Politica

Carne Fraca: mais países suspendem importação de carne brasileira

México, Japão, Suíça e Hong Kong se uniram a Chile, Suíça, China e União Europeia no embargo a proteína nacional

Rodolfo Costa - Enviado especial
postado em 22/03/2017 06:00
Blairo faz inspeção em frigorífico da JBS, no Paraná, investigado por irregularidades na certificação iinternacional

Lapa (PR) ; Os esforços do governo estão sendo insuficientes para conter a crise internacional provocada pela Operação Carne Fraca. Somente ontem, México, Japão, Suíça e Hong Kong decidiram suspender a importação do produto brasileiro. Os países se unem a Chile, Suíça, China e União Europeia, que já haviam anunciado sanções na segunda-feira. Apenas Coreia do Sul, que havia suspendido a compra da carne brasileira, revogou a decisão. Em conversas com o ministro da Agricultura do Chile, o secretário executivo do Ministério da Agricultura (Mapa), Roberto Novacki, recebeu a promessa de que o governo chileno vai reverter a suspensão.

Diante do mal-estar causado pela forma como a investigação foi anunciada na última sexta-feira, 17, o Ministério da Agricultura (Mapa) e a Polícia Federal (PF) divulgaram nota conjunta, depois do encontro de Novacki com o diretor-geral da PF, reafirmando o compromisso de ambas as instituições de elucidar os fatos investigados. A nota foi interpretada como um recuo da PF.

De acordo com o comunicado, a Carne Fraca tem como foco a eventual prática de crimes de corrupção por agentes públicos no Sistema de Inspeção Federal (SIF). ;Os fatos se relacionam diretamente a desvios de conduta profissional praticados por servidores e não representam mau funcionamento generalizado do sistema de integridade sanitário do país;. ;O sistema de inspeção federal brasileiro já foi auditado por vários países que atestaram sua qualidade.;

Peritos


Além do Mapa e da PF, a Associação Nacional dos Peritos Criminais Federais (APCF) também se manifestou sobre a operação. Segundo a APCF, as conclusões da operação sobre os danos à saúde pública não têm embasamento científico, uma vez que os peritos federais foram acionados pela Polícia Federal (PF) apenas uma vez durante as investigações e que o laudo resultante desse trabalho não comprovou tais danos.

Por mais que o governo esteja prestando esclarecimentos individuais e de maneira rápida a cada país, especialistas e os próprios representantes do Mapa temem que a imagem do Brasil fique arranhada no comércio exterior. Somente em 2016, o governo acumulou um total de US$ 5,5 bilhões em exportações de carnes para Hong Kong, China, Japão, Chile e Holanda. O valor representa cerca de 39,3% do total da venda internacional no ano passado. ;Se falarmos que terá um solavanco de 7% a 8% no mercado, falamos de US$ 1 bilhão por ano. Mas, se conseguirmos ser transparentes, rápidos e convincentes nas nossas explicações, não teremos bloqueio;, analisou o ministro da pasta, Blairo Maggi.

Para frear a desconfiança dos mercados, o ministro convidou jornalistas para visitarem uma das 18 plantas frigoríficas que estão sob regime de autoembargo do governo federal. Elas estão aptas a produzir e distribuir alimentos no Brasil, mas estão proibidas de exportar. O secretário de Defesa Agropecuário do Mapa, Luiz Eduardo Rangel, assegura que não foram encontradas irregularidades sanitárias na unidade e, por isso, ela continua em operação. ;A planta foi interditada por suspeita no processo de certificação. O que está em xeque nessas unidades é a credibilidade do processo. Precisamos descobrir o que aconteceu para retomar a confiança e mostrar que nosso processo de fiscalização funciona;, justificou.

A unidade escolhida fica em Lapa, interior do Paraná. Lá, são produzidas peças de frango da Seara, empresa da JBS, que está sob investigação da Polícia Federal. A planta exportou em 2016 mais de 100 mil toneladas. Embora a unidade não apresente irregularidades sanitárias, como destacou o governo, está sob investigação por motivos de corrupção. Dos 33 servidores afastados do Mapa, três são suspeitos de terem fraudado o processo de certificação sanitária internacional.

Carência


O Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) admite que a quantidade de fiscais da pasta está aquém das necessidades. O ministro Blairo Maggi avalia que seria necessária a realização de um novo concurso público para suprir a carência de servidores, mas admite que, diante da atual crise fiscal, não há condições no momento. A pasta estima que há carência de 172 fiscais. Para driblar a crise, o ministério abriu a possibilidade de remoção voluntária de funcionários. Feito esse primeiro procedimento administrativo, o governo promoverá uma ação de remoção de ofício, a fim de reforçar a fiscalização onde é necessária.
* O jornalista viajou a convite do Mapa

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