Politica

Temer vai buscar apoio de religiosos para aprovar reforma da Previdência

Representando quase 80% das pessoas que possuem alguma crença, católicos e evangélicos têm feito campanha contra as mudanças na aposentadoria apresentadas pelo governo

Paulo de Tarso Lyra
postado em 09/04/2017 08:00

Ofensiva: presidente marcou um café da manhã nesta semana com parlamentares da bancada evangélica para tratar do tema

O governo vai intensificar, nos próximos dias, as conversas com os dois principais segmentos religiosos do país: os católicos e os evangélicos, avessos às propostas de reforma da Previdência. Representando quase 80% das pessoas que possuem alguma crença, os dois segmentos têm feito campanha contra as mudanças na aposentadoria apresentadas por Michel Temer. ;Nós somos cobrados diariamente pelos nossos fiéis. As propostas que estão aí afetam muito os mais pobres;, alertou o deputado Ronaldo Fonseca (Pros-DF), integrante da bancada evangélica.


Temer reuniu-se com alguns parlamentares evangélicos na última quinta-feira, quando recebeu uma pauta de demandas do grupo. Ele marcou um café da manhã para a próxima semana com um quórum mais ampliado. ;Não nos falou nada sobre a Previdência. Mas, se ele tocar no assunto, vamos expor nossa opinião;, completou Ronaldo Fonseca. O parlamentar de Brasília disse que não há como fugir da cobrança dos fiéis mais carentes, que estão se sentindo ameaçados pelas propostas feitas pelo governo.

;As classes C, D e E, que são a maioria de nosso público, também são as mais afetadas. São aquelas pessoas que não têm renda extra, não têm um imóvel alugado e precisam da aposentadoria para ter uma velhice mais tranquila;, completou o deputado do Pros. A preocupação do governo é importante: a bancada evangélica reúne mais de 90 parlamentares. Em uma votação que necessita de uma quantidade elevada de votos para ser aprovada ; no mínimo 308 votos ;; um grupamento do tamanho dos evangélicos não pode ser menosprezado. ;Somos base do governo Temer. Mas não podemos votar nessa matéria por votar;, completou o deputado do Pros.

Sem representantes oficialmente declarados e com atuação política segmentada no Congresso, os católicos também representam uma ameaça às mudanças na Previdência propostas pelo governo. No fim de março, a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) divulgou uma dura nota posicionando-se contra a reforma. ;Os números do governo federal que apresentam um deficit previdenciário são diversos dos números apresentados por outras instituições, inclusive ligadas ao próprio governo. Não é possível encaminhar solução de assunto tão complexo com informações inseguras, desencontradas e contraditórias. Iniciativas que visem ao conhecimento dessa realidade devem ser valorizadas e adotadas, particularmente pelo Congresso Nacional, com o total envolvimento da sociedade;, dizem os bispos no comunicado.

Para a vice-presidente da Ideia Inteligência, Cila Schulmann, as igrejas têm atingido um poder de mobilização muito maior do que os sindicatos nesse debate de reforma. ;Elas estão conseguindo chegar em rincões que os sindicatos não conseguem;, reforçou. Há quase um mês, o senador Garibaldi Alves (PMDB-RN) já alertara o presidente Temer de que padres nas paróquias espalhadas pelo interior do país estavam fazendo pregações contra as mudanças na Previdência. Temer também conversou com dom Sérgio tão logo o documento foi divulgado.

;A Igreja acaba se aproveitando da sua proximidade com os fiéis da área rural, que têm sido bastante afetados pela reforma;, disse o senador Paulo Rocha (PT-PA). Oriundo do movimento sindical, Rocha reconhece que, em tempos de crise econômica, os sindicatos acabam por perder poder de fogo, já que as pessoas preferem manter os empregos a aderir às mobilizações de rua. ;Mas não vejo como duas forças antagônicas (igreja e sindicato). Ambas foram fundamentais para a fundação do PT;, completou.

Rebanho eleitoral

Confira o tamanho de cada religião em relação aos 206 milhões de habitantes

Católicos - 50%
Evangélicos - 29%
Kardecistas - 2%
Outras religiões - 5%
Sem religião - 5%
Não sabem ou não responderam - 9%

Fonte: IBGE

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