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Offshore ligada a ex-gerente da Petrobras levou US$ 3 mi de propina

Para a força-tarefa, a deflagração da Operação Paralelo "evidencia a sofisticação dos esquemas de lavagem de dinheiro utilizados para o pagamento de propina"

Agência Estado
postado em 28/03/2017 15:20
A Procuradoria da República, no Paraná, afirmou nesta terça-feira (28/3) que uma offshore ligada a ex-gerente da Petrobras Roberto Gonçalves recebeu US$ 3 milhões de offshores ligadas ao Setor de Operações Estruturadas, o "Departamento de Propinas", da Odebrecht, em 2011.

Por meio de cooperação internacional, a força-tarefa da Operação Lava-Jato identificou que o ex-gerente da Petrobras movimentou mais de US$ 5 milhões em contas na Suíça. Roberto Gonçalves foi preso em Roraima nesta terça, na Operação Paralelo, 39; fase da Lava-Jato.

Em nota, a Procuradoria informou que foram identificadas cinco contas bancárias, sendo uma delas, registrada em nome da offshore Fairbridge Finance SA que tem Roberto Gonçalves como beneficiário final. Esta conta teria recebido, em 2011, cerca de US$ 3 milhões de offshores ligadas ao Setor de Operações Estruturadas da Odebrecht.
"A iniciativa de criar essas contas offshore é conjunta que surgiu quando Roberto Gonçalves passou a receber propinas da Odebrecht. Por que não abrir uma conta em nome de uma offshore no exterior para facilitar os recebimentos? Foi criada, então, a primeira conta em nome da offshore Fairbridge Finance SA. Essa offshore foi criada na Suíça e recebeu pagamentos das conhecidas contas do Departamento de Operações Estruturadas da Odebrecht", afirmou o procurador Roberson Pozzobon, da força-tarefa da Lava-Jato.

Segundo a Procuradoria, outra conta, registrada no nome da offshore Silverhill Group Investment Inc. e que também tem Gonçalves como beneficiário final, recebeu, no ano de 2014, mais de US$ 1 milhão provenientes da conta em nome da offshore Drenos Corporation, vinculada a Renato Duque, também ex-diretor da Petrobras.

A conta de Duque teria sido abastecida por valores oriundos de uma conta em nome da offshore Opdale Industries, que tem por beneficiário final Guilherme Esteves de Jesus, acusado de ter intermediado propinas em contratos da Petrobrás para o Estaleiro Jurong em ação penal na Lava-Jato.

Dois delatores da Lava Jato, Ricardo Pessoa, da UTC Engenharia, e Mario Goes, operador financeiro e intermediário de executivos e agentes públicos, relataram o pagamento de propinas a Roberto Gonçalves, segundo a Procuradoria. Os delatores entregaram comprovantes de quatro depósitos de US$ 300 mil feitos no exterior, a partir de conta em nome da offshore Mayana Trading, mantida por Mario Goes. Ainda de acordo com os documentos encaminhados pela Suíça, Roberto Gonçalves transferiu, em abril de 2014, parte do saldo da conta Fairbridge Finance S/A para contas na China e nas Bahamas.

"Essa conduta demonstra, além da reiteração de crimes de lavagem de dinheiro, o propósito de impedir o bloqueio dos ativos criminosos e frustrar a aplicação da lei penal. Apesar da tentativa de esconder o patrimônio, ainda foi possível o sequestro de mais de US$ 4 milhões de conta ligada a Roberto Gonçalves", informa a nota da Procuradoria.

Roberto Gonçalves sucedeu Pedro Barusco como gerente executivo da Área de Engenharia e Serviços da Petrobras no período entre março de 2011 e maio de 2012. Segundo a força-tarefa da Lava-Jato, no Brasil, Gonçalves foi alvo de investigações internas da estatal e de depoimentos prestados por investigados que firmaram acordos de colaboração premiada com o Ministério Público Federal

Para a força-tarefa, a deflagração da Operação Paralelo "evidencia a sofisticação dos esquemas de lavagem de dinheiro utilizados para o pagamento de propina decorrente de contratos da Petrobras".

Apuração interna da companhia imputou ao ex-gerente executivo parte das irregularidades encontradas nas licitações e contratos do Comperj, como a contratação direta em 2011 do Consórcio TUC, formado, dentre outros, pela Odebrecht e pela UTC Engenharia.

Paralelamente, autoridades suíças que investigam desdobramentos do caso Lava-Jato transferiram ao Brasil investigações por crimes de lavagem de dinheiro relacionadas a Roberto Gonçalves, com base em acordos de cooperação internacional.

"A prática de várias condutas de ocultação de dinheiro ilícito pelo ex-gerente executivo da Petrobras, com nível significativo de sofisticação, é indicativo de prática criminal em série, de caráter habitual. Ainda, são de especial gravidade os novos atos de ocultação dos ativos criminosos após o início da parte ostensiva da Operação Lava-Jato. Assim, foi pedida e decretada a prisão preventiva tendo como objetivo a proteção da ordem pública e a garantia da aplicação da lei penal", destaca a Procuradoria em nota.

Advalor

A Operação Paralelo também cumpriu mandados de busca e apreensão em endereços profissionais e residenciais ligados a sócios da empresa Advalor Distribuidora de Títulos e Valores Mobiliários Ltda (Advalor). A investigação aponta a participação de investigados na lavagem de dinheiro e no pagamento de vantagens indevidas a funcionários da Petrobras, incluindo Roberto Gonçalves.

A partir do afastamento do sigilo bancário e fiscal, foram identificadas movimentações financeiras da Advalor com diversas pessoas naturais e jurídicas investigadas na Lava-Jato. No período entre 2010 e 2014, a empresa movimentou, entre valores recebidos e enviados, mais de R$ 6 milhões a ex-funcionários da Petrobrás.

Defesas

"A Odebrecht assinou acordo com autoridades do Brasil, Estados Unidos e Suíça e está em entendimento avançado com alguns países da América Latina para esclarecer sua participação em atos praticados pela companhia. A Odebrecht já adota as medidas adequadas e necessárias para continuamente aprimorar seu compromisso com práticas empresariais éticas e de promoção da transparência em todas as suas ações", diz nota da empresa.

A reportagem ligou para a Advalor e foi informada de que os sócios responsáveis vão se manifestar sobre o assunto ainda nesta terça-feira.

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