Agência Estado
postado em 14/04/2017 18:49
Em 29 de outubro de 2015, o maior empreiteiro do País, Marcelo Odebrecht, entrou na sala do juiz federal Sérgio Moro com um discurso pronto, no qual afirmou categoricamente, ao magistrado da Lava-Jato, jamais ter orientado pagamento de propina. O depoimento de Odebrecht foi por escrito - ele entregou a Moro uma lista de perguntas e repostas preparadas por sua própria defesa e se recusou a responder o interrogatório.
Odebrecht havia sido preso quatro meses antes, em 19 de junho. Quatro meses depois da audiência, em fevereiro de 2016, a Odebrecht e seu líder sofreram um golpe inesperado: a prisão de Maria Lucia Tavares, secretária do emblemático Setor de Operações Estruturadas, o famoso "Departamento de Propinas" do Grupo.
Maria Lucia entregou à Lava-Jato os segredos do setor e os caminhos da propina paga a políticos e agentes públicos. Começava aí a ruir a versão inicial de Marcelo Odebrecht. Em dezembro de 2016, o empreiteiro e outros 76 executivos da Odebrecht fecharam acordo de delação premiada por meio do qual todos confessam uma longa rotina de pagamentos ilícitos.
;Acusação injusta;
No documento que entregou ao juiz federal Sérgio Moro, o empreiteiro apresentou uma sequência de 60 perguntas a ele próprio, escolhidas seletivamente por seus advogados. A estratégia era evitar questionamentos do juiz Moro.
A pergunta 32 era relativa à corrupção. "32. O senhor já efetuou pagamentos de propina ou orientou que fossem feitos pagamentos de propina? O senhor tem conhecimento de pagamento de propina pela Odebrecht?"
"Resposta de Marcelo Odebrecht: Não e não. Jamais orientaria esse tipo de conduta ilegal. Esta acusação é profundamente injusta. Aliás, isso também está comprovado nos autos, que não apontam nenhuma conduta minha nesse sentido."