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Politica

Planalto é contra o projeto que pretende restringir Uber no Brasil

Caso o texto aprovado na Câmara seja mantido pelo Senado, governo estuda vetar pontos e liberar aplicativos de transporte individual. Pelas regras estabelecidas pelos deputados, o Estado precisa dar autorização para que empresas operem

Temer, porém, espera que as regras restritivas sejam modificadas ou derrubadas pelos senadores da base aliada. No que depender do senador José Antônio Reguffe (sem partido-DF), relator de um projeto de lei que legaliza a Uber no Brasil, as emendas não serão aprovadas. ;Meu lado é o do consumidor. Defendo a concorrência, pois ela tende a melhorar a qualidade do serviço e a proporcionar redução de preços. Sou contra as manobras dos deputados que impedem a liberdade de escolha;, afirmou.

Para Reguffe, as emendas aprovadas na Câmara submetem os aplicativos às mesmas regras dos táxis e são, na verdade, tentativas de inviabilizar o serviço. ;Acho que eles devem ter regulamentação, pagar tributos e serem fiscalizados pelo governo, mas devem funcionar livremente. A concorrência é positiva para o consumidor;, defendeu Reguffe. Caso seja modificada no Senado, a proposta retornará à Câmara. Os deputados poderão reinserir as regras, que também podem ser vetadas, posteriormente, por Temer.

Para a Uber, o projeto ;propõe uma lei retrógrada que não regula a atividade no Brasil, mas tenta transformá-la em táxi, proibindo esse modelo de mobilidade;. Em nota, a empresa disse esperar que, no Senado, o debate sobre a tecnologia continue para que ;seja ouvida a voz de milhões de pessoas no Brasil que desejam ter seu direito de escolha assegurado;.

Retrocesso
De acordo com o especialista em direito público Luiz Fernando de Camargo Prudente do Amaral, professor da Faculdade de Direito do IDP-SP, retirar dos aplicativos a condição de atividade privada equivale a dar a eles tratamento de concessão. ;Essa emenda, indevida, aproxima as obrigações dos serviços de aplicativos aos de táxis. A Câmara poderia ter revisto o marco legal para o serviço, de maneira que não igualasse com algo que já existe;, comentou.

Durante sessão do Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade), a conselheira Cristiane Alkmin expressou ;profunda indignação e repúdio ao texto aprovado;. Para ela, o projeto cria um ;novo táxi;, em vez de garantir segurança para o usuário. ;Se for para mudar as regras, que diminuam as amarras dos táxis, e não o contrário;, defendeu. Para ela, o texto representa um ;retrocesso gigantesco; e traz ;uma gritante perda de bem-estar social;. Para Cristiane, os serviços por aplicativos devem ter o mínimo possível de regulamentos. ;Imploro ao Senado para que seja mais sensato e pense não no lobby dos taxistas, mas no bem estar da população;, disse.

O advogado Leonardo Coelho, sócio do escritório LL Advogados, acredita que seja o momento para iniciar uma discussão sobre a desburocratização das regras impostas aos taxistas, principais concorrentes da Uber e similares. ;O projeto intervém mais do que o necessário. Deve haver uma reflexão sobre essas questões e uma revisão da regulamentação dos táxis para que a livre iniciativa avance ainda mais, com base em mecanismos típicos do mercado;, considerou.