Agência Estado
postado em 18/04/2017 19:39
Comandada por dois deputados que serão investigados após as delações da Odebrecht, a comissão da reforma política se reuniu nesta terça-feira (18/4) e, mesmo sob as críticas de alguns parlamentares, deu seguimento às discussões sobre mudanças nas regras do sistema político-eleitoral brasileiro.
Para o relator da comissão, deputado Vicente Cândido (PT-SP), não é "por causa de uma ou outra acusação" que o Congresso vai parar de tocar suas pautas. Ele e o presidente do colegiado, Lucio Vieira Lima (PMDB-BA), estão na lista dos políticos alvos de inquéritos no Supremo Tribunal Federal (STF).
Já a deputada Luiza Erundina (PSOL-SP) defendeu, durante a reunião do colegiado, que o Congresso atual não tem legitimidade para fazer uma reforma que poderá beneficiar diretamente os políticos implicados na Lava-Jato. "Nós estamos vivendo um momento de muita gravidade, fica até meio estranho que, ao mesmo tempo que a sociedade está perplexa acompanhando 24 horas por dia os depoimentos dos delatores da Lava-Jato, esta Casa volta-se para si mesma, ensimesmada, como se nada estivesse acontecendo em torno dela e continue tratando de mudanças, de reformas, que vão impactar a vida do País", disse.
Vicente Cândido rebateu as críticas da parlamentar. "Eu não acho que, por causa de uma ou outra acusação, que o Congresso Nacional tem que ficar esperando a banda passar. Acho que o momento de crise é o momento de acelerar e de fazer as reformas que estão aqui pendentes", defendeu.
O deputado afirmou não ter nenhum "constrangimento" em permanecer como relator da comissão mesmo após o ministro do STF Edson Fachin ter autorizado a abertura de inquérito contra ele e disse que seria uma "uma irresponsabilidade muito grande" deixar que as eleições do ano que vem ocorram sob as atuais regras. "Nós temos que mudar, e mudar sem medo, com ousadia", disse.
As mudanças nas regras eleitorais têm sido consideradas pelos parlamentares como a única forma de garantir a "sobrevivência" da classe política após a avalanche de revelações feitas pelos executivos e ex-funcionários da Odebrecht. No total, 39 deputados, 24 senadores e 8 ministros serão investigados sob a suspeita de terem recebido recursos ilícitos da empreiteira, seja via caixa 2 de campanha ou propina.
Vicente Cândido, por exemplo, foi acusado de receber R$ 50 mil durante a campanha para auxiliar na busca por financiamento para a construção do estádio do Corinthians. Já Lúcio Vieira Lima teria recebido R$ 1 milhão para ajudar a aprovar uma medida provisória no Congresso. Ambos negam as acusações.