policial, a nova sede da PF, a instauração do inquérito eletrônico, por exemplo. "A equipe da Lava-Jato acabou sendo trocada, substituída, oxigenada. Aqueles colegas que deram origem à Lava-Jato não estão mais lá. Foram cada um para outra unidade", comentou.
*A repórter viajou a convite da Associação dos Delegados da PF