Agência Estado
postado em 13/04/2017 18:33
Em delação premiada prestada no âmbito da Operação Lava-Jato, o ex-presidente da Odebrecht Ambiental Fernando Reis revela o poder de influência que o ex-ministro da Casa Civil José Dirceu tinha sobre a empresa, mesmo após ter deixado o governo Lula em 2005 e ter sido condenado no processo do mensalão em 2012.
No depoimento, Reis afirma que a Odebrecht fez doações, com recursos de caixa 2, para as campanhas à Câmara dos Deputados de Zeca Dirceu, filho do ex-ministro, nas disputas de 2010 e 2014.
"Ele disse: ah o Zeca está apertado, veja se podem apoiar. E não pediu valor, mas a gente (doou) 250 mil em 2010 e 250 mil em 2014", diz Reis. Questionado sobre os interesses da empresa em fazer tais repasses, o ex-diretor considerou que Dirceu, apesar de fora do Palácio do Planalto, ainda poderia causar "danos" à Odebrecht.
"Apoiando o Zeca Dirceu o que nós buscávamos era na verdade não ter o José Dirceu como inimigo... apoiar ao Zeca, ao filho dele, a gente considerava que era um apoio a ele. E era não tê-lo como inimigo, porque ele mesmo fora do governo, a gente achava que ele podia causar dano. Ainda tinha muita influência na máquina e podia causar dano, ainda tinha seus tentáculos na máquina", ressaltou Reis.
"Ele tinha muita penetração nos Estados e em algumas prefeituras Em algum momento, nós achávamos que até na Presidência da República. Ele tinha seus contatos na Casa Civil. Às vezes, até podia saber de informações nossas e passar para ouras", justificou.
No depoimento, o ex-dirigente afirma, contudo, que nas negociações tinha o cuidado de não passar a ideia ao petista de que o interesse era de não serem alvos de uma possível represália de Dirceu. "Nunca passamos o recibo de que esse era o propósito", ressaltou.
Monitoramento
Dirceu foi o principal coordenador político do primeiro governo de Lula e chegou a ser considerado como um "super ministro" devido ao poder dado a ele na época. O petista deixou o cargo em junho de 2005 em meio às denúncias de corrupção nos Correios.
Após deixar o governo do PT, Dirceu começou a atuar no exterior, o que levou a Odebrecht, em 2006, a acompanhar os passos do petista, com receio de ele atrapalhasse os interesses da empresa, em outros países.
"E ele vinha causando, de certa forma, alguns constrangimentos ou alguns problemas para as nossas operações lá fora", disse Fernando Reis. "A Odebrecht me pediu que o acompanhasse de alguma forma para que a gente não tivesse que ter um inimigo, para, de alguma forma, administrar, saber, estar próximo dele para evitar problemas", emendou.
Condenação
Em 2012, Dirceu foi condenado pelo Supremo Tribunal Federal (STF) na ação penal 470, pelo crime de corrupção ativa. Em março de 2017, voltou a ser condenado na Operação Lava-Jato a 11 anos e três meses pelos crimes de corrupção passiva e lavagem de dinheiro.
Outro lado
O advogado Roberto Podval, que defende José Dirceu, afirma que só irá se manifestar depois de conhecer o teor das acusações contra o ex-ministro".
Em nota, o deputado federal Zeca Dirceu disse que não há e nunca houve qualquer tipo de tratativa do parlamentar junto às diretorias da Petrobras e/ou às empresas investigadas na Lava-Jato. "Apesar das inúmeras investigações em andamento há vários anos, não existe sequer uma única ligação, e-mail, contato, agenda de reunião, testemunho, delação ou coisa parecida em relação a qualquer atitude do parlamentar que o ligue ao assunto Petrobras / Lava-Jato ou a qualquer tipo de ilegalidade", afirmou. "É importante destacar, que nunca houve qualquer pedido do parlamentar a envolvidos na Lava-Jato, fato já testemunhado por vários outros delatores e agora comprovado pelo próprio delator Fernando Luiz Ayres da Cunha Santos Reis", completou.
Segundo o deputado, todas as doações recebidas nas campanhas de 2010 e de 2014 foram legais, declaradas e aprovadas pela Justiça Eleitoral sem ressalvas. O deputado reforça sua confiança no Supremo Tribunal Federal e no trabalho de investigação da Polícia Federal.