Agência Estado
postado em 16/04/2017 19:09
O ex-governador Sérgio Cabral (PMDB) negociou com a Odebrecht mais de R$ 20 milhões, via caixa dois, para a campanha à reeleição do atual governador do Rio, Luiz Fernando Pezão (PMDB), em 2014, afirmou o ex-executivo da empreiteira Benedicto Barbosa no acordo de delação premiada com a Procuradoria-Geral da República (PGR). Conforme Barbosa, o montante faz parte do total de R$ 120 milhões que a empresa teria repassado ilegalmente a Cabral e Pezão desde 2006.
Dos R$ 26 milhões destinados ao atual governador, o ex-executivo disse que a Odebrecht repassou R$ 20,3 milhões diretamente à campanha de Pezão. Outro 1 milhão de euros teria sido pago ao marqueteiro de Pezão, Renato Pereira, a pedido de Cabral. Segundo Barbosa, os recursos destinados a Pezão foram contabilizados, nas planilhas de controle do pagamento de propina da empresa, como referentes à cota de Cabral. "Foi pedido do doutor Cabral, porque o Pezão não sentou com a Odebrecht para pedir dinheiro", declarou.
Barbosa contou que os valores foram negociados no primeiro trimestre de 2014, sem precisar a data. Cabral foi governador do Rio entre janeiro de 2007 a 3 de abril de 2014, quando renunciou ao cargo. Com o ato, Pezão, então vice-governador, assumiu o comando do Estado. No mesmo ano, tentou reeleição e venceu a disputa no segundo turno com 55,8% dos votos válidos, derrotando o então senador e atual prefeito do Rio, Marcelo Crivella (PRB), que teve 44,2% dos votos.
O ex-executivo afirmou na delação que Cabral recebeu, ao todo, cerca de R$ 94 milhões da Odebrecht. Desse total, R$ 3 milhões foram doados, via caixa dois, à primeira campanha dele ao governo do Rio, em 2006. Os recursos teriam sido pedidos pelo próprio Cabral. Após ser eleito, Benedicto Barbosa disse que interlocutores do ex-governador o procuraram para pedir mais R$ 12 milhões para pagar despesas "em descoberto". Segundo o ex-executivo, o dinheiro foi pago mensalmente ao longo de 2007.
Barbosa afirma que os R$ 94 milhões pagos a Cabral foram retirados de contratos que a Odebrecht firmou com o governo do Rio para as seguintes obras: a reforma do estádio Maracanã e da estação de metrô em frente; obras da linha 4 do metrô do Rio, que liga a Zona Sul à Barra da Tijuca; o PAC das Favelas no Complexo do Alemão, na Zona Norte da capital fluminense; lote 1 do Arco Metropolitano; além de obras classificadas como "projetos menores".
Na delação, o ex-executivo contou que, logo após ser eleito pela primeira vez em 2006, Cabral afirmou que o "plano" do ex-governador era estabelecer um "parâmetro" de cobrar 5% de propina de todos os contratos no Estado. A Odebrecht, porém, não gostou do porcentual. "Falei, governador, como estou num volume adiantado, queria que a gente discutisse isso quando visse a qualidade dos negócios", afirmou Barbosa. Segundo ele, a empreiteira não fechou porcentual.
Em nota, Pezão disse que "nunca recebeu recursos ilícitos". Afirmou também que todas as doações para sua campanha de 2014 "foram feitas de acordo com a Justiça Eleitoral". A prestação de contas apresentada pelo governador ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE) não traz doações da Odebrecht. O Estado não conseguiu contato com o advogado de Cabral e com Renato Pereira, marqueteiro de Pezão.